terça-feira, 28 de junho de 2011

das satisfações...

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"o sexo contém tudo:
corpos, almas,sentidos, provas, purezas, delicadezas,
resultados, avisos, cantos, ordens, o mistério materno, o leite seminal,
todas as esperanças, todos os benefícios,todas as dádivas, paixões,
amores, encantos, gozos da terra, todos os deuses, juízes, governos,
pessoas no mundo e seus seguidores.
tudo está contido no sexo como parte dele ou como sua razão de ser."

Walt Whitman
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corpore
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o homem batalha
entre a roda e o trânsito
e no medo da rua
encara um faixa preta
de segurança
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emotional
reaction


olho por olho
olho no olho
dar-te por dar-te
dente por dente
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antediluvianos
diluímo-nos
aleatóriamente
segurando
coisas
que quebram
como
corações
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o hoje são toneladas
o passado retorna com pés suaves
o futuro vem sem peso nem medida
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das preferências...

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"Prefiro o cinema.
Prefiro os gatos.
Prefiro os carvalhos nas margens de um rio.
Prefiro Dickens a Dostoievski.
Prefiro gostar das pessoas
em vez de amar a humanidade.
Prefiro para uma emergência ter agulha e linhas.
Prefiro a cor verde.
Prefiro não afirmar
que a razão é a culpada de tudo.
Prefiro as exceções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro falar de outras coisas com os médicos.
Prefiro as velhas ilustrações listradas.
Prefiro o ridículo de escrever poemas
ao ridículo de não os escrever.
Prefiro no amor os pequenos aniversários
para festejar todos os dias.
Prefiro os moralistas que nada me prometem.
Prefiro uma bondade algo prudente
a outra confiante em demasia.
Prefiro a terra à civil.
Prefiro os países conquistados
aos conquistadores.
Prefiro guardar as minhas reservas.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro as fábulas de Grimm às primeiras páginas dos jornais.
Prefiro folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro os cães sem a cauda cortada.
Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros.
Prefiro gavetas.
Prefiro muitas coisas que não menciono aqui
a outras também aqui não mencionadas.
Prefiro os zeros soltos
aos dispostos em fila para os números.
Prefiro o tempo de insetos ao de estrelas.
Prefiro fazer figas com os dedos.
Prefiro não perguntar se ainda demora e quando é.
Prefiro tomar em consideração a própria possibilidade
de ter a existência o seu sentido."


Possibilidades - Wislawa Szymborska (tradução de Ana Cristina César)
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líquido e certo

a água que preciso
carece de enorme toalha
tamanha inundação

é tanta água
que a fonte nem seque
a vontade desmanche
o corpo se afogue
de tanta vontade
de tudo

o mar precisa de vontades
das mais simples
aquelas
criadas
à toa

meu desejo são
as tempestades
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domingo, 19 de junho de 2011

das punições...

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"- a vida, meu amigo, não é mais
do que um simples violão:
há cordas..."

Julio Carvalho
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purgatório
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tenho nada a dizer entre poucas paredes

a língua afiada contém algum tipo de risco
preciso
traçar um corte profundo até tirar o
sangue das palavras
quero abertas as cicatrizes
para algum sentido da lâmina
quero a imortalidade da faca
do lado oposto da pele
o quase outro a céu aberto
- é isso
quero o quase do abismo próximo:
o que não mora na iminência
não me interessa muito mais
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sábado, 11 de junho de 2011

das origens...

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"O mineiro é indeciso e inquieto, como as nuvens
em que as suas montanhas se continuam e as ondas
em que as suas campinas se prolongam.
Esconde a alma dentro dos morros e intenções feito pedraria.
Todo mineiro é sua própria mina."

Julio Carvalho
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hot scarecrow
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ácido

não tenho segredos
tenho limites
tenho presas e linhas agudas
feito aço atravessado peito
tenho coragens e venho
entendo a vertigem como aviso
não caio
nem sobrecarrego
sobretudo
antes de morto
podem me achar por aí
(suici)
dando-me
para
alguém
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quinta-feira, 9 de junho de 2011

dos repousos...

