sexta-feira, 28 de agosto de 2015

dos fotopoemas...


















.......................................................


.................................................................


.................................................................

sopro é 
vento
pequeno



















.................................................................
.................................................................

..

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

dos desaforos...

.
"o ódio parece trabalhar 
nas mesmas glândulas que o amor:
chega até a produzir o mesmo tipo de ação."

Graham Greene - Fim de Caso

.


















.........................................................

se o amor é liquido
o humor é aquoso
.........................................................





















a mar imenso

olhar por dentro
olhar ao mar
de mar em mar

a
alma à vista

.........................................................

a
céu aberto
perdi minha identidade
por dor
medo
ou raiva
das coisas
do mundo

falsi_fiquei-me
desde então


se um anjo a encontrar
que me devolva
limpa
sem cicatrizes
só os anjos
verdadeiros
curam
as
identidades
falsas
.........................................................











.........................................................

desaforo

meu coração
por culpa de uns
virou pedra
pra ser atirado
na cara de outros
com a força
bruta
feito paixão
inversa
feito o revés
da razão
.........................................................


.........................................................

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

da permanência...

.
"A história, que vem a ser?
mera lembrança esgarçada
algo entre ser e não-ser:
noite névoa nuvem nada.
Entre as palavras que a gravam
e os desacertos dos homens
tudo o que há no mundo some:
Babilônia Tebas Acra.
Que o mais impecável verso
breve afunda feito o resto
(embora mais lentamente
que o bronze, porque mais leve)
sabe o poeta e não o ignora
ao querê-lo eterno agora."

História - Antônio Cícero
.



































crescer
é se postar
em círculos
crescer
é apostar
em círculos
...............................................................

folha
obsoleta alma
olha
antes de cair
entenda a noite
e que
o dia tem luz
de novo
...............................................................

desaconselha-se
abrir a porta de bom grado
trocar o sapato
furado
andar de costas sem aviso
não dar sinal quando
em perigo
desaconselha-se
amar adoidado
como se fosse o último
dos seus dias
mas o que é um conselho
senão algo já muito usado?
desaconselha-se
uso outro conselho
novo
e ousado
...............................................................
























permanência
substantivo feminino
1.
ato de permanecer.
"sua p. na prisão afetou-lhe a mente"
2.
estado, condição ou qualidade de permanente; constância, continuidade, firmeza.
"a p. prolongada de uma doença"

permanência:
jeito de estar
inconstante
...............................................................



































laboratório de poucos
existem alguns medos
sem noção
do tempo 
perceber os dias
acordando
com as mesmas vozes
e os tons
de cinza
do asfalto
e as pessoas se encontrando
na dificuldade de suas rotas
evitando colisões
a céu aberto
se não fosse isso
seriam pássaros
voando em bandos
com suas
asas vermelhas e casacos de vime
então
vinde a mim a poesia em pedaços de carvão
porque dizer incêndio 
é a forma quente da palavra
único jeito de ser asfalto
aquecer o chão
e estabelecer
um poema
nada se faz 
a frio
nem um coração
...............................................................












‪#‎novosfavores‬
faça -me o selfie favor...
..

terça-feira, 25 de agosto de 2015

das extravagâncias...

.
dentro da palavra poETa tem um ET
.
eternal


























sozinho
numa multidão
de sozinhos?
basta andar de metrô
ou caminhar
em uma avenida
qualquer
e acontece a sensação
do mundo que me precede
o fato é que eu não saberia
de muita gente
em redes
que se fazem laços
distantes mentais
com gosto estético
e musical
semelhante ao meu
me faz pensar não ser único
e ter tudo
e acessar coisas que nunca
saberia
aqui perto
aí é onde as coisas se encontram
a informação e a liberdade
de escolher num lugar seguro
porque
online ninguém sofre
estamos entre laços
e redes
cada um com seu vínculo
típico
não se fazem fronteiras
em ambos
se fazem laços humanos
se desfazem redes de enganos
existem vantagens
e de qualquer forma
real ou não
existe sempre o encontro
mesmo que por um breve
instante

