quinta-feira, 30 de setembro de 2010

das nuvens...

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"Quando se substituí a escrita pelo pensamento,
aqueles que são privados dessa imagem sensível
correm o risco de não perceber mais que uma massa informe
com a qual não sabem o que fazer.
É como se tirassem os flutuadores de cortiça ao aprendiz de natação."
Ferdinand de Saussure.

fog
ilustração de Paulo Alan Deslandes Fragoso
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fog

estava com
um nevoeiro na minha fala
e entre os olhos tive uma impressão
de ausência
tive poucas coisas
para ouvir
naquela pouca noite só
estava eu e a rua
o ruído era mais o dos carros
e de algumas poucas vozes
e de bêbados atores e de cães atrapalhados e de quase sempre o silêncio
que era a coisa mais bonita do mundo dentro tudo
esse silêncio isso
mesmo era a única coisa que
dispersava
o nevoeiro da minha fala
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domingo, 19 de setembro de 2010

das parcelas...

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"A vida pode ser muito melhor do que aquilo que a gente se acostuma."
Gilson Coelho
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cadaumqual

a parte mais estranha de mim
é esta coincidência de que existo
e como eu faço dito isso
se com fala não tem jeito?
eu surgi não sei de onde
e apareço sem mais nem menos
ao menos eu sei o preço
do tamanho das minhas tristezas,
das alegrias alteradas e dos
estados brutos
de diamante da alma
na rua atravessado de veículos
ordinariamente desorganizado
o trânsito é só um sinal
engarrafado dos transtornos de dentro
precisam-se de sinais verdes amarelos vermelhos
em seus devidos lugares
eu sou mais complexo que um poema
não tenho dono nem autor
por isso autorizo-me o tempo todo
a alterações de humor e afeto
com todos os seres humanos
que vivem sob o mesmo meu teto
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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

das criações...

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"Meu assunto por enquanto é a desordem."
Ferreira Gullar
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caballa elements by Julio Carvalho
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Parabellum

Si vis pacem, para bellum

a minha alma a guerra interna
os resultados do puro êxtase criativo
e os sonhos
as passagens sobre as coisas
e os estados das pessoas
as varizes das ruas
a estética e os resultados
da memória não se cogita
ela prega peças
a criação é só um ponto de vista
uma bala, um açoite, uma faca
atravessada numa idéia fixa
a lâmina enferruja e cria
e ferrugem vira poesia
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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

dos resultados...

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"Pode a propaganda ser poesia, a propaganda inspirar poesia
ou mesmo poder se vender a poesia-propaganda como resultado?"

Julio Carvalho
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da nossa alçada

cada poema feito é uma rua
voltada para cima
a proporção inversa
das coisas vez em sempre
é uma saída

centro da cidade
todo dia é igual
até que uma inspiração
muda tudo
um quase poema ao vivo
entrespelhos na calçada
as luzes e os reflexos
invertido o céu com o chão
céu que é bem vindo em verso

inverso
até o céu vira inspiração
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