terça-feira, 13 de setembro de 2016

dos formatos...

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"rostos particulares em lugares públicos
é coisa mais gentil e mais sensata
do que, em lugares particulares,
rostos públicos."

W. H. Auden
.
Intervenção dobre trabalho de Adriano M. Franchini


































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- estou cheio de você
- então esvazie-se

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poeta é aquele
que sabe como ninguém
transformar
o seu pessimismo
a sua decepção
qualquer desilusão
o seu sentimento
extremado
de impureza
em imperecível
poesia


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não adianta
todo mundo tem
um segundo sexo
escondido
debaixo
da
cama

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tenho tantos
complexos
que não tenho tempo
para
simplicidades


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astronautas
em
um
parque de diversões
mas a brincadeira
é do
universo
que gira


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meu sonho
é ar
mas caio
quando acordo
chão


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olho e vejo
sua saciedade
vigorosa
e sã
invejo
pois minha idade
não me permite mais
tais percalços
tento a distância
mas seu corpo
é uma liga
tão forte
de suor e sexo
que não
desato
então
caio sobre
as palavras
ali
mesmo:
pensando
na cama
viro
poema


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terça
feira
cortam-se
em
pedaços
minhas
meias
verdades


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alguns
coloridos
contém
saudades


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todos os fumantes
tem a alma
presa na boca
senão de onde sairia
tanta
fumaça?


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vivemos
claro
para aprender a tolice disso
até o dia que sobrevivermos
diga-veja
você
mesmo
nós com chance
de ser homem-lama
convictos e alheios
figurar em nossos olhos
para os olhos do mundo
até que um corte
nos
separe
e tudo o que creio
lá ter ocorrido
(na vida)
seja uma visão
(falha do mundo)


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poderíamos correr
pelo buraco de uma agulha
se não fossemos
tão
sós


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e me irrito
que que minha fé
não repouse
e oscile muito
no escuro
ou na luz do dia
qual poesia ou liberdade
qual?
inclinando-se do nada
comi o dia
mais outro
deliberadamente
para que eu trave
me transformasse
todo em verbo
puro verbo
ver


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e ainda sou inteiramente
humano
mesmo com a agonia
na cidade o processo
da erosão
dos
outros
vivos
o tiro
de dentro
a explosão vazia
o ato gerou revolta interna
que se aferra
a uma unilateral posição calada
unicamente
minha
o coração é um céu de guerra
as batidas
todos os dias
reunindo forças
contra os parasitas
de punho fechado
eu vejo por todo lado
um braço erguido
pelo meu curto olhar
percebo
que estão levantados
braços
contra mim e tantos
através das águas
(e onde muitos
são enganados
pela correnteza)
tratados que os salvem
de todos os
ferimentos
e distendidos os corpos
em carne viva
a minha
em sulco
salta
os
dias

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não sei se vou durar muito
não sei se vou virar osso
só sei que enquanto eu durar
serei um osso duro
de
roer

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temperamento
musical
animal

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ergo teoria

o que eu faço
senão ser eu
acordar todo dia eu
vestir eu
molhar eu
pensar eu
deitar eu
escovar
lavar
limpar
doer
eu
sem nenhum
alguém
eu
do
outro?

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a vida
é um pó
com
pacto

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dívidas
do
amor
tenho minhas
dúvidas
mais
que
dividas
comigo
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estou bem
re(distribuí)do
(destrui)
do
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#print

"ninguém pode querer
saber de tudo
e ficar no anonimato"


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o que houve
com você
não se houve
comigo
então
não se ouve
mais
nada

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quando é viagem astral
a gente manda cartão postal?

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pela noite
uma boa viagem
sono
hora

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c torce
c morre
c acaba
c
o
ser


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#dialogos

poestrias
que para desatar nós
só anos luz apagados
de
paciência
com ciência tem que
ter
paciência
inconsciência tem que
ter
consistência
anos luz de sinapses apagadas
desalinhadas
e mal educadas
o corpo seria
um monte de não
vimentos
paralelepípedos
com
antes
tri
dentes
que
mono
facas
ou denta
dura sua vida
de pedra
nas encochadas
riquezas da gramática
e das conjugações
eu acho tudo muito
orgasmizado
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
rgasmor
te
certa
é não
gozar


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tudo culpa de um avc
atitude
visual
crítica

que deveria ser
um

amo
você
comigo


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osso-cara:
um esqueleto
nos velhos cárceres
da língua:
palavrões
osso branco achado
na passagem de um corpo
a rude
porosa
linguagem do toque
sem desculpas
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amnesial

do fundo da memória
para atirá-la como pedra
e seguir-lhe a queda
em campos estranhos
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definitivo

e eis aqui o amor
como concha de um estranho
fincada além do brilho
da areia
em uma praia
deserta

