sábado, 18 de fevereiro de 2012

das construções...

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"Solucionados os questionamentos do niilismo, do materialismo, do determinismo - solucionados todos os "ismos" - podemos nos amar agora?
É o que importa não?"

Julio Carvalho
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escultura reversa do inconsciente
Tratamento de Imagem Sobre Foto de Tatewaki Nio
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O que você vê da sua janela.
A paisagem é única.
As janelas são várias.


A começar pela constatação de que nossa memória expande-se e se materializa nos espaços que habitamos ou por onde frequentemente passamos.
E como poderia ser diferente uma vez que dificilmente nos vemos ou, por outra, só resta o olhar pelo lado avesso dos outros?
Vai daí que nos percebemos em relação ao que nos rodeia.

Somos, pois, constituídos pela mistura violenta de cheiros e sons provenientes das ruas, do aroma insuportavelmente doce do cheiro dos outros, quando estamos obrigados a promiscuidade das lotações; somos as buzinas, as sirenes, os alarmes, e também as conversas incessantes, em grupo ou solitárias, o prenúncio da chegada do próximo trem do metrô: o som surdo, que primeiramente se escuta pelo lado de dentro.

Somos o extrovertido dos anúncios luminosos, cartazes, a impressão das revistas expostas nas bancas de jornal, desejando que as olhemos de perto, em contraponto com a regularidade imponente das fachadas e dos desenhos das calçadas.
Estamos nas beiradas das caixilharias das janelas, nos revestimentos especulares, como os que levam vidro, nos nervos expostos das estruturas que suportam as coberturas, no alto dos prédios, pretendendo inventar formas de diálogo com o céu ao mesmo tempo que os prédios nos obrigam a olhar para cima.
Tudo uma quase oração em peso pela cidade.
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PS: “Estou convencido de que as separações, os divórcios, a violência familiar, o excesso de canais a cabo, a falta de comunicação, a falta de desejo, a apatia, a depressão, o suicídio, as neuroses,os ataques de pânico, a obesidade, as contrações, a insegurança, a hipocondria, o estresse e o sedentarismo são responsabilidade dos arquitetos e da construção civil. Destes males, salvo o suicídio, padeço de todos”. In Medianeras.
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