sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

dos quatro...


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O poema que nunca poderá ser escrito
Não está em lado nenhum mas à tua frente

Ant
ónio Ramos Rosa
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quatro tempos

eu tenho olhos
a exigir
oceanos

minério 
de ferro
mineiro
de aço

um segredo murmura do outro lado
da palavra
como um voo silenciando o ar

a minha caligrafia íntima
só escreve

poesia
concreta
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domingo, 23 de dezembro de 2012

das doses...


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“Sem palavras existiriam apenas cadernos pálidos,
Papel em branco de encerrar ideias.”
D.Everson

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pílula

guardei minha história
numa cápsula do tempo
eram páginas e mais páginas
que o vento espalhou
e ficaram sobre a água
brancas brancas
todas juntas
talvez formassem um livro
em dose única

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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

das margens...


 "Não voltei, nunca fui
sou como onda na beira da praia
sempre ali quebrando
às vezes profundo, me raso."
(FlaVcast - 18.12.2012) 




































nickcaveart.com


imargem

não sou eu que construo
meu retrato em linhas
abertas
sou apenas a voz
de uma paisagem ecoando
do alto

eu faço cada palavra
no grito


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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

do inexistente...


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“vou no verso curto
porque é assim
que me sinto: verso"
J. Castro
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estudo do poema
(adaptado de Zbigniew Herbert)
o mais belo
é o poema que não existe
ele não serve para carregar água
nem para preservar as cinzas de ninguém
não foi apanhado num riacho
nem nele alguém se afogou
de orifício, nenhum resquício
pois é completamente aberto
visto
de todos os lados,
quase não é
previsto
os feixes de todas as suas palavras
se encontram num jato de luz
nem
cegueira
nem
morte
podem roubar o poema que não existe
o que se tem agora
é um espaço vazio
mais belo que o poema
mais belo que o lugar que ele deixa
é o antemundo
um paraíso branco
de possibilidades
lá você pode entrar
gritar
pra todo lado
podemos parar aqui
de todo modo já se criou um lugar
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domingo, 16 de dezembro de 2012

das sinalizações...

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"E vamos viver sem escolta"
Cícero
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todo dia eu busco a poesia no sinal fechado que às vezes, dói tanto que eu grito e arrebento a faixa de segurança em mil pedaços.
às vezes não sei parar.
o aguento esses vermelhos.
tudo poderia ser um sinal só:
queria algum verde no sempre.
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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

dos isolados...


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"Na selva dessa paisagem, 
no centro de sua arena, 
age a força do poema, 
meu objeto selvagem." 
Mário Chamie
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JOGO POÉTICO

o poeta sai a campo
e faz gol contra

outros casos isolados:

se saio na rua
não levo guarda-chuva

e na tempestade,
raios!
(me molho)

desce aqui, cinza, desce
do cigarro
compondo no cinzeiro
o epitáfio

"no porre sou
no porre estou
divino fui
não sei quem sou

porém quem era

morreu, passou
e hoje espera
quem despertou"
Adaptado de Lúcio Cardoso

ontem
o crucifixo
era um poste
pintado
(atravessado pelo branco)
do outro lado da rua

aqueles dias
em que o abandono
é coisa das ideias

as flores fazem um tremendo sacrifício para embelezar a morte

ego dos trovões:
a chuva, de repente,
vira tempestade

matar o amor
é o mesmo
que falta d'água:

a sede insiste

todos nus
na vida vazia o vento
assobia blues
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dos faróis...

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" todo remetente encontra, enfim, um destinatário;
mesmo que não seja aquele que imaginou,
nem no lugar, nem no tempo." 

Noemi Jaffe

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videodrome

caçadolhos pela cidade
uma matinê intensa
entre os carros
caros diama_entes
de espesso brilho
entre os prédios
as vozes são menos que os olhares
desinteressante
o tráfego

as ruas
escutam
um sinal vermelho
cego
tateando
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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

dos sê-los...


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"Não queremos poesia,
Queremos m
ágicas, artifícios,
Procuramos tapar na exist
ência fatais vazios
E apesar de imenso esfor
ço, uma atrofia."

Wilhelm Klemm
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selo um
o tempo todo
em todos os lugares 
os cora
ções batem e bombeiam
e conversam de v
árias formas distintas 
na maioria das vezes provavelmente dizem
“estou com fome
quero ir ao banheiro
estou com sono

mas
às vezes conversam em códigos
dif
íceis de entender
tenho um coração com fala diferente 
e que n
ão acha uma resposta mínima decente
ou tradu
ção
ent
ão das coisas todas isolo
por pura falta de entendimento
 
é muito pouco o que andam dizendo
os batimentos s
ão fracos e frágeis
est
ão desaparecendo
- receio
é desaparecer junto
nessa desesperança

selo dois
faz um tempo
que estou sem poema algum
provavelmente
 
porque estou com aus
ências de rimas 
e com sil
êncios de entrelinhas
- alguma amargura
 
que desligou a poesia

selo três
e eu: lendo seu livro, 
escrevendo, teclando no note
book
e teclando com um amigo no celular
tudoaomesmotempo
para fugir um pouco dos vazios do meu aquietamento

selo quatro
eu tive fogo
s
ó tenho cinzas
quem disse que amadurecer
 
é bom
esqueceu do calor das chamas
ficou com a fuma
ça
dos dias
 
contados a partir de um sempre
lugar nenhum

selo cinco
aquela frase foi crescendo
crescendo
crescendo
 
at
é brotarem dois pontos
no final

selo seis
de que adianta minha melancolia se ela não me serve de nada?
há um desajuste de coisas internas e não há meios ou açoites que entendam tanta desolação. 
é um campo aparado e sem nada de vida que a chuva nunca consegue enxergar. 
um seco. é o que fica. 
um seco sem nenhuma explicação.
  
selo sete
 "o domingo é um cachorro escondido debaixo da cama. 
o domingo é essa eterna chuva de dentro que não passa."
Mário Quintana & Julio Carvalho.
  
selo oito
 o choro restava ali 
engasgado
quase saindo
 
e n
ão foi

último sê-lo
“não é o que o poeta nomeia, 
é o que a poesia incendeia.” 
Adaptado de Affonso Romano de 
Sant’Anna
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