sexta-feira, 30 de agosto de 2013

das ignições...

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"Nobre é aquele que entrega o corpo ao mundo
A este o mundo pode se entregar
Quem ama faz do mundo o seu corpo
Neste o mundo pode confiar"

Tao Te Ching  - Cap 13 




























ignição
(após a leitura de CENA ABERTA de Vinicius Garcia Pires)

é o que acontece
por isso juntos eles são tão incríveis
não há como competir com a verdade
realmente não há como competir com a verdade 
um amor deste tamanho 
e ser tanta gente que a gente deixa de ser a gente mesmo.
muito bonito isso
pessoas assim num mundo assim
sendo iguais aos bons filmes repetidos milhares de vezes
correndo o perigo de ser o mesmo bom filme repetido milhares de vezes
toda essa estranheza de gostar tem sua beleza
mesmo quando acontece de estarem sempre juntos 
em todas as fotos desfocadas de alegria
gente junta como uma fogueira inteira de eternidade
que nunca poderemos contemplar por muito tempo
quando estamos de um jeito
que nem mais a tristeza incomoda
era isso que nos empurrava a continuar a olhar de perto
a olhar a continuidade 
essas tais pessoas fogueiras
porque juntos eram fogueiras 
ou pelo menos estavam para se tornar
eu invejo esse incêndio nos olhos

alguém aguenta ler/ter tudo isso de novo?
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em câmera lenta
chegou à perfeição
mas em fast forward
perdeu-se
de amores
sem pause
no meio

agora
não há
rewind

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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

das navegações...

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"posso
a navegação da palavra
sem desvarios
ou âncoras"
Julio Carvalho



o meu aprendizado de poeta
reside dentro de um silêncio
íntimo e
distante

íntimo e 
constante
ínfimo e
brilhante

não me dou por vencido
mas também não empresto


eu não tenho tempo
eu tenho espaço

ou
eu não tenho tempo
porque quase não tenho
espaço

amar 
é um desabamento
quando você vê
já está dentro


eu ando cavucado de vontades
esburacado
precisando de asfalto
faz
falta

gente fashion
gente que inco
moda


atravessaram meu sinal
estou em 
vermelho

.
eis aqui
o pronto
final
.

dos atemporais...

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"todo dia engulo o sol
achando que é frio"
Julio Carvalho





cada vez que penso 
venço um corpo de baile 
se eu sinto
danço


de volta aos espelhos
com os  reflexos aumentados
odeforadentro
odedentrofora
não sou o que eu vejo
dentro
e nem sou o que desejo
fora

desejos são coisas para um dia só

tira a roupa e voa aves tuário

vaso ruim não quebra
mas também não planta

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terça-feira, 27 de agosto de 2013

dos crimes...

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"O que sempre fascina em histórias de crime 
é que as fronteiras entre o criminoso, 
suas vítimas e o observador sempre se confundem.
Somos todos vítimas em potencial e, porque não, possíveis criminosos."
Cristina Ricupero
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nossos crimes regados com água benta

não ouso assassinar
no frio
em tempos de carne
seca
não há dor
que se parta ao meio
a faca encravada no peito 
é maior
quando o abandono
é o crime
de fato
é da flor humana
murchar
se

....................................................

não deixe o meu corpo sentir 
dor
mir
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sábado, 24 de agosto de 2013

das considerações...

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"mas eles nos deixaram um pouco de música
e um espetáculo estimulante na esquina,
uma dose de uísque, uma gravata azul,
um pequeno livro de poemas de Rimbaud,
um cavalo correndo como se o diabo estivesse 
torcendo seu rabo
sobre a grama e gritando, e então,
o amor novamente
como um bonde dobrando a esquina
bem na hora,
a cidade esperando,
o vinho e as flores,
a água caminhando sobre o lago
e verão e inverno e verão e verão
e inverno novamente."

