terça-feira, 30 de junho de 2015

das incorporações...

.
"falo
para adentrar
o possível
escrevo 
para adentrar
o impossível"

Julio Carvalho e Felipe Stefani
.





































o corpo existe
e pode ser pego
pode ser preso
e mesmo preso
pode ficar solto por dentro
é suficientemente opaco
para que se possa vê-lo
é algumas vezes insuficiente
para que se possa tê-lo
se ficar olhando anos
você pode ver crescer o cabelo
ou sua cor branca
como exemplo
que tem a mesma cor do tempo
o corpo existe porque foi feito
e pode ser desfeito
quando enterrado
por isso tem um buraco no meio
e outros buracos alheios
de sexo e prazeres espalhados
o corpo existe
dado que exala cheiro
mesmo que lindo
até perfumado
e em cada extremidade existe um dedo
que pode vir ou não
acompanhado de um medo
de se ferir ou ser machucado
o corpo se cortado
espirra um líquido vermelho
algumas vezes limpo
outros
contaminado
o corpo tem alguém como recheio
e uma alma
como exemplo
caso seja
incomodado

Arnaldo & Julio
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sob a luz azul
mandar as pessoas
pro céu
ou pro inferno
inferno inferno
não sou maluco
às vezes eu não sei
eu não sei
o que eu deveria fazer?
as pessoas sempre sabem
exatamente
o que dizer
eu não sei
eu não sei
eu tinha controle
todo mundo pode sentar
te olhar e dizer
o que é verdade
loucura
besteira
me digam se sou alguém
que não sabe se encaixar
podem me dizer tudo isso
tudo bem
ótimo 
ótimo
mas eu tinha controle
eu acordava todo dia e fazia alguma coisa
eu fazia algo
eu nunca tirei folga
desde que descobri que escrevia
eu parava quando estava doente
eu nem pedia desculpas
mas escrevia
e me perguntava o porque
da vida às vezes ser injusta
e de alguma forma encontrei o meu lugar
escrevendo
e vejo tantas pessoas que só estão
perdendo tempo
escrevendo
nada
isso é loucura
isso é loucura
eles estão
eles são
coisas acontecem
acontecem e podem ser ruins
podem ser pior que ruins
podem destruir você
se você deixar
mesmo se você reconhecê-las
elas podem destruir você
então eu tento assumir o controle
e fazer as regras
e tento segui-las
rigorosamente
e eu
e eu achei que fazendo isso
nada me machucaria
como
como a vida fez com minha mãe
ou como algumas coisas que me contaminam
fazem
parece loucura?
parece?
sei que parece
eu provavelmente seja louco
às vezes eu só preciso de ajuda
é o que eu faço o tempo todo
procuro ajuda
é o que faço
não entendo até porque acabo rindo de tudo isso
e não vejo nada de loucura em tudo isso
na verdade
bem de verdade
acho que esqueci de alguns lutos
deixar morrer
o que não significa
mais
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a maioria das pessoas
parecem preocupadas
em ficar só
acho que entendo
como alguém vê a vida
como aleatória e sem sentido
até mesmo cruel
às vezes
faz sentido elas gastarem muito
ou todo o tempo
fazendo o melhor
para não viverem sozinhas
para se sentir
seguros juntos
eu suponho
.

domingo, 28 de junho de 2015

dos desgarrados...

.
"a função 
do poema
é se desgarrar"
Julio Carvalho
.
só pego
se sou



































desembarque

quero ser sempre capaz 
de um verso sem suspeitas
nada opaco
mas também nem tão reluzente
como se uma ordem suprema ordenasse
ditasse a obrigação
de toda forma transparente
um verso a fundo
que se contorcesse até a 
alma
uma transparência
que sustentasse
a língua
e a linguagem
de tudo
verso feito água
derramante
quase como se
aterrissasse
.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

dos devorados...

.
"transgrida
           sua
linearidade"
Roberta Lahmeyer
.



























ouvi recentemente sobre certa erva 
que viceja os pensamentos 
os meus vicejam
de outra maneira 
vicejam na poeira 
do passado
do vigor do já lido 
do descabido
do sentido e do sem sentido 
no alarido 
do que me aflige e rege 
nas vísceras
arrancadas
regadas pelo cotidiano
mas com muito mais vigor 
pelo calor despertado
seria talvez 
a necessidade de uma escolha? 
entre o calor da raiz 
e o que foi
arrancado?

