terça-feira, 30 de julho de 2013

dos infantes...

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"pense
na infância
que você não deixou"
Julio  Carvalho
































crianzada


alma é a pele
alma pede e apela
alma não fala
mas sente
feito pele
alma sente sede
sente fome
alma sente
muito bem
o que fica ausente

"Alma é a pele" - Alex Gustavo Palomeque, 7 anos

de onde sai o sol é o céu
de onde sai o sal é o mar
(eu sei que não sou se não amar)

"Céu: de onde sai o dia" - Duván Arnulfo Arango, 8 anos

o universo interior
casa das estrelas
causa de estados
de caos

"Universo é a casa das estrelas" - Carlos Gómez, 12 anos

sexo
complexo de Édipo
complexo de Adônis
complexo de Electra
complexo de Inferioridade
complexo de Peter Pan
complexo  de Frankenstein 
complexo de Superioridade
é o sexo na maioridade

"Sexo é uma pessoa que beija em cima da outra" - Luisa Fernanda Pates, 8 anos
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"Perdi o céu porque já era noite quando eu cresci" - Julio Carvalho, 48 anos
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domingo, 28 de julho de 2013

dos desdesejos...

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"o amor coloca o ódio no isopor"
Avenida Q






















o desgaste da palavra

desdesejo

terminou de memorizar a imagem       
ontem ao meio-dia
agora detalhadamente lembra:
retratou-o de jeans cinza escuro
com um ziper até embaixo
uma camisa brancaberta
para aparecer também 
algo da beleza      
do peito
do pescoço
a testa reta
quase inteira 
coberta por seus cabelos
seus belos cabelos 
(usando o penteado       
que é o hype deste ano)
existe o tom absoluto-sensual 
que quis insinuar
quando franzia os olhos
quando lambia os lábios
sua boca
seus lábios 
feitos para a satisfação       
com seu erotismo secreto

adaptado de K. Kaváfis
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sábado, 27 de julho de 2013

das nuvens...

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"Não me prendi. Entreguei-me completamente e fui.
Para os deleites que, metade reais,
metade revolvidos em meu cérebro estavam,
fui, em plena noite iluminada.
E bebi dos vinhos fortes, assim como
bebem os destemidos do prazer."
- K. Kaváfis





























.......
nuvem

essa coisa de torre de marfim aberta aos céus me fascina
a dureza vadia da alma inventada
faz de conta que é dureza
mas não é nada

.......
amor residual, acho tendência.

não acho tendência
acho certeza
- certeza de não estar
.......

ontem foi foda 
e hoje acordei sensível
demais para um só
acho que estou muito cheio de
esvazio-me
nem sei como

hoje
procuro
alguma poesia
que me
acalme
.......

a gente não gosta do que é igual. 
a gente gosta do que complementa

é tanta palavra que precisaria de um avental no corpo
por enquanto babando silêncios

entre a palavra em branco 
e o silêncio dos cafés
o desesperador contágio 
entre corpo e alma:
a linguagem sofre
calada

desdisse
o amor
ao contrário

queria ser igual
ao rascunho do poema
que não tem vergonha
de errar

o infinito mais breve 
acontece
quando a gente quer
ganhar o ar

.........
um sentimento de mais ou menos
um meio dia
um meio frio
a meia coberta de garoa
em plena Paulista
almas congeladas
o farol preso
no verde

sigofrio
.........

e minhas vírgulas sobrancelhas...

............
ossos de inverno
se confundindo com 
os ossos do 
ofício

egopress:
caí em mim
tropeçando
indecididamente

quero frases como aquela que foi embora e deixou saudade
frases misteriosas são precedidas do desejo de conhecê-las

o poeta sai do homem
vira poema
entredor e alegria

cada um cadáver como quer ver

aguardando
um estado
de imaginação
sem divagações


não espere 
no final 
só há o fim 
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domingo, 14 de julho de 2013

das florações...

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"fui sabendo de mim
por aquilo que perdia"
Mia Couto





















aguardando

a estréia
da imaginação
sem divagações

o passado 

são os homens sem pressa
as velhas árvores desgarradas
os postes sem interrogação
a falta de luz
e abrigo
o passado
não se passa
mais
como 
antigamente

política do carvalho:

eu como árvore
resino

eu tinha coisas

invisíveis
com óculos
eu fiz coisas
indizíveis
com olhos

me ame quem quiser
meu olho é cego
toda noite há um não no meu espaço
os sins
me abandonam
regularmente


.....

nos vários tempos idos
por só um 
tempo
tenho
sobrevivido

toda hora aguardo um novo agora
e sempre


......

desculpe o transtorno:
estou te confundindo
para me organizar


zona de conforto = pisar em ovos cozidos

a inspiração é minha verdadeira engrenagem

câmera secreta:
minha fotografia
é
interna
com revelações
absolutas


eu tenho um piano 
dentro de mim
por isso sou tão
claroscuro


esqueci um poema:
perdi o tempo
lírico
das flores


em dias gourmet
quero todos bem passados
por favor!


