segunda-feira, 31 de outubro de 2011

dos alfabetos...

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"Em vão me demoro soletrando
o alfabeto do mundo."

Eugenio Montejo
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alphafont
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VIDA ABC

Para Drummond em seu aniversário.

Atentos às

Brasas que

Consomem

Dolorosamente

Estados d'alma e

Forjam

Grandes

Histórias

Impossíveis.

Jamais

Lamentamos as

Menores

Necessidades vãs.

Outras

Perguntas são só

Quase

Respondidas.

Somente

Temos

Uma

Vida e vez:

Xingar é

Zero
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domingo, 30 de outubro de 2011

das estrelas...

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"Poesia: pretencioso rebuscado de palavras
sobre uma idéia simples
que caberia numa frase curta."

@LitaRee_real
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poemasteróide

o poeta confunde autonomia com astronomia
o poeta é um só com todos
o poeta constelaciona-se com as palavras
fazendo estrelas
tão perdidas quanto seus versos

entende-se poesia como um quase amor de galáxias
(colisões são poemas)

o poeta se prende às estrelas
e constrói segredos poéticos
traduzindo nebulosas
em significados

o poeta reduz os buracos negros a luz própria
(tem a sabedoria do objeto que abraça tudo)

o poeta é de lua
de marte da guerra
de vênus do amor
intergaláctico sistema poermético planetário sideralmente recluso
o poeta vai além dos sistemas solares comuns
(o poeta é incomunicável no espaço)

o poeta vai além do corpo celeste
alcança o fundo e o fim de qualquer universo

além do asteróide
pária de qualquer cometa
o poeta vai muito além da colisão
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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

das desgraças...

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"poesia
hoje em dia
poevazia"


Julio Carvalho

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actually
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dentro de um café, foi ouvida a seguinte frase “poética” : uma angústia tal qual quando se observa um fungo no interior de uma tampinha de garrafa. fato: poesia sem limite e sentido. num caso grave desses, tal indivíduo merecia uma resposta assim:

poema da casa da mãe joana

na casa da mãe joana os poemas estão pelo chão nas gavetas compotas portas e pouco importa onde estão as palavras nas paredes redes estendidas e ditas gritadas janelas costelas de adão que criam uma eva morta - a veia poética da casa da mãe joana com barro com tudo misturado na maior confusão encontrada em cada buraco de rato com um laço de soneto solto sofrido apertado em cada ratoeira onde não existe nenhum gato de botas absurdas que cacem seus erros e a poesia de pouco soa já que o barulho é muito mais do que só um relógio de rimas badaladas soadas no meio da noite em que voam os morcegos perdidos sem som sem visão e basta um surto na casa da mãe joana e o poema sem graça se entranha na gente e consome quem come na mesa da sala porque poema ruim não em casa – só naquela outra casa – na casa da mãe joana que fica e entala, essa desgraça.
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domingo, 16 de outubro de 2011

dos impulsos...

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"Talvez eu deva mudar, talvez não.
Mas o que importa é o agora e de resto,
incerteza."

Caíque Rufato
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the king mad hatter
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habitante

querer sem querer
na ausência da vontade
displicentemente
à toa feito um susto
acordar molhado de chuva
sem entender nada
não ter seu gênio e existir igualmente
sem fazer pedido algum
uma fumaça à toa
um elemento

o desejo é espuma

a entrega é sempre
de vento em
pulso
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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

da autossuficiência...

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"Cansei do inabitado
Da brutalidade obscura
Do não reconhecer."

Natália Barros
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trespass justice
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Autossuficiência é o medo do sofrimento.

As pessoas se sentem autossuficientes porque não querem envolvimentos reais. Não querem comprometimento e correr o risco de se deparar com o desconhecido do outro e o desconforto com as decepções, as ausências e seus descontroles. Por isso preferem se manter longe de tudo criando um abrigo autossuficiente de proteção. Esquecem que algum risco é necessário e da necessidade de se deixar levar pelo outro. Usar a humildade como aliado sem se vitimizar, pode ter resultados surpreendentes. Aceitar que se é humano e saber quando pedir ajuda é uma das coisas mais intensas e corajosas de um poder ser mais humano. Não é uma atitude fácil. Mas é só assim que poderemos encontrar o verdadeiro carinho que muitas vezes não sabemos que está por perto e o ignoramos pelo fato de nos sentirmos deuses de nós mesmos.
E os homens enquanto deuses são falhos.
Julio Carvalho

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"quando não for mais tão tarde, tão rápido, tão tanto, então haverá uma curva no ar e a respiração demorará mais tempo para perfazer seu ciclo.
Noemi
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"O universo conhecido tem um amante completo e que é o maior dos poetas. Ele absorve uma paixão eterna e é indiferente a que acaso vem a ocorrer e que possível contingência de ventura ou desventura e persuade dia a dia hora a hora seu delicioso pagamento. O que perturba e choca os outros é o combustível para seu progresso ardente rumo ao contato e à felicidade amorosa. Outras proporções da recepção de prazer ficam menores diante das suas. Tudo que vem dos céus ou das alturas está conectado nele através da visão do amanhecer ou de uma cena dos bosques de inverno ou da presença de crianças brincando ou de seu braço em volta do pescoço de um homem ou de uma mulher. Acima de tudo seu amor tem lazer e expansão.... ele deixa espaço diante de si. Ele não é um amante indeciso ou desconfiado... ele tem certeza... ele rejeita intervalos. Sua experiência e as chuvas e os arrepios não são à toa. Nada o choca.... nem sofrimentos nem as trevas – nem a morte nem o medo. Para ele as lamúrias e o ciúmes e a inveja são cadáveres enterrados e apodrecidos na terra.... ele os viu enterrados. O mar não tem mais certeza da praia ou a praia do mar do que ele tem mais certeza da fruição de seu amor e de toda perfeição e beleza."
Folhas de Relva – Walt Whitman
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dos distanciamentos...

