sexta-feira, 31 de julho de 2009

dos corpos...

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dangerous liaisons

tarde ou cedo
creio ou credo
mão a dedo
meio ao tédio
sem remédio
lado a lado
medo a medo
corpo a corpo
acordo cedo

ileso
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segunda-feira, 27 de julho de 2009

dos antigos...

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road
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VELHA CASA
"River flows back to me".
Bomb The Bass

meu pai tinha dores que nunca iam para a cozinha
eram dores que só ficavam presas
dentro nos quartos da casa
feito moscas
voando em volta da cabeça dele e da minha mãe
minha mãe
por sua vez
teve dores de uma vez só
não teve nem tempo de guardar
o sabor dos gostos
e das coisas que eram feitas no fogão
- minha mãe morreu sem gosto de nada nos olhos
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terça-feira, 21 de julho de 2009

das moderações...

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existe
amor
moderato?
e a coisa intensa que dizem
que não existe mais?

onde as peles e as pernas e os pêlos se perderam?
eram coisas que
estavam sempre juntas
dentro das tramas dos tecidos
e das tramas dos corpos unidos
sobre a leveza cínica dos lençóis
que nem escondem nada
e a vergonha passa longe dos quartos e das camas
porque amar um outro corpo é coisa de além das portas
além dos portos e dos corpos
além dos saltos e terremotos e das outras
desgraças afins

quem dera um dia encontrar
esse amor de fora dos quartos
em mim
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das migrações...

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Video edit from www.hellovon.com
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onde andam esses pássaros
encarquilhados
perdidos no meio da mata
urbana
pássaros de amor vendido
que nunca foram atingidos
por flecha nenhuma de cupido
e ficam sem ar
sem lar
desamados
completamente carentes
dentro de corpos sem vida
e presos
porque as flechas não chegam
dentro
e os pobres pássaros
tristes
pelos seus corações
cativos

...esses pássaros sem olhos de amar
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segunda-feira, 20 de julho de 2009

das maldades...

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deep flow minimal
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“A Paulista não é o coração de São Paulo; é o ataque cardíaco”
http://pirex.com.br/

suspiros poéticos e maldades
das ruas da cidade
onde mais nada cabe
de tanto carro à venda e uma venda nos olhos
acompanha a violência
quem quer olha quem não quer
vende
o corpo a alma a mãe o padre
o que quer
nem o sagrado cabe mais dentro
e o que está dentro
vomita
vento

o resto é só uma questão de medo


na outra esquina
até mudar a cor do sinal

não pare:
corra

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domingo, 19 de julho de 2009

dos manuais...

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“É preciso aprender a caminhar com as dúvidas.”
Flávia Stefani
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MANUAL DO DESUMANO

inspirado COM MEUS BOTÕES
quero ver se isso aqui vinga e
aparece
se posso escrever em paz
essas histórias em segredo
de cuidados
de tudo o que se fala demais
e cansa
tem que ser um desabafo
uma não-conversa autorizada
um falar mesmo
falar até cansar

shoot the breeze

nomear todas as coisas que matam por dentro
imaginando que alguém ouve
- uns com boas intenções podem tentar
mas não adianta:
e até quem mais te ama
entende suas vontades até um ponto
depois é a cara de espanto
sem capacidade de entender um rosto
um olho
um algo posto de lado
no extremo oposto
do corpo
tão humanamente limitados
de um jeito ou de outro
só se importam mesmo
com suas páginas
e páginas de manuais
consultados que não decifram
zero

o remédio está nos poros:
nas mínimas pessoas próximas
que sabem do bom e do certo e
diminuem as dores
de dentro pra fora

enquanto tudo isso
em segredo
está sendo escrita outra página...
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terça-feira, 14 de julho de 2009

dos visíveis...

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mental leaps from Jörg Brönnimann on Vimeo.


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hiper-realidade:
quem disse que eu não posso
escrever tudo aqui
imediatamente
agora?

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olhos em gotas
e o gosto de olhar tanto
que olha sempre
repetido
pra onde vê
e bem entende que as coisas
não vistas
visíveis em outros lugares
estão tão distantes
escondidas
e atrás de tanta coisa junto
dos outros olhos confusos
em tanta luz e luz e luz
informação grau imagem foco
óculos e olhos falantes e lentes
- é quando tudo é muita coisa e só faz
lágrima
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das percepções...

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boysenhisbiscus
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dos fluxos
das flores
de água
a ocupação dos seios puros
os sentidos dos remos
muros nos outros barcos
insetos ocupando a beira do rio
o frio o frio
navegante
a pessoa percebe
em cada rua
o rumo de
um

dentro da pessoa
com as direções perdidas
há a poesia
em
vários
uns
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domingo, 12 de julho de 2009

das memórias...

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“Poeta, não roedor de unhas.”
Werner Aspenstrom

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intimidade:
a outra parte do corpo
que não fala

- você ainda roendo as unhas
pra esconder
a cara?

mordendo as palavras
e deixar escorrer as faltas
pelo tédio dos dias
devagar
devagar
devagar

(o coração-ampulheta
vazio)

é o receio de outros espólios
e dos restos das memórias
dos outros

procurando areia
dentro d’água
seco
.
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p.
s.
quero o frescor
das flores
novas
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sexta-feira, 10 de julho de 2009

das prescrições...

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prescribed
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cinco por dia:
quatro às onze da manhã
um às onze da noite

se não for diário
paro agora
o calendário
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das suaves..

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pessoas macias

olhar de longe
olhar as pessoas-agulha
pessoas-elementos-enfiados
artificialmente
em lugares
públicos

bocas costuradas
até que algum judas as separe
as pessoas-moscas
em volta alimentam
carne inveja medo tédio ódio
o vício dos restos que levam
até onde não podem mais ver
onde penetram
feito vudu o corpo
sente
tatuagem agulha sem cor
a queda arranha
o chão de costas
cede
a agulha
o inseto
o corpo

(salvem-se se me puderem)

a falta do beijo
dói
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quinta-feira, 9 de julho de 2009

dos falsos...

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false
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a pedra falsa
quebra a cara
o outro
não lapida
mais
nada

a sobra é tosca e bruta
atirada com a raiva
dos cães
na lama
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domingo, 5 de julho de 2009

dos riscos...

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dangerous mode
dangerous mode by Julio Carvalho
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a fala d+

quem tem cala a boca já
imunda de fala
suja língua
lava com sabão
a outra mão
esfrega no chão e suja
tudo de novo
a boca
seca agarra o outro lado da fala
desesperada
pra não ficar
muda
não se sabe nada do que já foi
dito
agora é tarde
e corre o riso

e sempre no fim
ninguém tem nada
com isso

sábado, 4 de julho de 2009

das observações...

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tower small
the tower by Julio Carvalho
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I
mode one
o que um poeta não faz por mim mesmo

II
a gente nasce bom
o mal já vem de longe
(bem antes da gente nascer)
e com o tempo gruda
junto
essa cola

me tirem daqui
agora

III
aqui
virtualmente
sou feito de
poesia
e outras blogagens

IV
o que acontece
é que não sou nada daquilo
que
me
(a)
parece