.......

"prelúdios

a chuva é só um detalhe líquido
a rosa um detalhe rubro
o quintal um detalhe lúdico
o ocaso um detalhe súbito

primórdios

ensandecido, assim, de tanta falta
desenho a solidão numa árvore"
Adaptado de Assis Freitas


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quinta-feira, 11 de julho de 2013

dos transbordamentos...





"transbordo 
não nego
volto quando couber"






















pause

eu não sei ser pássaro
não conheço a história do fogo
mas acredito que a minha vontade
deveria ter asas

justiça poética
se faz
às cegas

quero separar o joio da entrega

veneno:
sou forjado em cobras de arte

quero poemas mudos
que entram pelos ouvidos 
e saem pelos olhos

quem espero só me cansa

hoje sobe-me o mar
em ondas
sonoras
preciso de silêncio em concha
de ondas do mar
que não morram na praia

de que adianta você vir música se eu sou orquestra?
de que adianta você vir palavra se eu sou poema?

as bocas e os avessos
tem tropeços
incomunicáveis

eu não vasculho
os navios
naufragados
sem âncoras


crônica para um desinteresse repetido:
pessoas que vazam
do zero
e se alimentam
de nada


indo a saturno
para tentar ser
menos
soturno

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sábado, 6 de julho de 2013

das compulsões...

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"sou o palhaço de um circo em chamas"
Julio Carvalho
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se o prazer está em jogo
eu desisto
e jogo cartas
na mesa

tudo confuso hoje está bom

a cura 
possivelmente
para muitos 
é a infecção

a língua presa
em algum limo
no céudaboca

quando eu fui feliz
eu não estava ali

eu prefiro andanças
que mudanças

essas frases expostas 
não são óbvias
eu disse palavras
e não concertos
erros são assim:
feitos para adivinhar
poemas

para tirar você do poço
basta um nó de marinheiro
um dia inteiro de balde
de água fria
e bom senso
estético
entressesnós
na garganta

é em silêncio que me investigo mais

vou continuar com essas terras
com o disparate de não tê-las
e não plantar mais nada
essa terra é uma mina
se não tem ouro
tem minha sina

a minha santa ceia
foi canonizada

eu sou analogicamente incorreto
sou antologicamente incorreto:
antagonismos agonizantes

foram-se os dedos:
eu tive a impressão digital 
de que você não existe mais

a gente percebe que mudou 
quando uma música 
passa a ser 
mais importante 
que um encontro

microscópico
esse fato transitório
de esperar
sem resultados
é causa para balanços
e reflexões

oi 
então 
é um oi 
o que eu faço com um oi? 
um oi serve para 
dizer olá 
oi 
é um modo curto de chegar
oi é um olá com preguiça
um oi é um encontro preguiçoso


quem precisa de faíscas se já é de fogo?

além do engano
o nu sem pano

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sexta-feira, 5 de julho de 2013

das monstruosidades...

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"quem quiser ganhar o ar o quanto antes 
está livre para ser aquilo que nunca foi nas entrelinhas. 
aqui estão as novas máscaras feitas de nuvem."
João Pedro Wapler
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nos momentos de pressa 
as palavras fogem. 
os olhos se abertos 
vão virando água
se fechados
vão virando confusão

boletos 

da alma
a pagar
com as contas
do tempo
infinito

ser ou não ser

eis o que sonho

ritmo do poema:

a palavra dança
eu canto
tu espia
eles 
poesia

há uma lenda que

há muito tempo
atrás
um poema se manifestou
na rua
com cartazes e tudo
(e caiu no branco papel
do não-ser franco)

eu sou o império dos sentidos

dos reinos perdidos
dos absolutos
se tentarem me invadir
eu peço licença
e saio
da dança

(pausa)


i see monsters


eu tive um ciclo monstrual

tudo virava monstros
era susto pra toda vida
um dia acordei
com um monstro do lado
ele me disse que não me deixaria
e não me acabaria
então aprendi a viver com monstros
mesmo que eles não me deixem em paz
eu calo os monstros
mesmo os que vivem dentro de mim
(os de fora são mais fáceis: eles cantam)
eu vejo monstros internos
com soluções
eu vejo monstros externos
com demolições

"O que não mata infecta."

Dija Darkdija

(fim?)


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terça-feira, 2 de julho de 2013

das germinações...

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"imagine ou germine" 
Julio Carvalho
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móbile 

diferente a arquitetura 
de quem nasceu
sob o signo dos incêndios 
o dia sempre nasce 
depois das cinzas

gente que se refaz
de nuvens