Sergio Sanches e Julio Carvalho
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tudo o que foi quase 
um poema 
veio com vontades 
e talvez seja essa febre interior
que me faz
corrigir com lágrimas 
a posição das rimas
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"Um antropólogo propôs uma brincadeira para algumas crianças de uma tribo africana. 
Colocou um cesto de frutas perto de uma árvore e falou que quem chegasse primeiro ficaria com elas.
Quando ele deu o sinal todas as crianças deram as mãos e correram juntas, chegando ao local elas sentaram e compartilharam as frutas entre si!!!
Quando perguntaram às crianças porque quiseram correr todas juntas quando apenas um poderia chegar e ganhar o prêmio, elas responderam: 
UBUNTU: como pode um ser feliz enquanto todos os outros estão tristes????
UBUNTU na cultura africana sub-sahariana quer dizer: “EU SOU,PORQUE NÓS SOMOS”
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warhol
















mas quando escrevo
cuido da palavra
que habita
o coração 
e se desloca 
do repouso à boca
a fogueira só tem fogo
quando queima
com vontade
e as faíscas sobem
do repouso à noite
na madeira úmida 
o fogo não espalha
na palavra seca
colocada na sombra 
não tem poesia
e o coração falha
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o ódio 
do pão 
entorpecido
de cada
dia
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conheço o jeito certo 
de fazer errado
conheço de memória 
o que não me interessa
conheço pelo som
o que não faz sentido
conheço tudo 
até o meio do caminho 
sei até onde vou
depois dali não passo
conheço com frequência 
o que não acontece nunca
conheço pontualmente
a falta de horário 
conheço e recomeço 
e logo mais esqueço 
pois tudo o que aprendo
está do lado avesso
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o princípio 
da certeza 
foi também um dia
a indecisão
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sem essas meias verdades
dentro dos sapatos 
desescrevem
a sola
que ele não pisa
porque lhe falta
tudo
se alguém o visse agora
estaria descalço 
pisando no carvão 
incendiado 
depois 
da
fogueira
única 
coisa
nua
é o fogo 
que o contém
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poesia
pra mim é cortar
o cabelo 
e depois de grande 
cortar de novo
sem dó 
até o calvo
poesia é descalço 
descabelado
descartado de fios
e palavras
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vaga
é uma coisa 
que não tem lugar
um espaço 
em branco
disputado
em cada
palavra
não há vagas
em lábios 
e almas
paradas
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seja agora
a desconstrução da ansiedade
dedos. longos. unhas roídas
(estou só a brincar com o tempo)
os dedos resumem a raiva que sinto
e o tempo é essa coisa agarrada 
debaixo das unhas
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boca aberta 
e o rugir monótono da consciência
a língua míngua no pensamento
que não para de rir
então por favor
mande para qualquer lugar
esse congresso inútil de salmos
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dentro do livro 
cujo título era 
DEVORA

irônicos esses livros em branco
devora palavra com tanto espaço vazio
o meio devora o corpo
o branco devora o corpo
a palavra permanece quieta
enquanto o livro
em branco
devora
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"todos me acham que sofro de miséria
faço de cada história um reboliço.
mas devagar essa cicatriz banal eu escrevo;
esse ardil de loucos é um poemário;
um documento daquelas minhas dores.
tudo vai mal, dizem. tudo vai !
vai a raiva tão simples como fazer perguntas;
vai de passada qualquer maluco palpitando
                                                    [muita gente;
e vão outros palpitando os relógios
                                                  [automáticos:
...tic-tac tic-tac tic-tac...
os tique-taques nascem das nossas bocas.
bocas dissolvidas. noites volêmicas..
os sentidos moídos na rua dos atritos."
psiquiatria II - João Tala
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nasceu em mim uma fonte
que nada sabia dessa água
até encontrar a margem desses poemas
que quiseram impor limites
mas as águas violaram
as margens
porque verdadeiros poemas
dispensam limites
e jogam constantemente
suas muitas e muitas palavras
para que cheguem até muito longe
e ultrapassem os mares
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"de sobras de esquecimento
e flocos de desassossego
se tece a rede da memória
enquanto de retalhos de luz
e de cacos de verdades e mentiras
se constroem mitos"

Arlindo Barbeitos
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há um discurso de facas
na fronteira deste poema
línguas de fogo
economizam rimas
deslizam águas
lapidando pedras
no duro frágil
coração do poeta
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domingo, 21 de junho de 2015

das superações...