........................................................


apaixonado por dentro
acontecendo
avalanches
com 
um peso
e várias
angústias

















........................................................

os dias inscritos
circunscritos
nós
aguardando
as transformações
do acontecendo

........................................................

















a carne é fraca
fraca & fraca
em todos os livros
e depoimentos
escusos
a carne é atravessada
ou pelo crime na pele
ou pelo crime na alma
a carne recoberta de pele extravagante
cheia de ideias férteis
e exigências
envolta em mares
como esses lençóis
amassados
feito onda

.......

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

das respostas...

.
"Há um tempo para
desarmar os presságios
há um tempo para
desamar os frutos
há um tempo para
desviver
o tempo."

Do Eclesiastes - Orides Fontela
.




























saliva
para molhar
a palavra
(na boca)
e cuspir
espasmos
(em jatos)
de verbos
raivosos
antes que
outras
vozes
(malditas vozes)
sequem
as
respostas
imediatas
.....................................................................

anuncie aqui
até onde cheguei
demasiado cedo
essa dor leviana
na cara do estômago
de agudezas
acústicas
sem saber
o resultado
se é a resposta
dos vazamentos
rudes
de condições
passadas
língua estressada
expressão
aguda
perceba a palavra
sem sinal de realezas
simples
como se dono
de uma luz
sem limites
humor sólido
dívida líquida
ou gasosa
essa palavra
anuncia
isso ou osso
sem premonição
sem margem
silêncio
sinuoso
onde a vida
pode dar 
a volta
.

domingo, 23 de agosto de 2015

dos arcos...

.
"Hay palabras que no decimos
y que ponemos sin decirlas en las cosas.
Y las cosas las guardan,
y un día nos contestan con ellas
y nos salvan el mundo,
como un amor secreto
en cuyos dos extremos
hay una sola entrada.
¿No habrá alguna palabra
de esas que no decimos
que hayamos colocado
sin querer en la nada? "

Roberto Juarroz
.

































arco do tesouro

a linha de pesca termina ali
onde todo o senso de razão acaba
e começa um processo
de emoção
nunca fui bom em pescaria
naquela que se refere à conquista
não são dadas iscas
aos peixes pequenos nem aos que pouco
entendem de sentimento
ainda menos
aos que não entendem
de poesia
ainda menos aos que não entendem de gestos
ainda menos aos que não preservam
memórias ou que não entendam de café
ou de um bom vinho
ou alguns filmes sensivelmente raros
ou não saibam
que um presente não é um objeto
e sim uma palavra
na hora certa
existem os exageros dos alvos 

e as faltas de quem lança
mas a isca insiste
a flecha sempre sai do arco
e nesse meio tempo
a corda
bamba
.

sábado, 22 de agosto de 2015

dos movimentos...

.
"a espera machuca minha alma."
Chowder
.























"Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol"
Arthur Rimbaud

aqui cabe um poema de amor?
aqui cabe a pele de ontem
os cheiros e as falas
os beijos e as bocas
explícitas em lugares excusos
dos poemas de amor?
aqui cabe mais um outro dia 
para saciar vontades 
e sedes de gozo e a pleno 
vapor entenderem-se os hálitos
os hábitos de rima e descaso dos poemas de amor?
ou foi só mesmo um dia
e o resto se vira na melancolia
da falta de assunto
dos poemas de amor?
até onde se sabe tudo vira uma espera 
espera que desgasta até uma alma severa
que não se contenta 
com uma história comum
e em tudo pensa e transgride
a vida que pede 
que tudo que mude
que os lugares
e as sedes e os rios e os mares
mudem de lugares
sempre aos olhos 
aos milhares 
esperando outro
poema abstrato
feito entre corpos 
precisados de amor?
........................................................
























tento 
ver
rever
pra ver
se cabe
em
mim
........................................................

