quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

dos números...

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"o que não é nada
é só um número."

Julio Carvalho
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numero
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expurgo

pessoa - lixo do desejo invertido
do esforço jogado fora
do erro do rejeitado
da peste e da praga
do insatisfatório
do nada
a vontade de não pode ser
armou
porque armas nunca teve para amar
pessoa negra maldade dentro

do branco
banco a alma
passo pela folha escura
e cuspo
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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

das sujeiras...

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"Palavras

A coisa
água.

o que me lava e move
feito moinho
de cabeça de vento

o que me acode todo momento

me escapa
por entre os ares

todo poema é uma sina

amares as palavras e tereis uma obra de vento em polpa de línguas vivas
"
Julio Carvalho

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água rápido

sair limpando tudo porque não
tenho tempo não
pra esses desvios de mãos
esses escapes de poço
de bocas de lobo

essa sujeira toda

quero atalhos
qualquer alegria sem desvio
sem o desvario das drogas injetadas
sem o descontrole massivo
da poça estagnada

querendo mais ser um contorno
limpo
num canto de boca
abandonado
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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

dos queimados...

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"E eu impávida finjo que não tenho dono.
Pontas de cigarro apagadas eu recebo.
Um dia vou pegar fogo."

Clarice Lispector
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under fire
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as palavras tem o fogo da distância

quando a viagem é longa
um drama
se média a distância
talvez
o tempo
a um conto sirva
quando a viagem é curta
um poema
basta

mas
se a viagem for interna
aí, então, o fogo próprio
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sábado, 18 de fevereiro de 2012

dos status...

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"Odeio pessoas felizes e faço de conta que sou
é uma espécie de aprendizado
meu antidepressivo é fingimento."

Julio Carvalho
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status pessoa
brasil pq11
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status pessoa

um terço de tudo
um texto de tudo
tudo é uma palavra muito
ampla
amplo é demasiado grande
e não se cabem todas palavras
na boca cheia de ideias
ideias são ideais
retransmitidos ao vivo
pela boca
para isso
para cada boca livre
existe um mundo
cheio
de tudo
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dos afetos...

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"Eu ainda existo no ponto de virada do mundo."
Julio Carvalho
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#fato

estou cheio de afeto
mas não vazo
estou cheio de raiva
daí eu vazo

só guardo muito
o que está de bom tamanho e faz um bem
insustentável
mais que isso ou dor mal passada
vira raiva e esvazia
só guardo além de mim em tanto
quando muito mesmo
mágoa
no mais
não afeta

chega!

o afeto
guarda
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das construções...

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"Solucionados os questionamentos do niilismo, do materialismo, do determinismo - solucionados todos os "ismos" - podemos nos amar agora?
É o que importa não?"

Julio Carvalho
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escultura reversa do inconsciente
Tratamento de Imagem Sobre Foto de Tatewaki Nio
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O que você vê da sua janela.
A paisagem é única.
As janelas são várias.


A começar pela constatação de que nossa memória expande-se e se materializa nos espaços que habitamos ou por onde frequentemente passamos.
E como poderia ser diferente uma vez que dificilmente nos vemos ou, por outra, só resta o olhar pelo lado avesso dos outros?
Vai daí que nos percebemos em relação ao que nos rodeia.

Somos, pois, constituídos pela mistura violenta de cheiros e sons provenientes das ruas, do aroma insuportavelmente doce do cheiro dos outros, quando estamos obrigados a promiscuidade das lotações; somos as buzinas, as sirenes, os alarmes, e também as conversas incessantes, em grupo ou solitárias, o prenúncio da chegada do próximo trem do metrô: o som surdo, que primeiramente se escuta pelo lado de dentro.

Somos o extrovertido dos anúncios luminosos, cartazes, a impressão das revistas expostas nas bancas de jornal, desejando que as olhemos de perto, em contraponto com a regularidade imponente das fachadas e dos desenhos das calçadas.
Estamos nas beiradas das caixilharias das janelas, nos revestimentos especulares, como os que levam vidro, nos nervos expostos das estruturas que suportam as coberturas, no alto dos prédios, pretendendo inventar formas de diálogo com o céu ao mesmo tempo que os prédios nos obrigam a olhar para cima.
Tudo uma quase oração em peso pela cidade.
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PS: “Estou convencido de que as separações, os divórcios, a violência familiar, o excesso de canais a cabo, a falta de comunicação, a falta de desejo, a apatia, a depressão, o suicídio, as neuroses,os ataques de pânico, a obesidade, as contrações, a insegurança, a hipocondria, o estresse e o sedentarismo são responsabilidade dos arquitetos e da construção civil. Destes males, salvo o suicídio, padeço de todos”. In Medianeras.
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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

dos precisos...

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"O mundo sempre foi vasto.
Hoje é pessoal e intransferível.
Consenso é difícil.
Unanimidade é burra."

Rui Werneck de Capistrano
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penso, logo julio
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primeiro penso

eu tenho dias preciosos
não precisos
não preciso dos dias inúteis
e de suas críticas
ácidas
não preciso dos dias
que não vão dar em lugar algum
não preciso de princípios
nem de princípios
nem de meios
nem de fins
afinal
os dias são o único princípio
de eu estar aqui
isso é o que preciso

o ficar já é precioso
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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

dos pontos...

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"Gente inteligente não se entedia, se angustia.

Com o passar do tempo a memória
foi se acumulando no esquecimento.

Minha acidez é a indigestão provocada pelas coisas comuns."

três pontos - Julio Carvalho
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Consumação Mínima

Há tempos estou consciente de que não tenho passado. Não tenho passado. Só tenho futuro. Se eu não me engano, errei de ano. Errei de fase e de frase. Quero ir direto ao futuro e pular esses absurdos. Esses abusos intermináveis de horas e lugares falsos. Quero um futuro de dias verdadeiros e olhos abertos. Meu lado é outro e não é esse igual ao de todo mundo. Quero outro mundo. Não foi esse que escolhi. Queria me mudar. Tarde demais. Nasci aqui. Fico infeliz inconformado, disforme e mudo. Sobraram as revoltas e algum futuro. Quem sabe eu furo esses olhos do tempo e passo tudo para frente e as coisas melhoram. Ou não.
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