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"nos olhos
de muitos vejo
uma descrença
total acerca do
que quero.

nos olhos
de poucos vejo
uma crença meio
inexplicável de
que posso.

ainda bem
que não tenho
mais pressa,
ainda bem
que sempre fui
de poucos."

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lição de casa isadora krieger
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flying glasses
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I

roupa de cama

o lado em que durmo
é o meu limite do corpo
atento os meus ouvidos
mais à coisas que a gentes
para pegar nos sonhos

no travesseiro
só morre
meu sono
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II

personagem
ator doei-me
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segunda-feira, 6 de junho de 2011

das coragens...

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espelhomeu
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acreditar em quê?

olhar para o lado errado
fazer-um-de-conta que não existe
entender que cada passo é um acidente
não vivo para desacreditar de nada
por dentro existe alguma coragem
de ainda acreditar em um pouco de tudo
acreditar mesmo que for o mínimo do outro
mesmo que custe caro e a minha cara
se arrebente na próxima parada
não tento ser diferente até onde o sentimento consegue
esperar nada de ninguém é esvaziar o coração
é o nulo dos outros e das vontades
é o fim do mundo sensível
é criar um muro
invisível
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quero encontrar máscaras para sobreviver
porque ainda existem máscaras válidas

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ainda quero o amor em todas as suas idas e vidas
que seja pelo amor a minha coragem de acreditar
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sexta-feira, 3 de junho de 2011

das inseguranças...

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“puesto que estamos prevenidos
podemos aguardar pacientemente
ya sabemos a qué atenernos
no tenemos por qué inquietarnos
sólo hay que esperar
estamos acostumbrados”

Esperando a Godot
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inverse center
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emoções sintéticas

capta-se a radioatividade
nos sinais fechados

gente
por aparecer nas ruas
e parecer geométrico
cruzando na faixa
sua insegurança

in-se-gu-ran-ça

causa multa
e perda de pontos
de humanidade

caminhar
exige audácia

então tente entender a técnica:
cálculos e sinais ......................... (não são)
para qualquer pedestre
desavisado
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quarta-feira, 1 de junho de 2011

das questões...

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"Quando o medo me alcança,
quando o frio me queima,
te procuro, palavras.

Contigo, nunca estar perdido.
Contigo, sempre protegido.

Longe de ser um mestre,
longe de ser um aprendiz, que seja,
sou eu, só eu. Mim.

Para alguma coisa eu fui feito, Deus queira para ti, palavras.
Mesmo que só eu reconheça.
Mesmo que só eu te conheça,
tábua de minha salvação, primeiras impressões.

Quando me perco nos homens,
quando me assusto nos dias,
te procuro, poesia.

Contigo, seguro, adormecido.
Contigo, de tudo, entorpecido.

Longe de ser um ourives,
longe de ser um lenhador, que seja,
sou eu, só eu. Mesmo.

E de você, faço o trabalho do meu coração.
Eternamente grato."


SP 05/11/00
Jean Boëchat

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red questions
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#tags

um esforço imenso para ser ameno

procuro respostas para perguntas sem casca

desvio:
faz-se adivinhações

odeio papo-frustrado
a pessoa faz, fala e não dá em nada

o caminho sempre chegando e repartindo

um olhar umbigo e um falar ambíguo

os nascimento:
nasci com esse sobrenome tão difícil de carregar
e tem dias que nem consigo nascer

o pôr-do-sol em São Paulo é um soluço: passa num susto

eu muito sensível com o pé junto do coração, aos atropelos

hoje um poeta na porta dos versos
gira a palavra na fechadura:
abre um poema

frio cruel que lembra solidão

não importa a demora desde que aconteça

amor: há quem aumente
sua lente

mascar rancor
desfazer amor
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