"transgrida
sua
linearidade"
Roberta Lahmeyer
.
ouvi recentemente sobre certa erva
que viceja os pensamentos
os meus vicejam
de outra maneira
vicejam na poeira
do passado
do vigor do já lido
do descabido
do sentido e do sem sentido
no alarido
do que me aflige e rege
nas vísceras
arrancadas
regadas pelo cotidiano
mas com muito mais vigor
pelo calor despertado
seria talvez
a necessidade de uma escolha?
entre o calor da raiz
e o que foi
arrancado?
Sergio Sanches e Julio Carvalho
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tudo o que foi quase
um poema
veio com vontades
e talvez seja essa febre interior
que me faz
corrigir com lágrimas
a posição das rimas
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"Um antropólogo propôs uma brincadeira para algumas crianças de uma tribo africana.
Colocou um cesto de frutas perto de uma árvore e falou que quem chegasse primeiro ficaria com elas.
Quando ele deu o sinal todas as crianças deram as mãos e correram juntas, chegando ao local elas sentaram e compartilharam as frutas entre si!!!
Quando perguntaram às crianças porque quiseram correr todas juntas quando apenas um poderia chegar e ganhar o prêmio, elas responderam:
UBUNTU: como pode um ser feliz enquanto todos os outros estão tristes????
UBUNTU na cultura africana sub-sahariana quer dizer: “EU SOU,PORQUE NÓS SOMOS”
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warhol |
mas quando escrevo
cuido da palavra
que habita
o coração
e se desloca
do repouso à boca
a fogueira só tem fogo
quando queima
com vontade
e as faíscas sobem
do repouso à noite
na madeira úmida
o fogo não espalha
na palavra seca
colocada na sombra
não tem poesia
e o coração falha
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o ódio
do pão
entorpecido
de cada
dia
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conheço o jeito certo
de fazer errado
conheço de memória
o que não me interessa
conheço pelo som
o que não faz sentido
conheço tudo
até o meio do caminho
sei até onde vou
depois dali não passo
conheço com frequência
o que não acontece nunca
conheço pontualmente
a falta de horário
conheço e recomeço
e logo mais esqueço
pois tudo o que aprendo
está do lado avesso
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o princípio
da certeza
foi também um dia
a indecisão
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sem essas meias verdades
dentro dos sapatos
desescrevem
a sola
que ele não pisa
porque lhe falta
tudo
se alguém o visse agora
estaria descalço
pisando no carvão
incendiado
depois
da
fogueira
única
coisa
nua
é o fogo
que o contém
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poesia
pra mim é cortar
o cabelo
e depois de grande
cortar de novo
sem dó
até o calvo
poesia é descalço
descabelado
descartado de fios
e palavras
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vaga
é uma coisa
que não tem lugar
um espaço
em branco
disputado
em cada
palavra
não há vagas
em lábios
e almas
paradas
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seja agora
a desconstrução da ansiedade
dedos. longos. unhas roídas
(estou só a brincar com o tempo)
os dedos resumem a raiva que sinto
e o tempo é essa coisa agarrada
debaixo das unhas
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boca aberta
e o rugir monótono da consciência
a língua míngua no pensamento
que não para de rir
então por favor
mande para qualquer lugar
esse congresso inútil de salmos
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dentro do livro
cujo título era
DEVORA
irônicos esses livros em branco
devora palavra com tanto espaço vazio
o meio devora o corpo
o branco devora o corpo
a palavra permanece quieta
enquanto o livro
em branco
devora
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"todos me acham que sofro de miséria
faço de cada história um reboliço.
mas devagar essa cicatriz banal eu escrevo;
esse ardil de loucos é um poemário;
um documento daquelas minhas dores.
tudo vai mal, dizem. tudo vai !
vai a raiva tão simples como fazer perguntas;
vai de passada qualquer maluco palpitando
[muita gente;
e vão outros palpitando os relógios
[automáticos:
...tic-tac tic-tac tic-tac...
os tique-taques nascem das nossas bocas.
bocas dissolvidas. noites volêmicas..
os sentidos moídos na rua dos atritos."
psiquiatria II - João Tala
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nasceu em mim uma fonte
que nada sabia dessa água
até encontrar a margem desses poemas
que quiseram impor limites
mas as águas violaram
as margens
porque verdadeiros poemas
dispensam limites
e jogam constantemente
suas muitas e muitas palavras
para que cheguem até muito longe
e ultrapassem os mares
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"de sobras de esquecimento
e flocos de desassossego
se tece a rede da memória
enquanto de retalhos de luz
e de cacos de verdades e mentiras
se constroem mitos"
Arlindo Barbeitos
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há um discurso de facas
na fronteira deste poema
línguas de fogo
economizam rimas
deslizam águas
lapidando pedras
no duro frágil
coração do poeta
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