quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

dos anuários...

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"a poesia é um fruto que não podemos saciar, 
abismo da vontade doada à escuridão. 
mas o banho mórbido dos favos na garganta 
enche as águas do verão, serve o pão do mar."
Arturo Gamero
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foto by Lucas Zimmermann

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(a vida)
antes ela do que eu
a sangue frio
na neblina
água forte
o meu metal é alma
a tinta
poesia
que escorre calada
quase sempre
inacabada
termina sempre assim
como morte anunciada
mas o poeta não morreu
eu sei que ele tá vivo
convivo com meus vícios
tenho meus compromissos
enquanto ódio, não alimento
pelo menos tento
sem sorte
em direção ao norte
atalho
bússola
porre
passado
é cobre
o passado é uma obra
de dois gumes
o passado é uma obra
que te cobra
(se quiser)
quem se livra ou se perde
no passado se repete
todo passado se remete à culpa
ou confete
o passado é uma culpa
sem desculpa
atirada no ventilador
que te livra do que for
seja amor ou dor
não te impede de sonhar
não te impede de querer
não te impede de gozar
não te impede de viver
(a vida)

refrão:
permita o eco
de uma vida
permita o som
desafinado
viva errando
e aprendendo
a desafiar
qualquer passado

Julio Carvalho e Fernando Schubach
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anuário

não sei se rio
ou se janeiro
ou se fervo
em fevereiro
ou me jogo nas águas de março
desaguando em abril 
abrindo em maio
desmaios
nos enlaces de junho
sonho
vem julho e seus ignorados pára-raios
e as misérias e azares de agosto
porque em setembro chove a contra-gosto?
em vias de outubro quase em vermelho
nas vias de novembro quase dezembro
recomeçando em janeiro
o ano inteiro 

Julio Carvalho e Regina Sato
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os lobos da corte
devoram os bobos da corte
sem cortes
e sem censura
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"foram as tatuagens
foram elas que me tiraram a dançar"
Leonardo Chioda

a tatuagem
comê-la
vesti-la
tragá-la
invertê-la
possuí-la
sem dó

(o inverso da dor de tê-la)
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o prato vazio
colhe
serve
planta
fome
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para bom 
entendedor
meia poesia
(um haicai)
basta
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apanhar do amor jamais melhora o amor

(aumenta a dor)
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