quarta-feira, 27 de abril de 2011

dos desalmados...

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"Em planos recomeço
Volto só aos prantos
Sem plano crio o dia
Passos todos os dias

Maltrapilho
Não vendo entrego
Dispenso dourados
Cobro amor inteiro."

(FlavCast – 24.04.2011)
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des_a(r)mamento

dias difíceis
dias de separações
dias de reparações
dias de nuvens que não chovem pra nada
dias de coração sem cor
dias de coração batido contrador
dias de pensamentos sujos
dias de mortes alimentadas pelos corvos do medo
dias de querer coragem
dias de perder coragem
dias de esperar nada
dias de insatisfação
dias de enfermidade
dias de doenças sem cura
dias de interna fúria
dias de entranha mudança
dias de falta
dias sem calma
dias sem alma
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sexta-feira, 22 de abril de 2011

dos avisos...

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“É dificil não amar a vida
Mesmo explorado pelos outros homens
É absurdo achar mais realidade na lei que nas estrelas
Sou poeta irrevogavelmente.”

In Manhã, Murilo Mendes
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smoke rightsmoke left
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alarme

o poeta é um ser à espreita
um ser
fundamentalmente
à espreita
o poeta come
deita e dorme
deve vigiar se não há nenhuma palavra atrás dele
se acontece algo atrás dele
a seu lado
é terrível essa existência à espreita
essa vida sempre aproximada do poeta com a palavra
escrever não é um assunto privado
escrever é separar a poesia do silêncio
colocar a língua da boca na palavra escrita
falar um não falável usando um mais sentido
dar sentido ao mudo

faço poesia no limite entre eu e a palavra

escrever é
literalmente
fazer tudo para chegar à última letra
é isso que interessa ao poeta
a poesia na mesa
a poesia posta
a poesia prato feito
a poesia pronta

um contém o outro
o poeta a palavra e a palavra o poeta
poetalavra terra de letras

paro a poesia hoje para recomeçar amanhã
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quarta-feira, 13 de abril de 2011

dos seguintes...

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"invernoverão & amoródio:
minhas duas únicas estações
de todos os anos"

Julio Carvalho
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amanhãs

a vida
quando for
adiante
não pode esquecer
do gosto da maçã
do filme bom
da risada
e do livro aberto
no final

qualquer futuro merece um final feliz
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quinta-feira, 7 de abril de 2011

das ervas...

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"O tempo passa e o corpo, filho do tempo,
vai rumando para baixo.
A mente, burra, fica tentando subir."

Adaptado de quando nada está acontecendo
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erva mate*

não se explicam os corpos
as ervas daninhas e as maldades
mata-se sem piedade
escorre o som dos sinos de sangue
no fim das aulas
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* referente ao incidente ocorrido hoje no Rio.
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quarta-feira, 6 de abril de 2011

das órbitas...

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"Some people never go crazy.
What truly horrible lives they must lead."

Charles Bukowski
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daft head
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satélite

estou em órbita
estou aqui para ganhar perspectiva
gosto do espaço
gosto do longe
não há problemas no espaço
não há mal entendidos não há caos
não há distância nem espaço nem tempo
sempre dizem
não fique preso ao tempo ou nada inesperado acontecerá
ou tempo é dinheiro
tempo é tempo e dinheiro é dinheiro
então
não sei se quero o inesperado
porque nem sempre o inesperado é bom
mas também
às vezes algo ruim leva a algo bom
isto também é uma espécie de equilíbrio
talvez você precise pensar de alguma forma especial para entender isso
talvez, enfim
haja algum sentimento no espaço
até aqui
onde não respiro
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domingo, 3 de abril de 2011

das misturas...

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"Na beira do mar, um pouco sisudo,
Chapéu na cabeça, cobrindo o semblante,
E me perguntando qual fabricante
Que se lembrou de fazer isso tudo?
Qual engenheiro que tem tanto estudo?
A cabeça fervia de tanto pensar.
Mas disse-me o vento, no seu linguajar:
Esfria a cabeça e tira o chapéu,
Quem fez isso tudo reside no céu...
Só deixou as pegadas na beira do mar."

Na Beira do Mar - Antonio Francisco e Mazinho
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rain tears
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águas do caminho
Tom Andrade*

é pau, é pedra, é o fim do caminho
mo meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
é um resto de toco, é um pouco sozinho
tinha uma pedra e um corpo na cama
no meio do caminho tinha uma pedra.
é um espinho na mão, é um corte no pé
é um caco de vidro, é a vida, é o sol
é a noite, é a morte, é o laço, é o anzol
nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida dos meus olhos cansados
é o fundo do poço, é o fim do caminho
é peroba do campo, é o nó da madeira
nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra no meio da lama
é um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
é madeira de vento, tombo da ribanceira
é o mistério profundo, é o queira ou não queira
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra
e mesmo sem pedra sobre pedra
é a promessa de vida no teu coração.
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*Autor meramente fictício formado pelo nome de Tom Jobim
e Carlos Drummond de Andrade.
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sábado, 2 de abril de 2011

das continuações...

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"I'm a thinker, not a talker"
Conversation Piece - David Bowie
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aqualandlove
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adiante*

a ponte é um lugar de passagem, como quase todos.
alguns apagam-se do mapa, inundados pelas águas de uma represa,
arrasados por uma explosão, terraplanados.
outros esvaziam-se de vida mas ficam cheios de sombras e memórias.
aqui fica um ano com seus altos e baixos.
foi o que foi. foi o que dói. do bom e do menos bom que nem é de todo ruim.
alguns encontros, reencontros, pistas, desabafos, versos, reversos, trilhas sonoras e janelas.
segue a viagem.
um abraço largo para quem se foi antes sentado à volta da mesa.
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*adaptado de ponte das três entradas
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