faço terapia para aprender a lidar com as pessoas que deveriam estar fazendo terapia
........................................................

sílaba falsa
não falada
fadada
a estar num poema
e não valer
nada
palavra falsa
não guardada
fadada 
a estar no instante
e não valer
nada
........................................................

sou carvalho
de madeira forte 
e carpintaria 
impossível
........................................................

o vazio
é o que
não 
faz
falta?
........................................................

coisas
complexifíceis...
........................................................

fetiche
fantasia 
sonho
poesia
superando 
abandono
........................................................

o acaso vive programado
para acontecer
depois do meio dia
o acaso carrega teoremas
ausentes nos encontros dos
amantes
e nos taxímetros
roda quando quer
e cobra o tempo
passado
........................................................



o que me salta aos olhos
me sai 
da
alma





........................................................


eu vivo
em estado
des
graça 
sem 
graça nenhuma 
eu não vivo
sem esse estado
de estar sitiado
pela poesia
esse verme
danado
que da alma
quase inteira toma conta
não avisa
só apronta
e me deixa 
atrapalhado
e tem esse asfalto 
por dentro
esse piche agarrado
a cor é negra
olhando bem
mas de perto
é iluminado
........................................................













continuo todos os dias o meu protesto maior: 
existir com um certo silêncio 
essa é a minha resposta
existe uma sabedoria no prazer e na angústia 
que pode nos revelar os caminhos 
para sair de algum momento dilemático
mas isso é algo sutil
toda raiva, em sua irracionalidade
revela este estado de coisas onde nada é transparente 
e o que realmente importa continua 
em um confortável segundo plano - em silêncio.
...





terça-feira, 18 de agosto de 2015

dos lirismos...

.
"Tem um tipo de amor que é afeito ao parque de diversões. 
Gosta de rompimentos que gerem confrontações e é um tanto egoísta: 
não tolera esse negócio de “dê asas e alcance a liberdade”! 
Quem declama o amor livre não conhece a sua carnificina. 
Não sabe que esse tipo de amor é barroco e gosta de brincar de claro-escuro, 
gosta de repetições e de engrenagens: Ele é autômato.
Amor também é quase uma sentença, se escrito em língua latina. 
Amor inglês é bonitinho, feito de coraçãozinho recortado com tesoura de picotar. 
O amor latino é assassino: mata ego e superego dos desavisados. 
Planta saudade antes do tempo. 
E olha que não se dá ao desfrute da rega e da adubação: 
a plantação é a seco e a colheita a unha.
Amor de criancinha é egocêntrico. 
É uma escrivaninha com inscrições feitas com objetos cortantes. 
A garatuja e o garrancho, o primeiro palavrão e o primeiro beijo, 
o chifre e a auréola ficam registrados. 
Gravado com um sabre o amor da criancinha 
é uma gracinha aos olhos das corujas.
Amor bom é o amor que não precisa de trocados. 
Está no beijo da mãe, no recado do pai: Não chegue tarde! 
Também está no trapézio onde se finge voar, está no ar, talvez, 
quando olhamos pra cima. Está no respirar fumaça e no tragar carvão. 
O amor está no pão repartido e na rima mal feita das cartas mal escritas. 
O amor bom está, geralmente, na desnecessidade do eu te amo 
para fazer-se entender.
O amor é um tigre. É silencioso, faminto, belo e selvagem. 
Nos possibilita criar imagens fantásticas e sucumbir ao lúdico pensando-se lúcido.
Dizem que nos dá asas, inclusive aos que sofrem de acrofobia. 
O problema é que a maioria sofre. Talvez por isso sejamos bípedes.
O amor é misericórdia. É um sol radiante de setembro no hemisfério norte. 
Por este aspecto é um corte na precisão da filosofia que dele nada explica, 
apenas o impõe outros conceitos e termos extraordinários que lhe subjugam a conjecturas.
Amor é o primeiro olhar, a primeira poesia. 
Gosta de brincar de dar susto. É o despertar. 
É encontrar a palavra-chave, e ter a porta. 
O amor é uma porta feita de quadro-negro, e sem apagador. 
Por trás das marcas lantejoulas, fica sempre a complexão de entender 
que ele faz fronteira com a dor num campo minado: 
aos desavisados Cuidado; aos impetuosos Respeito. 
O amor é o que ultrapassa. 
Por isso é necessário correr."

