"pois eu saio da história para cair na vida"
"os poetas dão coerência aos sonhos"
* líria porto
.
sangue
é uma coisa
estranha
a gente sabe que tem
e que vem de dentro
e às vezes
nem
sente
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um amigo me ensinou
que o telhado
é a parte mais cara
da casa
porque
o teto
protege
o chão
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as folhas de outono
caem amarelas
e se apegam
ao chão
as folhas de outono
são memórias
da árvore
as folhas de outono
são as fotografias
antigas
as folhas de outono
são pisoteadas
pelo esquecimento
as folhas de outono
ficam presas
à moldura
do chão
as folhas de outono
secam
a memória
não
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post mortem
o que eu diria a minha mãe
se eu fosse
vivo?
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a sentença
do fogo
em pensamento
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raízes
são coisas
enroscadas
no carvão
da memória
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o desejo
estrela-cadente:
ninguém sabe
onde vai cair
nem os seus
estragos
/afagos
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a vida
são os sons de tempestade
sem saber se vem chuva
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eu sou
por enquanto
enquanto
amanhã
não vem
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a vida às vezes me dói
mais que minha própria
contaminação
e eu não me dou
conta
de onde as coisas
subtraem
ninguém
nunca
está
preparado
para o
menos
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queria beijar alguém
com uma paixão
que não custasse
nada
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meu corpo
não funciona
amarrado
ao tempo
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atordoado
a garganta enrosca
se eu não leio
nada
atordoado
o poema enrosca
se eu não sinto
nada
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obeso
o ócio crescia
e eu pensando
num poema
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anteontem a enchente
depois escuto
era eu
enfileirado
de lágrimas
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andava a procura do céu
quando uma pedra
me derrubou
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deus é eles
é uma coisa todos
um grão de areia
que é planeta
um território de dentro
iluminado
é a inveja do universo
o beijo
da criação
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Thiago E: "escuro" |
eu sou de um tempo
que deixou de haver
a rua do ontem
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eu não sou tradicional
abandono os colchões
e o sono no chão me fascina
eu durmo próximo às frestas das portas
e de janelas
abertas
como que esperando
um sonho
que me traga argumentos
pela manhã
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o amor
esse mecanismo
desordenado
me rouba
vida
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ao dispor da fantasia
usei o esquecimento
agora ando nu
feito paisagem
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o arrepio
é quando o frio
se parece
com a memória dos dias
quentes
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derradeiro eclipse
seu olhar
enquanto eu durmo
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o tempo consagrado
a pessoa sem a palavra
sentia mais que desejava
era um não sem fim de silêncios
pertencentes à objetos
muito muito quietos
uma parede falava muito mais
eram as entranhas dizendo as horas
era o corpo escurecendo
enquanto a vida passava
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eu não falo mais nada
nem de soma nem de palavra
quero falar de sentir
de não saber o que eu sabia
esquecer afeição que era aflição
cuidar desse cansaço
modo do corpo pedir sossego
quero encantar
fazer uma coisa que ainda não existe
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uma hora para fazer um poema
e eu tenho que respirar muito
vamos fazer uma combinação
você me lê e diz o que sente
deixo o meu respiro nos seus olhos
vá lá e sinta por você mesmo
e quando perceber
já foi feito o poema
tal qual liberdade
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os cometas
essas rusgas celestiais
me atravessando
meus olhos
diariamente
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o frio
branco
e as
ovelhas
negras
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tudo o que eu
descobri sozinho
sem ninguém mostrando
ou dizendo
ou isto ou aquilo
é
pura curiosidade
engenhosidade
da ação
sobre a reação:
respirar nem sempre é bom
foi preciso algum
sufoco
pra suportar
a
descoberta
de algumas
coisas
de
dentro
ou
fora
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a lua
a lua
a lua
sempre me enfeitiçou
sem uivo
sem luva
sem cravo
sem carinho
sem curva de beira
de estrada
a lua era meu choro
de criança
assustada
e minha mãe apontava
pro céu
enquanto eu chorava
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Lições de Coisas para Pessoas
Eu poderia explicar um monte de coisas do porque agi e sou. Mas você não sentiu. Não chegou perto da minha imensidão. Eu sei que por um lado eu não estou certo, porque ninguém vai conseguir entender essa imensidão. E quando me deparo com pouco, recuo. Mas mesmo assim me exponho. Não tenho medo. Eu sou porque sinto. Coragens poéticas, talvez. Não senti nenhuma resposta depois do toque. Por isso recuo. E não mais me envolvo. Me protejo porque a água dentro da minha represa me afoga. Eu sei como conter. Queria uma fonte. Nem muito. Veio goteira.
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num gesto
polêmico
deixei de ser
obsceno
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a grande chance
cada um tem
sem olhar
ninguém
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a ação das coisas
sem contra-indicação
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a culpa pode ser geral
mas o
o pecado é seletivo
com Aline Coelho
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um pouco de cada coisa
sem se dar conta
de tudo
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sou um pouco de cada coisa
sem me dar conta
de tudo
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eu soube
da loucura
logo depois
que eu nasci
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alucinação
é
quando eu vejo
o que ninguém
vê
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esquinas
são
pontas
duplas
na cabeça
da cidade
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pessoas bonitas
ficam mais bonitas
nos lugares
comuns
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meu desejo é de vidro
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estou cansado de sobrenaturar
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deslocamento
e
intuição
é perceber
coisas
desnecessárias
em gente
exagerada
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se você
não souber
olhar o mar
não queira
que ele te transmita
o que é o mar
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a manhã
tô ali
de manhã
acordei
nem me vi
era um susto
de sol a sol
diariamente
uma janela aberta
do outro lado
a rua
cheia de gente
altos dos edifícios
precipícios
desde o inicio pensei que fosse
luz
e era sol
eu tenho visto pouco
mas solto
eu adivinhei
que era dia
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um nome
Bernardo
nome bonito
atribuído
por perto de estar
ou ser
Bernardo
são, santo ou cão
que estando perto
poderia
amanhecer
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mas na verdade
sou humano
e fico com outro
pela pele
pele
e acaso
quando
não me engano
eu sinto
eu calo
e
amo
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rapaz
me beije em paz
quando
me deixe em paz
rapaz
não se é capaz
de ler
as veias
da minha jugular
quando
não se pode pensar
em tiro
água ou sangue
rapaz
seja capaz
de ter o bom senso
imenso
do bem que pode me causar
se ficar quieto
e me abraçar
.
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