segunda-feira, 24 de junho de 2013

dos contrários...

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"eu cresci em uma casa de fraquezas.
por isso eu me fiz de forte."
Vinícius Linné
eu ao contrário - Julio Carvalho


marcha

provenho ventos em matilhas
devoro cem feras em repouso
faço da noite uma escolha
enfrento
revoluções de ideias
ventos
ladrões de uma quadrilha
- pensamentos
que depois do crime
participam de um jogo
furtivo


um fóssil no peito

eu abri dores
eu agridoces
eu escavei
fundo na causa e na alma
estive em caos
e em casos perdidos
encontrei ossos
n
ão de outros
os meus enroscados
nas veias e v
ísceras
entre os espa
ços
desenterrados

s
ão os ossos do ofício
de desalmar


adentros

I
não sou do tempo de hoje ontem agora neste exato momento sou
amanhãs
- sou alguém sem saber onde ir

onde ficar
onde fincar


II
a vida é clichê
a vida é chiclé
a vida gruda quando mascada
ou mascarada
e faz bola
estoura
depois cospe
era o que faltava:
cuspir

só não pode cuspir para cima
senão a vida volta na cara

 .

segunda-feira, 17 de junho de 2013

dos sensos...

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"ainda sem saber como lidar com o mundo das boas notícias. 
a vida enlouquece a gente o tempo todo. 
eis a diversão do estado de tudo. 
agora é reorganizar, redefinir,
agradecer e esquecer o que não fez bem. 
agora é ressuscitar. 
talvez amor. 
quem sabe..."

Julio Carvalho
.

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senso remix

na casca e na polpa
a pele
me poupe 
de tantas explicações
como dizer o corpo
em silêncio
sem vacilar?
como reinventar sensação
ou sentimento
perder  o  chão
a cor 
e toda a arte
calor ou sentido
nos dias incomuns
e saber
como erguer o corpo
sem palavras?

perceba que todo desejo precisa de atenção

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terça-feira, 11 de junho de 2013

das temeridades...

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"Um pé não podia, mas o outro pé queria e seguia. 
Um pé dizia: eu fico por aqui, mas o outro decidia:
por aqui eu te levo. 
E uma e outra vez esse pé, o andante, voltava ao caminho, 
porque o caminho é o destino."
Eduardo Galeano
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pump
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uma das tarefas mais complicadas do mundo:
reconhecer o quanto o medo atrapalha.
é uma lição das mais difíceis. livrar-se do medo
é um parto: uma dor e um choro. quando nasce
desmorona. melhor abortá-lo. mas aí vem a
dúvida: se não nasce não revela. se não nasce
não ensina. se não chora não liberta. em que
hora deve-se deixar o medo nascer para
enfrentar? a vida pede coragem quando a gente
só quer deixar de ter medo e nascer e chorar.

meu corpo pode não estar bem, 
mas eu quero a minha alma em forma...

prefiro as juras de amor e a corre
ção moratória dos carinhos perdidos

queria menos enganos e mais igni
ções

estou cansado de ser feliz por pouco
aos poucos
estou cansado de ser feliz aos porcos

 .

quinta-feira, 6 de junho de 2013

dos semáforos...

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" Minha poesia não tem sexo, 
mas não abro mão das preliminares. "

cris de souza

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Photo by Renato Medeiros


no meu desvio
não aparecem os sinais
eu fico parado
no sinal 
reto
feito
dois de paus
dois dos outros
dourados faróis acesos
iluminados
e eu só olho para frente
a cor da faixa de segurança
com traços de memória
atravesso quando não tem carro nenhum
e do outro lado
aguarda
outro sinal
as esquinas são eternas
e eu aqui
sempre um cruzamento

como de costume
inexplicável costume
os dias passam
entre o primeiro abraço
e o derradeiro
e sem maiores explicações
transcorre a viagem
por isso
hoje eu não quero
investigar
nenhum
silêncio
só
quero um café
sem maquiagem

tem algum jeito
de se esconder
antes de se machucar?
meu coração
tende a ser alvo:
nunca
são e salvo

de
sim
fim
tante
conflitante

era uma vida
como um filme ao contrário:
nenhum fim tinha começo

a vida exposta -
um filme sem cortes:
estes ficam no corpo

prato executado
às pressas:
abre-se a toalha
garfos e facas voam
sem sair de casa

quero voar
dentro de poucos
um pouco

a pauta
é a puta
que fode
o poema

o estado em que me encontro agora
não é de São Paulo 
nem de santo algum
o estado em que me encontro agora
é menos crítico
e mais cínico

eu cabe
ça de vento
adoro gente
que me enche de brisa

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