.
"escreve com sangue 
e aprenderás 
que o sangue é espírito."
Friedrich Nietzsche
.


































do ovo ainda inteiro e intacto
algo de fumaça
ao aparecer
como se por calor e casca
acontecesse
de novo de nascer
envelhecer
a casca 
é 
brincar de dar voltas
nesse ovo
que me desabita
a cada dia
menos clara
a vida
mas sempre
usando
do esquema/gema
de resistir

"a alegria, como quando ouvimos a voz das coisas - a planta que viceja, o bolo que cresce, o ar que rumoreja - é quando o corpo diz mais do que as palavras. as pernas querem mexer, as mãos bater, o peito avançar, os olhos procurar e as palavras, tímidas diante de tanto sentido, só sabem ahs, ihs, ohs e uhs. alegria é quando as palavras emburrecem."
Noemi Jaffe

quero um lugar
vazio para escrever
um nome 
gosto de nomes
agora quero o vazio
pedi com vontade 
amo o vazio 
para preencher 
escrever 
escrever
um nome
inventado 
um poema 
ou falar de necessidades 
do lento ócio 
e da velocidade perdida
até preencho
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o que não inventamos
suportamos
ou
superamos
como primeiros
passos
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não olhe para o poeta
com esses olhos
de quem se olha no espelho
observando sempre
a mesma boca pequena
o mesmo nariz arredondado
o mesmo queixo alongado
e a cara com um óculos 
ineficiente
olhe para o poeta
com o mínimo de olhos
de quem se olha nos olhos
e quem sabe
nos olhos do poeta
verá a tua
verdadeira
dimensão
ou verá 
do lado de fora
um poema
cadente 
da sua
mão
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como me sinto?
como se colocassem dois olhos sobre a mesa
e dissessem a mim 
a mim que mal vejo
isto é aquilo que se vê
toco os dois  olhos sobre a mesa
lisos,
escorregadios
e gelatinosos
(arrancaram há pouco)
mas não vejo mais o ver como antes
assim é o que sinto
tentando me expressar
na poesia
a convulsão
do meu espírito

adaptado de Hilda Hilst
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lisérgi(c)os

sérgio um 
antigo
mais-que-remoto
ainda quando em sampa
eu vim
quase demorado 
esteve fora
e voltou
o fio da meada
da vida
relatada
às voltas
com a intensa
vontade
e as liberdades
do coração
sérgio dois
nem tanto o tempo
mais parece a idade
proximidades
no entanto
de sangue parecido
e vértebra
conta com a exatidão
e a percepção
exata
colecionada
da vida
um sentido
outro 
ressentido
ou vice-versa
em ambos
as coisas
divergem
comigo
(amigo
é um mesmo nome
contendo
um muitos 
diversos
universos
paralelos)

— para Sérgio Sanches e Sérgio Tavares Meira.
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meu desejo
é sonho 
meu medo
é briga 

— em FILE: Electronic Language International Festival
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será 
que existe
alguém que evolui
e que me 
inclui?
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todos os dias quando acordo 
sinto o cheiro 
dessa decomposição lenta 
que me incomoda
uma coisa lenta quase morte
liquida
vindo de dentro
lembrança
de que estou
pra desaparecer
ou mesmo de que o tempo
deixa marcas 
de dentro para fora da boca
não me contento
e faço de conta que passa
com a  pasta de dente
escondendo o hálito
- o hábito do tempo é não cheirar bem
eu engulo
me acomodo
faço o máximo
e continuo
úmido
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why the horse?

quarta-feira, 17 de junho de 2015

das orientações...

.
"a cabeça do poeta: noite
em miniatura — no interior
do ovo ainda inteiro e intacto
a noite elabora a gema,
poema à imagem do sol;

sob a casca em branco
a técnica do espanto
até que na temperatura exata
do ovo se evade
a forma áurea da ave."

Erick Monteiro Moraes. "IX" In: site Humus humano. 
.
Tatuagem de Lucas Buarque Durães.












































você
não escreve para nutrir
uma alma qualquer
que se lança em todas as direções
nessa rosa dos ventos
que te envolve
até o limite
da sua pele
livre-se
do centro da poesia
a orientação
adequada
lança
chamas
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meu feitio

é
desses 
desesperos circulares
esses desesperos
como o de um animal
no escuro
girando
girando
sem encontrar saída
contido no centro 
que seu giro gera
e em cada giro
libera
pura
emissão de intensidade 
e
busca imagens 
para além das imagens
aí sim
consegue
poesia
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quando amor
ofereço
o único espelho que me resta
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no oriente
lambia o sol
e pela manhã aliviava
a luz 
e a tensão
do inicio do dia,
com muita coisa 
a ser feita
um ocidente de acidentes
e ansiedades
perseguia-o por todo o dia
até trombar distraído
na tarde
(percebeu 
que as coisas tem fim 
como as horas)
chegou a noite
 e o absoluto de ontem 
agora perspectiva
virou
descanso
.

domingo, 14 de junho de 2015

dos lobos...