poema: Charles Bukowski - Se Aceitássemos 
tradução: Fernando Koproski 


























o templo pijama
o tempo pijama
onde eu prezo
onde eu rezo
o sono

amalá
dacá

lágrimas?
ou apenas
duas facas 
ardentes
intoleráveis
descendo
pelo rosto
abaixo
(detesto
algumas coisas
que se tornam
impossíveis)
parei hoje
num mau humor considerável
ouvindo pessoas pagãs
entreatos pipoca e arroz com feijão
as palavras não cultivavam nada
os acentos toscos
das vozes de vampiros
sedentos
de luz
então
a um amigo eu disse:
afaste-se
a urgência é o próximo encontro
é essa luz
escondendo
tudo
como uma lua alta sobre as impossibilidades

hoje me sinto cadavérico
com poemas até os ossos
hoje me sinto a loucura nossa de 
cada frente e
verso

pé ante pé na solidão 
tem-se o tempo que se  quer
para compreender os amigos
um por um até lhes perdoamos
as suas mínimas incoerências
e nunca mais queremos falar com eles
e nos silêncios de São Paulo
sutis como os pensamentos pelas ruas
a sete fôlegos como azarados gatos negros
vestimos à medida exata
o avental da vida
e no vício das calçadas do futuro
sobressai o ruído da noite
da cidade judas

o último poema é uma adaptação de José Craveirinha

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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

das paciências...

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"a verdade é que
esse coração aqui já não é mais o mesmo.
ele ainda bate, é claro,
e às vezes desatina a se apaixonar
demais pelas coisas simples e
sem sentido."

Adriano Costello





























é de madeira minha paciência
surda
vegetal
ansiosa
e dura pouco menos
que cicatriz
ela sangra
dos dedos
até a raiz
dos cabelos


bons tempos
bons templos
quando tudo era
de portas 
abertas


e a cabeça 
escrevendo
nas nuvens
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quarta-feira, 21 de agosto de 2013

das inocências...


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"tu te lembras de como o acaso era mais generoso conosco? 

(nós éramos mais generosos com o acaso)"

Isadora Krieger






































animalescências



quem mandou
não saber
nada
de mim


eu me desarrumei 
em prumos
me desacertei nos rumos
em pontas e ponteiros de bússolas
embaçadas
o norte ao sul 
das linhas das mãos
sem entender
perdido:
obrigado
de nada


entendo que
se pudesse
colocar de volta
algumas páginas
de um livro
próprio
não o faria
nunca


tenho culpa
cessou
estranho
aos olhos da pimenta
dos outros?
nunca fui refresco!

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domingo, 18 de agosto de 2013

dos antônimos...

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"de repente, sem motivo:
grasnido, palaciano,
carrancudo, micróbio,
padre-nosso, vitupério,
seguidos de: incolor,
bissexto, tegumento,
eqüestre, Marco Polo,
zambro, complexo;
depois de: somormujo,
garanhão, reincidente,
herbívoro, profuso,
ambidestro, relevo;
rodeados de: Afrodite,
núbil, ovo, ocarina,
incruento, escambal,
diametral, pêlo fonte;
em meio de: fraldas,
Flávio Lácio, penates,
laranjal, nigromante,
semibreve, sevícia;
entre: corvo, cornija,
imberbe, garatuja,
parasito, ameado,
tresloucado, equilátero;
em torno de: nefando,
hierofante, goiabeira,
espantalho, confrade,
espiral, mendicante;
enquanto chegam: incólume,
falaz, ritmo, emplasto,
cliptodonte, ressaibo,
fogo-fátuo, arquivado;
e se aproximam: macabra,
cornamusa, heresiarca,
malandro, chamariz,
artimanha, epiceno;
no mesmo instante que
castálico, invólucro,
chama sexo, estertóreo,
zodiacal, disparate;
junto à serpente... não quero!

Eu resisto. Eu recuso.
Os que seguem vindo
hão de achar-se adentro."

Rebelião de Vocábulos - Oliverio Girondo




antônimos

com você farei o revés
 amor revés da morte
eu tive sorte
eu aceito a luz
 e a sorte dela
não quero saber de esquecimento
a luz não tem endereço
toda janela 
apresenta uma fresta
essa luz escapa
quem apara
se aquece nela
enquanto se abrem 
alguns
segredos
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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

dos somos...

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"Você precisa saber que será amado, não explorado."
Tom Bianchi

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lucidez

quanto mais intensa a luz
maior a sombra -
aceso
tenho em mim todos os somos do mundo
e o meu vigor é manso 
quase preguiçoso
mas faz e refaz de tudo
como um pedaço de qualquer coisa achada na rua
eu guardo tudo o que vejo
e andam dizendo que isso é memória
muitas vezes é esquecimento
quase senão
seria o tempo de mudança 
se não fosse uma ou outra invasão declarada
entre o 
caminho e o caminhar:
ando muito
eu entendo os músculos exaustos das calçadas e beira  
muros
com as plantas tentando escapar pelos
tendões das paredes
e os pensamentos são bem como as
plantas entre paredes
escapa 
o pensamento
a imaginação
sobrevive