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"Há uma diferença muito grande entre
saber e acreditar que se sabe.
Saber é ciência. Acreditar que se sabe é ignorância.
Mas, cuidado! Saber mal não é ciência.
Saber mal pode ser muito pior que ignorar.
Na verdade, sabe-se somente quando se sabe pouco, pois com o saber,
cresce a dúvida, que é preciso idolatrar sempre!"

Fabrício Altran
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tudo
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"Tenho medo de quem não pensa
Os que não pensam
realmente são os mais traiçoeiros
pois os instintos podem pregar peças."

Pe Ramon Ferreira

Latrocínicos

a raiva tira as máscaras
toda vítima se isenta de culpa
a raiva é um tipo de afeto
amor é o pódio do desamor
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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

das brutalidades...

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"Eu falo o que eu posso, não o que eu quero."
Julio Carvalho
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Lana-Sutra-Double
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criatório

medo: estado bruto de nada
coragem: estado bruto do espírito
querer: estado bruto do desejo
vontade: estado bruto da força
amar: estado bruto do coração
perfeição: estado bruto da beleza
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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

das danças...

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“O que estamos desejando?
De onde vem toda essa saudade?”

Pina - Doc. de Wim Wenders
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le danse
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le danse

...e a dança começa onde termina a palavra

(reprise)

a dança do corpo começa
onde a dança da palavra termina
têm coisas que não tem como falar
a palavra acaba onde o corpo começa
diferente de
dizer “lua” e retratar com o corpo
e sentir “lua”

usar a tinta do movimento
acontece quando um
talento de corpos e palcos
se unem

é tudo uma linguagem que você pode aprender a ler

os corpos riscados ditando
regras
se bem que as regras do corpo são bem diferentes
são outras
e nem sempre estão
ligadas

(as regras do corpo também têm suas exceções)

há um desconcerto na vida
um desdobramento falho
uma desdança toda errada
muitos corpos não se entendem
não se estendem a outros
corpos corpos copos vazios
pelas palavras todas
amarradas

(será o corpo um copo
o tempo todo vazio de palavra
que não diz nada?)

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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

dos obstáculos...

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"aprender é com os tolos
eu desaprendo sempre
para querer saber mais."

super-ficial - Julio Carvalho
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rope-600x377
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contrapoema

para o poeta
os elementos são muito importantes
areia ou terra
pedras ou água
de alguma forma até icebergs e rochas aparecem no poema
quando escreve tornam-se obstáculos
o poeta tem que ir contra ou através deles
ou passar por cima deles
senão o poema não existe
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das resistências...

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"Não estou nem sã nem salva."
Natália Barros
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resista poética
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poemofilia

parece poeta, o pássaro
que por sobre a velha escuridão
manda um monte de palavras:
achado o pouso
descansa acabado
em qualquer lugar
seja felicidade, água ou rua
deserta

termina abandonado
o coitado
no selo de alguma carta
encostada

não sabe nada, o pássaro
do voo mais que correto
só quer espalhar
poesia
em cada ninho de página
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domingo, 2 de outubro de 2011

das orações...

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"mas nossa reclamação
tanto bate até que fura:
a Seca d´Alma é tão dura
quanto a Seca do Sertão"

Paulo Barja
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reza brevis

nada tive com isso
era só uma oração
a reza feita para querer
toda liberdade de estar no mundo quieto quieto quieto
feito um ninho apassarinhado

em cada coisa era um pedido
um sossego e um desmanzêlo
de ser nada mais que só vontade
vontade de melhorar um dia de outro de um dia pro outro e ter um dia de todo
mundo
sem as mágoas das lagoas secas do verão passado
quando os invernos se vão
e os quereres são amarelos de outonos pedindo água e poucas flores
de onde só queria voltar a ser um pouco mais igual a um jardim de infância
antigo

sem muita coisa
sem parada de meia estação
mas com infinitas primaveras
dentro
das mãos
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sábado, 1 de outubro de 2011

dos apanhados...

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"escrever não é dar de si. é agarrar o fora.
escrever é de fora, para fora,e por isso pode ser tão bom.
de mim já basta eu."

noemi
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cubo³
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surrÆlismo

apanhar da vontade
apanhar da vergonha
apanhar na altura do vício
arrebentar na onda do crime

vão se entender os trajetos
estender as consequências
dos tratos e maus tratos
sequelas de milhas
e milhas da meia vida-espelho

(cada um que se faz)

entre amar e maremotos
entre arrancar e arriscar
entre tanto e um manto
escondendo algum desgosto

(aposto)

entre aspas
as citações e ações da vida tem
outra forma
de dizer
"apanhei,
mas estive
ali
dentro"

(resisto)

(registro)

(aqui)
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