.
"você sabe a diferença 
entre a vida que você imagina 
e a vida que acontece para você?"
Silvia Gomez
.
Mantenha Fora do Alcance do Bebê







































gente
que 
pega 
pesado 
no
apego
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seres humanos
de carne e osso:
ou a carne é fraca
ou a carne é louca
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escrevo também 
com os ouvidos 
porque sei
que poesia 
não é só sobre 
palavras
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as flores
desaguam ao acaso
do mesmo modo
que desabrocham
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todos
estes
cercados de montanhas 
fazem isso
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monstros
todos
monstros 
pelas frestas 
portas e janelas 
inconfessáveis 
destituídos 
de forma 
que vão se desenhando
inexoravelmente
em um lugar
no qual nossos piores medos
que são também nossos
desejos mais inconfessáveis 
formalizados
todos 
com assustadora naturalidade
banalizados 
com forma e fala
humana
utilizando estratégias 
formais reconhecíveis 
por acoplamentos
compulsivos do desejo
um estado de coisas
inadmissível 
um estado de alma
vulgar
monstros
que se aproximam
já bastam os nossos -
outros
que se deem conta
sozinhos
...

sábado, 13 de junho de 2015

dos prolongamentos...

.


"E se tudo se perder? E se ninguém se importar? Amém.


Nos recônditos de uma caverna habitada por um dragão, não existe ninguém. Apenas sombras e o matador de dragões.


Existe um buraco em nós no qual não existem arestas, nem extremidades no qual nos agarrar.


Observo o horizonte passando em uma viagem de metrô, tudo se sobrepõe. E isso é lindo.


Um dia, vi uma larva cair do galho de uma árvore num chão coberto de formigas.


Existe um caudaloso rio entre nós o qual chamamos linguagem. As vezes uma árvore cai e podemos nos encontrar.


Quando eu cruzo meu olhar ao seu, sabia que consigo te ver

? O pior é não poder lhe falar.


De acordo com o raio x, todas as minhas vértebras quebraram quando parti.


Você diz tchau e eu procuro a tecla soneca da vida.


No fundo dos mares habita um ser que ilumina para abocanhar.


Eis-me aqui velho rei, todo o reino está doente e sua filha me oferece o Graal... tem cerveja? Não gosto de vinho.


Quando te amei fui puxado para fora da lagoa por um fio invisível e, enquanto me debatia, experimentei um peso inexorável.


Um dia encontrei um anjo. Ele me ofereceu suas asas e agradeceu, depois comprou uma casquinha no McDonald's.


Vendo um nada a dois reais.


Desde que perdi meus óculos

aprendi a gostar mais de minha intimidade.



Tudo é vaidade e correr atrás da pipa.


Depois de cair de amores, sem ninguém que testemunhasse, me levantei... sem chorar.


Semana do dia dos namorados, a vida me deu limões – faço caipirinhas."

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Foto de Fernando Figueiredo


































Da série "O Significado Poético das Coisas" :

