sexta-feira, 5 de junho de 2015

das coerências...

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"pois eu saio da história para cair na vida"

"os poetas dão coerência aos sonhos"

* líria porto
.
































sangue
é uma coisa
estranha
a gente sabe que tem
e que vem de dentro
e às vezes
nem
sente
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um amigo me ensinou
que o telhado
é a parte mais cara
da casa
porque 
o teto
protege
o chão
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as folhas de outono
caem amarelas
e se apegam
ao chão 
as folhas de outono
são memórias
da árvore 
as folhas de outono
são as fotografias 
antigas
as folhas de outono
são pisoteadas
pelo esquecimento
as folhas de outono
ficam presas 
à moldura 
do chão 
as folhas de outono
secam
a memória 
não
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post mortem

o que eu diria a minha mãe 
se eu fosse
vivo?
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a sentença 
do fogo
em pensamento
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raízes 
são coisas 
enroscadas
no carvão 
da memória
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o desejo
estrela-cadente:
ninguém sabe
onde vai cair
nem os seus
estragos
/afagos
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a vida
são os sons de tempestade
sem saber se vem chuva
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eu sou
por enquanto
enquanto
amanhã 
não vem
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a vida às vezes me dói 
mais que minha própria 
contaminação 
e eu não me dou
conta
de onde as coisas 
subtraem
ninguém 
nunca
está 
preparado
para o
menos
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queria beijar alguém 
com uma paixão 
que não custasse
nada
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meu corpo 
não funciona
amarrado
ao tempo
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atordoado
a garganta enrosca
se eu não leio
nada

atordoado
o poema enrosca
se eu não sinto 
nada
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obeso
o ócio crescia
e eu pensando
num poema
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anteontem a enchente
depois escuto
era eu
enfileirado
de lágrimas
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andava a procura do céu 
quando uma pedra 
me derrubou
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deus é eles 
é uma coisa todos
um grão de areia
que é planeta
um território de dentro
iluminado
é a inveja do universo
o beijo
da criação
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Thiago E: "escuro"



































eu sou de um tempo 
que deixou de haver 
a rua do ontem
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eu não sou tradicional
abandono os colchões 
e o sono no chão me fascina
eu durmo próximo às frestas das portas
e de janelas 
abertas
como que esperando
um sonho
que me traga argumentos 
pela manhã
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o amor 
esse mecanismo
desordenado
me rouba
vida
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ao dispor da fantasia 
usei o esquecimento 
agora ando nu
feito paisagem
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o arrepio 
é quando o frio 
se parece 
com a memória dos dias 
quentes
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derradeiro eclipse
seu olhar
enquanto eu durmo
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o tempo consagrado

a pessoa sem a palavra
sentia mais que desejava
era um não sem fim de silêncios 
pertencentes à objetos
muito muito quietos
uma parede falava muito mais
eram as entranhas dizendo as horas
era o corpo escurecendo
enquanto a vida passava
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eu não falo mais nada 
nem de soma nem de palavra
quero falar de sentir
de não saber o que eu sabia
esquecer afeição que era aflição 
cuidar desse cansaço 
modo do corpo pedir sossego 
quero encantar 
fazer uma coisa que ainda não existe
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uma hora para fazer um poema
e eu tenho que respirar muito
vamos fazer uma combinação 
você me lê e diz o que sente
deixo o meu respiro nos seus olhos
vá lá e sinta por você mesmo
e quando perceber
já foi feito o poema
tal qual liberdade
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os cometas
essas rusgas celestiais 
me atravessando
meus olhos
diariamente
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o frio
branco
e as
ovelhas
negras
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tudo o que eu 
descobri sozinho
sem ninguém mostrando
ou dizendo 
ou isto ou aquilo
é
pura curiosidade
engenhosidade
da ação 
sobre a reação:
respirar nem sempre é bom
foi preciso algum 
sufoco
pra suportar
a
descoberta
de algumas
coisas 
de
dentro
ou
fora
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a lua
a lua
a lua
sempre me enfeitiçou 
sem uivo
sem luva
sem cravo 
sem carinho
sem curva de beira
de estrada
a lua era meu choro
de criança 
assustada
e minha mãe apontava 
pro céu 
enquanto eu chorava
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Lições de Coisas para Pessoas

Eu poderia explicar um monte de coisas do porque agi e sou. Mas você não sentiu. Não chegou perto da minha imensidão. Eu sei que por um lado eu não estou certo, porque ninguém vai conseguir entender essa imensidão. E quando me deparo com pouco, recuo. Mas mesmo assim me exponho. Não tenho medo. Eu sou porque sinto. Coragens poéticas, talvez. Não senti nenhuma resposta depois do toque. Por isso recuo. E não mais me envolvo. Me protejo porque a água dentro da minha represa me afoga. Eu sei como conter. Queria uma fonte. Nem muito. Veio goteira.
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num gesto
polêmico
deixei de ser
obsceno
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a grande chance
cada um tem
sem olhar
ninguém
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a ação das coisas
sem contra-indicação
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a culpa pode ser geral
mas o
o pecado é seletivo

com Aline Coelho
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um pouco de cada coisa
sem se dar conta
de tudo
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sou um pouco de cada coisa
sem me dar conta 
de tudo
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eu soube
da loucura
logo depois
que eu nasci
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alucinação
é
quando eu vejo
o que ninguém 

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esquinas
são 
pontas
duplas
na cabeça 
da cidade
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pessoas bonitas
ficam mais bonitas 
nos lugares
comuns
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meu desejo é de vidro
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estou cansado de sobrenaturar
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deslocamento
e
intuição 
é perceber
coisas
desnecessárias 
em gente
exagerada
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se você 
não souber
olhar o mar
não queira
que ele te transmita
o que é o mar
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a manhã
tô ali
de manhã
acordei
nem me vi
era um susto
de sol a sol 
diariamente
uma janela aberta
do outro lado
a rua
cheia de gente
altos dos edifícios
precipícios
desde o inicio pensei que fosse
luz
e era sol
eu tenho visto pouco
mas solto
eu adivinhei
que era dia
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um nome
Bernardo 
nome bonito
atribuído 
por perto de estar 
ou ser
Bernardo
são, santo ou cão 
que estando perto
poderia
amanhecer
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mas na verdade
sou humano
e fico com outro
pela pele
pele
e acaso
quando
não me engano
eu sinto 
eu calo
e
amo
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rapaz
me beije em paz
quando
me deixe em paz
rapaz
não se é capaz
de ler
as veias
da minha jugular
quando
não se pode pensar
em tiro
água ou sangue
rapaz
seja capaz
de ter o bom senso
imenso
do bem que pode me causar
se ficar quieto
e me abraçar
.

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