quarta-feira, 30 de maio de 2012

das chances...

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"O que é demais nunca é o bastante
e a primeira vez é sempre a última chance."
Renato Russo
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cara metade
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construindo promessas de amor a desconhecidos


quem é o outro que aperta o gatilho?
o cupido vendado disfarçado de ódio
a seta reverte sem nenhum antídoto
o amor vendado pela ignorância
o amor vedado
o ódio como uma paixão comum


(ao enxergar 
o problema se torna seu)


caminhos poucos até o amor
mais túneis do que estradas
pontes internas inúteis
ligações diretas
com amores rápidos
intransigentes 
intransitáveis


e voltam as estradas
e as construções críticas
e as precárias formas do corpo


então o verbo amar
muda de sentido  e se conjuga
subjugado aos modos
desconhecidos
assim como um paliativo
não tem cor por sua velocidade


promessa rápida não se processa


o outro nem pensa
nem tempo tem
o que resta é a direção
sem dor 
sem reta
sem flecha
sem noção


apáticos 
concordamos


sendo assim
acabou-me
acabou-se
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terça-feira, 29 de maio de 2012

dos escapes...

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"juntar frustrações se chama tragédia"
Julio Carvalho
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pontual


as horas de fato
passam por ponteiros:
o tempo só existe
em dois tamanhos
tempo grande
tempo pequeno
o terceiro tempo
é o tempo fim
quando as horas
sem tamanho 
acabam
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segunda-feira, 21 de maio de 2012

dos olfatos...


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"inverti o meio pra chegar a um fim."
Julio Carvalho
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astro alta
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ao fato

ar é o que eu respiro
do meu nariz eu não duvido
ar de dentro e fora
é o que eu respiro agora

na praia ou na cidade
o ar tem diferença
na praia é o ar de sal
na cidade o ar fatal

ar que  falta é o ar puro
na cidade é poluído
na montanha eu respiro
um ar mais construído

mais estranho na verdade
é o que dizem na ciência
que o ar não tem cheiro
então o que fica é o olfato
do ar de cada um 
que tem o cheiro 
que cada um pensa
já que o negócio é abstrato
o que vale é a referência
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quinta-feira, 17 de maio de 2012

dos natimortos...

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"poetas e tontos se compõem com palavras
............................
ao poeta faz bem
desexplicar"
Manoel de Barros
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morte por flores
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objekt morten

acre a taçácido
invadestro
monstrinsípido
falicoutro
modesticídio
de
seríntimo
penetrandomeda
galaxiátimos
em pedrástases

mentiretílicas
surteropolitanas
escandescidas

num instantestalo
arrebentalúcido
de aurorescentes
seduspasmos
e ambliostros
gozântemos

falecitrágico
no solidifício
saltavoa
entremuros
roubalheios
amânternos

avidextremos
do amoreterno
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domingo, 13 de maio de 2012

dos martelos...

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"Onde reina a justiça do sonhado,
senhores do baraço e do cutelo?
Ela vem! E eu, ao fogo do flagelo,
mesmo em dura prisão assim metido,
na cadeia dos anos vou, detido,
retinindo o galope do martelo."

Martelo Agalopado - Ariano Suassuna
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dose
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martelo

porquê não deixam eu falar
ou eu falar
o que eu quero em
pregos
emprego uma força
e forma muito maior
pra retirar
o que não falo
se não posso forma enrosco
muito maior ainda
dentro desse corpo
que abrigo

queria um corpo de ferro
mas não tenho

coisa mais difícil essa coisa
de ser eu
madeira
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quinta-feira, 10 de maio de 2012

dos códigos...

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"O silêncio só permite olhares barulhentos."
Julio Carvalho
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bles-hero
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código do silêncio I

a grande perda de se falar demais
a grande perda de se ouvir demais
a grande perda de tempo pensando em tudo que
se ouviu demais
se falou demais

em boca e ouvidos fechados não entram excessos

código do silêncio II
engasgando e se esforçando por pronunciar minimamente algumas palavras

só as melhores
só as importantes
só que as palavras semente
as que vão germinar
quero o fruto doce das palavras
e seu fruto 
o mais maduro
que se espalhe por outras bocas
e tenha o gosto do pensamento bom
do alívio
do descanso
quero o respeito da palavra minimamente falada
minimamente ouvida
palavra plantada
em chão de certeza
sem mágoa
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quarta-feira, 9 de maio de 2012

˙˙˙sǝõsǝʌuı sɐp


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"Não tenho culpa 
se as coisas dentro de mim 
sempre saem ao contrário."
Julio Carvalho
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levinvert

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opɐıɹɔǝɹ oãʇuǝ ɐɹobɐ
 osɹǝʌ oʌou o ǝpıʌoǝpıʌ
sopɐɥןıʌɐɹɐɯ sǝןǝ sopoʇ
sopɐɹıʌǝɹ sopıʇuǝs so ǝ

ɐıɔuêɔǝpuı oɯoɔ ɯɐqɐɔɐ ǝs
sɐıɔuêɔıʇǝɹ ǝ sɐןnbɹıʌ ǝ soʇuod so

ɐpıʌɐǝɹ ǝ zɐɟ ɐʇǝod o
ɹǝʌıʇ ǝs ǝnb ɯǝu oʇısódoɹd o
ɐuıbɐɯı ǝs ǝnb opoɯ op ǝ
 ɹǝsınbǝnboıɹɔoǝpıʌ

¿oʇıɹɔsǝ ıoɟ oãu ǝnb ɐɯǝod o zɐɟ ɹɐbnן ǝnb
opıʇuǝs ɯéʇuoɔ ɐɹbǝɹ ɐp osɹǝʌǝɹ o ǝs
ɐuoıɔunɟ ɐɯǝod o ǝs osɹǝʌoǝpıʌ
osɹǝʌuı ɐɯǝod o ǝpıʌoǝpıʌ

opɐɹpoǝpıʌ
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segunda-feira, 7 de maio de 2012

dos desdéns...

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"eu tô tão azul
de uma nau
em blues"
Julio Carvalho
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blues
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desdém blues

des
solidi
fiquei
a solidão
uma coisa assim por dentro
que estava pedra de nau
em âncora

foi preciso
afastar
algumas
correntes

quanto tempo
convivo
com essa capa para afastar vida
com tal proteção
mesmo com tal proteção
não adianta de nada

(no meio de uma multidão
o que salva
é o grito
seco
pisoteado
dos pés a garganta)

poucas vezes vi o corpo
desconcertar-se
tanto
como nesses dias

salvo
manto de corpo
espera
enquanto não se
desespera

escrevi afiadamente
afinadamente
como essa porcaria de ponta
enfiada nesse manto
uma cor
vermelho
sangrei

um dia que não sei
surto

terça-feira, 1 de maio de 2012

dos arranques...

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"16 - Escritor com mandamento nem sai da cabeça. 
Fica preso no mundo das idéias. 
O verdadeiro escritor tem um lado de poesia indigente raivosa 
e outro lado de prosa desembestada. 
Escritor/poeta de verdade não se deixa mandar por palavra."
Julio Carvalho depois de ler "Os Mandamentos do Escritor"

. talk .



arranque

coisamaisdifícildomundo
continuar
esse negócio de sair da beira da estrada e andar no
meio
precisa impulso
e nem sempre tem
acontece que tem muita gente falando e
interferência não tem querência
empaca tudo
fica um estranho
ondefoique eu errei
oquefoi que eu fiz
tenhoculpa de quê
algumas coisas precisam ser desemendadas
a soltura das coisas
a soltura das escolhas

só assim acaba a beira

e cada eu por si
se corre pelo meio de tudo
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