"Insight é um termo que começou a ser utilizado, na Psiquiatria Geral, desde o início do século XX, para indicar o conhecimento, pelo paciente, de que os sintomas de sua doença são anormalidades ou fenômenos mórbidos.Insight é considerada sinônimo de intuição. A palavra intuição também tem, na sua raiz, a presença do sentido da vista, pois vem do latim intuitio, que significa olhar. É definida como um modo de conhecimento imediato, apreensão direta, sobre o modelo da visão, da realidade das coisas ou da verdade dos conceitos, por oposição ao conhecimento discursivo ou o raciocínio. É "uma apreensão imediata pela mente sem raciocínio". Na intuição, trata-se de uma "visão direta e imediata de um objeto de pensamento atualmente presente ao espírito e apreendido na sua realidade individual", "todo o conhecimento dado de uma vez e sem conceitos" ou ainda, conhecimento sui generis, comparável ao instinto e ao senso artístico, que nos revela aquilo que os seres são em si próprios, por oposição ao conhecimento discursivo e analítico que no-los faz conhecer do exterior".
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diagnosis:
hemianopsia heterônima bilateral
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eu não namoro
tu não namoras
eles não namoram
nós não namoramos
vós não namorais
eles não namoram
puros desertores
por sorte
ou
por opção
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a memória
guarda
o que vale
a pena
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sou frouxo
para dizer
amor
mas amarro
sentimento
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o amor só vale
se for de mãos
vazias
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dias em que as verdades
se arrastam
às antigas
precedendo
marcas
do relógio
e flores
em mal-me-quer
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os olhos
acentos
circunflexos
de arco-iris
eventos
imprevisíveis
diferindo
dos cactos:
um mistério
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quanto tempo
existe num homem
antes da morte?
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poesia é a mistura
da riqueza do contraste
e imprevisibilidade
da palavra
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essa palavra é tão pouca
que ao se dizer
precisa de muita
boca
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"acredito num ser
que me espreita
e projeta
acredito que sou
poeta"
Renata Pallottini
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poeta
arranca
miragens
da palavra
seca
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sejamos elementares:
o fogo
ardentro
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como ficam
os amantes temporários:
mirando-se
de longe
na memória
dos rastros
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o tempo
silêncio
sexo
almiscar
ser das horas poucas
gozo
de açúcar
mascavo
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óbvio poema
as folhas
nas folhas
do livro











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da banalização:
os sete
assépticos
pecados
capitais
e os dez mandamentos
insípidos
e inodoros
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"- cansa-se, Signor,
da vida dos signos
embora não haja outra."
Místico Quente, Sutra II, 5-a
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como vamos viver?
resistindo ao silêncio
- sempre
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fato sexual:
um dia serei um post
curtido por toda gente
no subterrâneo
entretido
somado às coisas da mente
por uma revolta interna
cansado de ter resistido
a tanta insistência
do pênis
e a toda essa dureza
ter sobre
vivido
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pequenas coisas
pessoinhas
nestes frascos
menores
perfumados
o corpo abotoado
feito caixa de fósforos
um a um
acendendo
surpresas
pessoinhas
simples
derrubando conceitos
de pedra
sabão
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Medéia
me deu uma ideia
quantas minhocas
crescidas
e coisas danosas
nas nossas cabeças
haja tanto antídoto
soro antiofídico
prurido e coceira
a cabeça
pensa a vida
inteira
e a gente acha
que memória
e silêncio
não andam
juntos
essas cobras
venenosas
que tomam
a cabeça da gente
toda hora
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um era música
outro
poesia
e se davam bem
em silêncio
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"Não tenho medo de morrer.
Só não quero estar lá quando
isso acontecer."
Woody Allen
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quero pássaros
rasteiros
daqueles que não voam
só pelo céu
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o hóspede da morte e as histórias dos crimes feitos em casa - um bom nome de livro
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o prazer
não tem cheiro
de
perfume
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inspiração
é intro
meter-se
o nariz
onde não
é
achado
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porquê
minhas poesias
são turvas?
porque
minha visão
é curta?
ou visse
verso?
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são é tudo o que é santo
e muito santo
foi pra fogueira
se o fogo
queima
um santo
meu coração
sempre foi
são
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"teje" preso
por me colocar
inspiração
agradeando
prancha
e mar
agradeando:
quando
o que agrada
envolve
líquido
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casar
poesia e mar
um se retrata
outro vira espuma
e dá tudo na mesma
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o mar
é moto
contínuo
feito esses
corações
em ondas
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se os polos se atraem,
que não sejam congelados....
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Plano Piloto

no inicio era o caos. conheci. foi o acaso. não tinha luz porque era noite. conversamos. disse que ligava. não ligou mas falamos. perguntou de planos. disse que voava. será que tão alto que pode me levar? os planos passam por perto e eu esperto tento me declarar. de inicio conversar conversar conversar conversar. olhar nos olhos. escapar um toque ou vários. ficar juntos. abraçar até perder de vista. até tirar as asas dele. aterrisar. depois fazer amor. sexo é muito comum. sair do mar e ir aos céus. voar a partir do chão. conversar conversar conversar. gozar e conversar. morrer de rir. de novo no chão e no céu. ainda os olhos nos olhos. ainda os planos. depois de um tempo, já no chão, o namoro. intenso. precisamos. afinal somos dois. morar juntos ou separados? não sei. pensar não sei. faremos. o mundo inteiro parado. a gente voa
.