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em mim
uma ausência
ensolarada
um estrangeiro
sem direção
atordoado
tenho atravessado
fronteiras demais
dentro na minha
insanidade
às vezes acho
que o que me
arrebenta mais
são
os ocos
dos
outros
então eu cuspo
as palavras
antes de
enlouquecer
de
vez

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quero afogar
um dia
o amor
com ternura
até
esquecer
todos
que nunca
souberam
me amar
fora
d'água

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existe sempre alguém
ao lado de algum poste de luz
esconde-se o poste
no oco do chão
na familiar escuta
até
como de costume
circularem seu nome
pelas ruas
a gente escuta
o nome
tocar os degraus
quando se acercam a
chamá-lo para fora:
boca e orelha miúdas
na fenda do cimento
lóbulo e laringe
dos lugares
úmidos
o nome
preso
na terra

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faço parte
das
coexistências
complexas
daquelas
pessoas
que contém
palavras
mais que
a quantidade
de amores
pelo
mundo
afora


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aperfeiçoarei o amor para você
menino
como o barro
tirado do chão
moldado
te farei
parte do meu círculo
entre quatro paredes
um anel
dentro de novos limites agora
te libero
raivoso
amoroso
inteiro

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arianos são de marte
cujo elemento é o fogo
eu me queimo até por fora
quando vejo
já é
incêndio

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quando ouço
acabou o silêncio
quando calo
a vida me dá voltas
e nos tombos
me ralo
aprendo
cedo
cego
calado
pálido
feito
osso

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desapego
do mar
morto
um marujo
solto:
o ancoradouro de aço ulcerava o coração
na beira do mar
o ano todo
verde e algas
lá ficavam
dobradas
com o peso das arcas
dia a dia sufocava
o seu tesouro
sob um sol
punitivo

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há de se sonhar sob o som
com todo pulso e coração

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o que me interessa
é amar
amar com intensidade
invariavelmente

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queria um lugar comum
com cheiro de coisa nova
um leito de rio
cheio de folhas
quase
e gente a escutar
um rio nas árvores
entre os dedos
pousando
devagar entre as unhas
uma lembrança
boa, que seja
estrelas petrificam
criando
diamantes
nas águas dos rios
velhos remos e porteiras
ao longo dos anos
endurecem veios
os fundos desses rios
confinam aparições
de seiva e razão
e os dias passam
fazendo
barulho

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dias ruins
de in
versos
afins

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projesia coletiva continuada infinita
que não
houve


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das capitanias
hereditárias
das leis da ansiedade
retiraram os traços
do que se pede
pé de vento
pé de meia
pé de moleque
tudo virou urgente:
pede vento
pede meia
pede moleque
e o que recebe?
nada!

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tantas
coisas
mortas
dentro de mim
impossível
um só velório
impossível
velar
com uma só
vela
teria
de
ser
um farol

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"e como não tínhamos mais nada que tirar
botamos a alma pra fora"

Juliana Bernardo

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sou um homem comum
feito sob medida
com uma caixa enorme
de escolhas
que diminuem com a
idade
e quanto ao meu tamanho
respondo rápido:
estatura mediana
olhos de cor escura
de meia lua
meia estação
meia luz

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estar
testar
na borda
do
som
hermeticamente
aberto

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"viver até os 30 está ótimo.
depois disso
é só desilusão mesmo!"

Guillermo Calderón em DEZEMBRO

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sonhei com um oceano
sobre as águas
calmaria
e o medo
algum
do
infinito

"A água é o símbolo atual mais inconsciente".
"A partir de um ponto de vista psicológico,
a água é o espírito que ficou inconsciente".
"Quem olha para o espelho de água vê em primeiro lugar,
na verdade, a sua imagem.
Quem vai para si próprio arrisca uma reunião com ele mesmo. [...]
É no mundo a água que está suspensa, flutuante, cada vida. [...]
A alma de tudo o que é vivo, onde está inseparavelmente isto e aquilo,
onde eu experimento em mim o outro e o outro me experimenta."
(CG Jung)



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muitas vezes
talvez
o medo
seja o motor
da minha poesia
medo do tempo acabar
e eu não me escrever
todo
de qualquer modo
está em meu coração:
o medo
são os relógios
sem
palavras

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explicar aos
ponteiros
o verdadeiro
significado
das
horas

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muitas vezes
talvez
o medo
seja o motor
da minha poesia
medo do tempo acabar
e eu não me escrever
todo
de qualquer modo
está em meu coração:
o medo
são os relógios
sem
palavras


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formas poéticas






























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