quarta-feira, 21 de maio de 2014

dos culpados...

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"toda matéria
faz buracos
na memória"
Julio Carvalho
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outerspace

coisas que lembrei 
e aí esqueci
para ficar no presente
a vida residente
lê-se nas paredes
os corpos presos
onde súbita
poesia 
continua a girar
girar
girar
como o dito pelo não dito
formigando
entre os dedos
as mãos postas
implorando
textos
por favor se não me inspiro eu
que me inspirem os senhores
a poesia tem me demorado
feito
açoite
onde estão meus números?
onde estão meus sonetos?
onde estão todas as rimas?
que se imprima isso 
como documento de acusado
faltou poesia
e não se acha 
nenhum 
culpado
.............................................................................

para sua insegurança
sua vida
poderá 
não ser
gravada
.............................................................................


a todos que um dia pressentiram
os passos deslumbrados da poesia
soarem em sua alma
saudoso dia
que mais humanos
graves e mais tristes
para sempre os fez ficar assim
a todos nós
que amando 
o amor 
sentissem o impossível
que vendo o mundo
amaram o invisível
e ouviram no canto a voz da poesia
de um reino imerso
em névoa clara
uma ilha na solidão
e deslumbrados 
ergueram 
palavras no vácuo
para reanimar e acender
o mundo 
sob esse céu que acolhe a todos
consolados
pela luz 
da mais casta 
entre as estrelas
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segunda-feira, 5 de maio de 2014

das costuras...

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"depois do corte
só o que move
sangra"
Julio Carvalho
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quem muito pensa
não faz vento
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relembro
a pornografia
diária 
das janelas
antigas
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caos_as

pessoas incapacitadas
entre o afeto
e o deserto

entre o afeto
e o fetiche
(isso nunca deu certo)
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estou no meio.
nem no fim 
nem no começo
estou em uma parte
em qualquer parte:
em mim

— com Raffab Viana
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dos causadores...

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"o que empobrece o salto poético 
é não ter coragem de saltar."
Nicolas Behr
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foto de Fernando Schubach



























(repost)


o seco nos olhos 
que não tem lágrima que seja
suficiente

e nem nada que venha de dentro
inunda ou completa

somente
silêncio

e os acasos colados nos postes 
– esses cartazes
grudados no meio da rua

onde o tempo é roubado
impiedosamente

a cor é cinza
.......................................................................


estou com um seco
por dentro 
que não tem lágrima 
que seja
suficiente
qualquer lágrima
liberaria
os canais
das minhas
lembranças
por um instante
brotariam
águas transparentes
que me botam
para fora de mim
eu remo pelos canais do sal 
das minhas águas 
que secam a saliva 
que nunca existiu
não sigo esse rio
eu seco
às margens
emerjo
me sacudo
me safo
me lavo
essa muita água
solta
me salva

- com Fernando Schubach
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