sábado, 31 de março de 2012

dos céticos...

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"Se eu lhes versificasse
Toda a minha vida
O papel ficaria rubro

E pegaria fogo"

Vasco Popa
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tears_of_stone
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diálogos assépticos

Deus existe. - disse um.
Depende. - disse outro.

É um milagre! - disse um.
Coincidência. - disse outro.

Vá com Deus. - disse um.
De qual igreja? - disse outro.

Deus tá vendo. - disse um.
E tá gostando? - disse outro.

Deus é pai. - disse um.
Até quando? - disse outro.

Confie em Deus. - disse um.
E precisa? - disse outro.
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quarta-feira, 28 de março de 2012

das vendas...

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"Nasci de repente.
Por isso não me vendo a prazo e acredito em amor à vista."

Julio Carvalho
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negocio
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sub louca ação

estou a venda
preço de fábrica
preço de ocasião
como se ouvesse alguma ocasião pra venda
ou alguma fábrica que eu me lembre
oferta relâmpago sem tempestade
com chuvas no decorrer do período comercial
garantia extendida até a próxima encarnação
tudo em 12 vezes e até sem juro que eu não prejudico ninguém
sou baratinho
vendo tudo
até coração

Obs: as partes não podem ser vendidas desesperadamente.
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das frases...

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"sobrevivo pescando poesia
às vezes me falta a linha
às vezes me falta a isca

mas eu pesco

nem que a água seja sonho
nem que o sonho seja pouco"

Julio Carvalho
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desarvore desconstruct
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frasificando aqui parado
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Tem gente que toca de ouvido....Eu faço poesia de olho...
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Quero alguém que me organize em palavras...
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Me puseram um nome e me ensinaram carências. Que fazer?
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Estou entre a devastolândia e a mudançolatria. Inutilidades doméstico-mundiais.
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Eu nao queria ter um nome. Sou contra os limites.
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Odeio quando me fazem pensar quando o que eu só quero sonho.
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Egoísmo funciona até o próximo tombo. Ninguém se levanta absolutamente sozinho.
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A crise virou mercadoria. Seja ela pessoal ou mundial.
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A poesia pinta e borda com as palavras. A poesia mistura a linha e a tinta das coisas...
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Pra que correr atrás do novo se nem o antigo foi melhorado?
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Cansei de ser ralado até virar pós-moderno.
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Nasci pelado no dia do índio. Aí vieram os homens e me vestiram de ideias. Antes tivesse ficado nu...
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Quanto maior o proibido, maior a arte.
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Minha poesia é uma constelação. Quem lê enxerga significados de longe.
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Queria saber quem é que inventou esse personagem amor.
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Nao sei escrever ou fazer poesia sem olhar para dentro.
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Sou muito pouco pro meu corpo.
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Queria dar um susto qualquer/ E desaparecer/ Enquanto estiverem surpresos.
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Sou muito desajeitado com as palavras dos outros.
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...aqui onde a chuva cai e tira a maquiagem da rua...
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...dias nublados pelo hálito do tempo...
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Quando disseram "olha o passarinho" , ele voou.
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Prefiro um vaga-lume verdadeiro do que um louva-a-deus falso.
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Quando um dia eu virar flor será só meu o prazer de despetalar.
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Chamavam-se Água e Vulcão. Até hoje eu não sei quem foi que apagou primeiro.
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Cada coisa em seu lugar e cada lugar pra coisa nenhuma.
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Eu tenho medo de virar normal. Acho que por isso que virei poeta.
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Tudo vai das grandes coisas. Das pequenas tomo conta eu.
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Tenho inveja. Só que ela morreu...
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Não gosto de coisas que terminam antes de começar...
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Elipse do eu, eclipse do outro. Ou vice e versa. A vida fica sempre nisso. Ponto.
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A vida deu nos nervos e nos dentes.
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Eu acabei aqui porque o pensamento ficou muito grande e o espaço pra escrever (dentro de mim) muito pequeno.

domingo, 25 de março de 2012

dos ócios...

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"queria um sorriso
e saiu uma equação"

Mariano Raffaelli
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ócios do ofício
foto de Roberto Laplagne
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cabresto

acho que você não me entende
deve ser porque eu sou poerméticamente fechado
eu me sinto com armadilhas dentro de cascos e os cavalos presos
as baias cheias de comida mas nenhuma boca alcança
quase uma fome eterna de fuga
um pouco meio sem rumo
eu me ausento
volto mais tarde
com ares de renovação
só pra enganar os porcos
e recomeçar
tudo de novo
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o certo e o errado estão em família
porque
o céu das idéias é sempre o mesmo
falar sem foder fica difícil:
sempre se complica
ao explicar
a palavra
íntegra
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eu tenho medos
que viraram tantos
que voaram
todos
de susto
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o tempo
passou tão rápido
que eu engoli as horas
e os ponteiros
ficaram
todos
entalados
na garganta
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sábado, 24 de março de 2012

dos abrigos...

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"mas o bom da palavra é o rumo qualquer
como um suspense
é uma lição essa, de ler sem rumo
cada um que faça o seu
o poeta dá o começo
a palavra faz o resto."

Julio Carvalho
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perfil
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poemaberto

não adianta nenhum guarda-chuva pra eu abrir
se eu sou todo água
mais líquido é quem me diz.
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dos débitos...

