"quando a mentira se justifica?
quando, em vez de ferir, alivia?
cada existência forma sua própria verdade
mas sempre em correspondência
com a verdade do outro
e cada mentira pode ser sua própria verdade
caso a proteja
a suprema veracidade do outro
que é a sua vida"
Carlos Fuentes - A Cadeira da Águia
.
quero que você entenda
quero que saiba
quero que se questione
até que ponto a separação
pode mais que a presença?
porque a ausência
nos inflama de paixão
até que enlouqueçamos?
e, pelo contrário,
até que ponto
as conveniências sociais nos obrigam
a abandonar a luz do amor
e perder-nos na noite
na insônia e no vício?
e. finalmente,
porque o ponto de equilíbrio
destes extremos da paixão
- a fome da presença, o vício do abandono -
acaba encontrando
uma maligna conformação
no esquecimento?
ou pior
na indiferença?
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de qualquer forma
alguma coisa em mim
talvez minha nostalgia do impossível
me impulsionou desde jovem ao risco
mas também a agudeza mental
à ambição a ser mais do que eu era
como se meu sangue
clamasse por uma herança
escondida
inevitável
sonhada como algo estranhamente luminoso
apenas um vislumbre
acontece
eu me formei na miséria de muitas perdas
morando em vários lugares sem distinção
na disciplina sequestrada à necessidade de sobreviver
na íntima convicção
de que um dia não apenas seria alguém
mas de que já era algo:
um poeta
um menino despojado de sua linguagem
algo
filho de letras dispostas ao acaso
filho do acaso
(cada acaso é um caso)
filho de algo
fidalgo
Textos adaptados do livro de Carlos Fuentes - A Cadeira de Águia
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