sexta-feira, 31 de agosto de 2012

das escavações...

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"...el oficio de la poesía es excavación y descubrimiento de uno mismo."
Derek Walcott
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birds me
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Habeas Corpus

escrever para mim é uma necessidade metabólica
para entender o que se passa por dentro tenho que passar pelo movimento
das palavras digitadas
uma via para me entender, uma via para alucinar
nós poetas temos a mais absoluta liberdade para ler e fazer poesia
não depende da oferta e da procura de ninguém
depende de si mesma
é um ato gratuito por excelência
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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

das super_ações...


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"Desconfie de qualquer suspeita de perfeição."
Julio Carvalho
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carne fractal & órgãos extras*

não vim a ser homem
só para me fartar de angústia
quero poder fazer algo para digeri-la
quero poder fazer algo
nem que seja para morrer
pela minha própria mão
e não pela de algum assassino
poderia ficar maravilhado com tudo isso
mas não
posso ficar maravilhado
porque um animal voa
mas é que não apenas falo
estou pensando
penso que alguém pode ficar maravilhado
porque o que acreditou pessoa
pode ser ave
ou o que pode ser ave ou pessoa
pode ser qualquer outro animal que voa
deveria ficar maravilhado
porque o que se acredita que é
não é
não posso
por acaso fico maravilhado do que um outro não seja
ou do que eu nunca poderei ser
ou até do que acredito que sou
o homem animal é um cínico
nada mais
um cínico exercitado
agora mesmo eu sinto isso
sinto já o prazer da incógnita
a ponto de ser revelação que nunca se revelará
e mesmo sabendo que nunca há de se revelar
espera-se que se revele
então eu traço metas
e os traços me atravessam
porque isso de traçar-se
esse verbo rançoso que me ocorreu
tomou posse de mim
como eu não podia esperar
e sem nunca haver esperado
eu aceito:
a vida é superável



*texto construído a partir dos contos de Antonio Di Benedetto.

domingo, 19 de agosto de 2012

das interfaces...

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"Tem muito nome empobrecendo a imagem."
Julio Carvalho
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interface móvelinterface móvel
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replicante

sem uma inter
face
a pessoa
vai se aproximando
da literalidade
e assim como a palavra
em seu estado
de
dicionário,
embrutece.

eu sou a espera:
estou no seu pé
e onde mais você 
menos
espera
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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

dos son(h)os...


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"Uma letra. 
Agá.
A diferença entre o sono e o sonho."
Julio Carvalho
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gogh
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alvo_roço

eu deixo
eu mexo
eu deixo o dedo
mexer dentro
dessa ferida aberta
acerta
a seta
atravessada
no dedo
a dor é a dádiva
certa
a dor
é a única
resposta
aberta
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domingo, 12 de agosto de 2012

dos sustentáveis...


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"O olhar sustentável: 
ame-o ou deixe-o."
Julio Carvalho
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o.lhar raquel kogan -
creators project - 04.08.2012
o.lhar raquel kogan - creators project - 04.08.2012
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páginas arrancadas do leito dos olhos:

olhar
olhar
olhar
as
coisas
bonitas
são as
coisas
mais tristes
é preciso
aprender
como olhar as
coisas
sem
chorar

pimenta aos olhos dos outros não dá um tempo

olhar
é perceber
o tempo
das
coisas
com todo
cuidado:
olhar é delicado
e cada
coisa
tem seu lugar
de
olhar
sem mágoa
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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

dos objetivimos...



"uma coisa é sempre nova enquanto a gente não lê. 
só depois que a gente lê é que ela fica velha."
Noemi Jaffe


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o dia que eu virei pássaro - creators project - 04.08.2012

o dia que eu virei pássaro
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retrosódia

vamos disfarçar
os medos
ainda que não seja  hora de qualquer resposta
vamos fazer de conta que temos 
paciência
ainda que se queiram coisas 
atiradas pela janela

- o vínculo é o impulso mais difícil

é o mesmo livro lido
invertido
vamos inventar a normalidade
porque entender essa loucura de dentro
é íntimo e in_trans_ferido
vamos esconder
princípios
para atingir
outros
abjetos
vivos
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domingo, 5 de agosto de 2012

dos amplificados...

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“Se algum dia fui louco? 
Talvez, ou talvez a vida que seja. 
Ser louco não é estar quebrado ou engolir um segredo sombrio. 
É ser como você ou eu: amplificado.”
Do filme Garota Interrompida.
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 18 sentidos
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lentamente 
dentro do lugar de recolha do signo perdido
deixei meus dentes para fora
cravando impossibilidades
por dentro da fala me doem os ossos
aparentemente
uma vida entre revelações psicológicas
e exageros profanos
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- estou aqui brincando com os meus silêncios...
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eis a verdade vadia que meu corpo não explica
eis a diferença que não faço e anda fora do prazo
eis o fragmento que recrio para sobreviver
eis o momento disforme que aguardo
eis a vida que ninguém nunca vê em mim
eis a vontade aguardada
eis o breve
eis o ex
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eu quero um gosto preso entre parênteses
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