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"Melhor então um afogar de vida
antes que tudo se acabe
num raso de morte."

Julio Carvalho
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roses
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débito

sem os afetos aprisionados
animalizo-me bem comigo mesmo


navega-se
entre o frágil e o poderoso
entre a falha e o trapo humano

estamos entre as paixões:
do romance banal ao trágico imprevisível
do imenso espaço inicial ao afeto risível

todas as palavras de hoje
não traduzem
não fazem jus
a nenhum possível amor
de amanhã
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“Ao cruzar este caminho
Terás a boca inebriada, a carne extasiada, a alma diluída
Serão infinitos os deleites. Salivas, escamas, sabores
Sangue vísceras venenos e amores

O traço desconcerta. É impróprio, Imperfeito
O discurso direto e reto desconstrói
O talho fere fundo. Escorre
Mansinho. Mata

Tudo o revela. Nada o alcança ou acalma
Fino risco limite entre tudo que faz e tudo que almeja
Linha firme limítrofe
Livre no sonho, arrebatada na Terra

Em três instantes
Abre o peito rasga o tórax, lança vibrante o pulso nu
Em carne viva... Morre

Ouse cruzar este caminho
E fique a memória encarregada do resto.”
Grafite & Nanquim - Carolina Guaycuru
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terça-feira, 20 de março de 2012

dos outonos...

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"uma folha seca
que não quis pousar"

Quase Quintana
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outONo
resolvo-te
experimentátil

o livretermo
experimento exprime
a borda do onírico
espaço entre as lições para pessoas
folhas e coisas
em livre simetria
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domingo, 18 de março de 2012

das senhas...

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"morre-se tudo
quando não é o justo momento"

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
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2002_colonna
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memento mori
para Marco Antonio

o aviso veio mais que um cometa
um adágio
um meio secreto
uma senha
de um semelhante
- um quase igual

jeito estranho da vida falar
mostrando as coisas
nos olhos dos outros

apaixonado
foi lido o recado
do adeus
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domingo, 11 de março de 2012

das armações...

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"Estamos aos pedaços até prova em contrário."
Julio Carvalho
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desconstructed
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a arquitetura tímida do corpo
para Givago Oliveira

no escuro tudo começa
o pulo do gato
novo novíssimo
antigo antiquíssimo
forço a pele até que ela se encerre
até que nenhuma dúvida apareça
e o silêncio não atrapalhe

ainda nos redesenhamos
até o lugar que se consome
até onde existe o afeto
até onde o discurso
ultrapassa o entendimento
até que tudo se entenda
até pelo silêncio
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quinta-feira, 8 de março de 2012

terça-feira, 6 de março de 2012

das uniões...

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"Algumas coisas diamante.
Raridade foi a impressão impressada em mim."

Julio Carvalho
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aéreo

há um falcão entre o antes e depois de aprender a voar

queria ser um falcão
mas diante desta (im)possibilidade
fico assim mesmo
com os pés no chão
embora com cabeça entre as estrelas
anjos e falcões são muito parecidos
para todos eles peregrinar é o limite
limitado pela pele sem penas ou voo
resta-me dividir
o que também é uma maneira de voar.
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dos toques...

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"Nós somos do lugar nenhum.
Nós somos de nenhum lugar.
Nós somos do não-lugar."

Givago Oliveira & Julio Carvalho
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UNDER-CURRENT-Homotography-1
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tocar
verbo
intransponível
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segunda-feira, 5 de março de 2012

dos assaltos...

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"a literatura é um roubo de gente elegante.
sempre foi assim.
começou depois que os gregos inventaram o mundo."

Mariano Raffaelli
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light fire
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E.X.P.L.I.C.O.

explico
explícito
expulso
dou a sede ao pote
e a razão ao morto
ipsis litteris
lamentávelmente
como o cheiro das
mãos amanhecidas
(alguém repara no cheiro das mãos pela manhã?)
como um assassino
o sangue das letras impresso
entregue as cinzas
e por mais que fogo
nenhuma fênix
nenhuma causa
nenhum efeito
nada é perfeito
nem o crime
cada milímetro do túnel
escavado sob o peito
é um tormento
não sou o que escuta
sou o de olhos abertos
o assustado
não roubei nada além
de palavras
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quinta-feira, 1 de março de 2012

dos intervalos...

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"Prefiro o ridículo de escrever poemas
ao ridículo de não escrevê-los."

Wislawa Szymborska
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inadiável
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Deus me deu ordem de morrer.
Nunca cumpri.
De vez em quando tenho vontade de obedecer.
Mas passa...

Eu juro que queria ser menos individual mas não consigo.
Não sei ser nuvem.
Eu vim da dureza interna das pedras.
Chovo de noite quando ninguém vê.

Quem quer algo que não acontece como deve?

Tudo é vida até que a morte nos prepare.

A vida na hora.
Nunca é agora.

Coisa difícil isso de mexer na vida.

O mundo deixa de fazer amor nos intervalos dos poemas.

Não acredito em anjos que aplaudem com as asas.

...porque afinal cada começo é só a continuação do fim.

Eu tenho muita resposta vaga pra cada vaga de pergunta chata.

"Sentei-me no canto e convoquei minhas saudades" Dito de Tizangara.
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