A vida secreta das palavras: o amor - Marinaldo de Silva e Silva
.
conhece-te a ti mesmo










































#‎ira‬
saldo lírico 
e força bruta
..............................................................

o acaso vive programado 
para acontecer 
depois do meio dia
o acaso carrega teoremas 
ausentes nos encontros dos
amantes 
e nos taxímetros 
roda quando quer 
e cobra o tempo
passado
..............................................................

a paixão 
é um estado
de sítio
o acaso vive
pregando peças
na paixão
em estado
de sítio
..............................................................

prefiro o mistério 
do barco ao mar
do que qualquer âncora
presa 
no 
cais
..............................................................

tem fornalha
aqui dentro
e pra quem não entende
deixo só faísca
nem gume de faca
nem nada que corta
o que fica
sempre detrás da porta
é a poesia 
 essa pobre angústia escondida
em cada coisa da vida
que se carrega do nada
aprender
com os outros 
a desistência
enquanto aqui dentro
a resistência
atravessa
que nem bala
..............................................................


até que ponto 
você admite
metáforas 
do resto de um corpo 
aceno longínquo 
da memória?
..............................................................


sem legenda

gente que vive 
a vida 
gravada 
e dublada
..............................................................

e mais uma vez entre as coisas me sinto obrigado a pegar todos os coices sem dar rebote
o coração virado em bichos
os aplausos virados pelo avesso
quanto tempo falta
para eu não esperar 
mais nada?
quantas palavras
a gente tem que dizer
até que entendam 
que a gente não quer falar
mais nada?
quem é que
sabe?
quem é que 
salve?
..............................................................

e que não se faça 
mais
nenhuma ideia errada
da textura grosseira
dessas linhas
do rasgo de qualquer poema
que a palavra 
insinua
..............................................................

o desejo faz
um caminho de teias 
sobre a pele 
ainda quente
..............................................................

os poemas se dão 
sem que eu os busque 
é dado lê-los
..............................................................

Raul Arruda Filho





































..............................................................

queria ser paisagem
momento
essa avenida
cheia de carros 
em movimento
sabe-se lá para onde cada um vai
queria a inocência 
sem descanso
dos faróis 
brincar na faixa
de segurança 
e construir 
moinhos
de silêncios
esfregados
na cara dos outros
..............................................................

pra gente 
que quase
não vê 
o corpo não conta muito
a gente o possui
e transporta
..............................................................

pelas ruas
vejo gente que
anda
como se tivesse
cauda
..............................................................

exorcizo meu desgosto 
nessa calmaria
tumultuo
agarro a força 
e corto
com faca
como se
tirando migalha
de pão
depois escrevo
sobre a cicatriz 
o relatório 
parcial
do treinamento 
dos 
assassinos
..............................................................

pensavento
é quando eu penso
e some
..............................................................

cansado de esperar 
o verão 
virei inverno
..............................................................

quem está junto
e não se encontra 
está só
..............................................................

corpo vazio
desencano
e
passo o ponto
..............................................................

palavra
tem gosto 
de nada

(depende de onde vem)
..............................................................

olho azul
nasce jade
serei breve
com as coisas
que não são minhas 
debaixo da pele
encontro 
poesia
desvio os olhos
feito mentira
passei essas coisas
em silêncio 
olho adiante
antes que 
tropece
na luz
do sinal
vermelho
..............................................................

o problema
não é o que é 
notícia 
mas o que deixa 
de ser
..............................................................

no ponto final
o poema acaba
e sua porta
fecha
fim
..............................................................

PLAY

























.