quinta-feira, 1 de setembro de 2016

dos mundos...

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"as palavras como se tirasse água de um ovo pelo buraco de uma agulha.
os sons como se agarrasse a luz de uma pedra.
os ardidos como se contornasse as cordas vocais com a língua.
as cores como se uma sabiá atravessasse o pacífico a nado.
os abraços como se uma criança faminta soprasse um apito infinito
e o mundo parasse, ouvindo-o. esse som,
escutem,
a espera acabou e seremos todos salvos,
como se só ela, essa criança, nos lançasse para o sol."
Vertigem - Noemi Jaffe

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parece que o ódio não é feito para agora
as vísceras ainda não estão prontas
para tamanha degola
aqui também
aqui como no outro
qualquer um outro do lado
até a periferia dessa cidade
o infinito
campo em que morre solitário o grito
aqui também o traço
o poema
o louco
aqui também o voo secreto
que por sobre os arquivos da história
corta muito cedo sua memória
aqui também o místico alfabeto
aqui também
um poema se forma
tenho medo deste meu coração de fogo
há nele tanto incêndio e desespero
milhares de pedras por cima
pronto a se tornar suicídio
tenho medo
por que as fagulhas pararam
e eu mato
em segredo
o ligeiro dos incêndios
devorando suas faíscas
tenho medo deste meu coração de fogo
que molda pedras de ódio
temo pelas pedras que moram nele
por que sei que viro lâmina afiada
e que se voltem contra mim
que quebra o sólido
e não satisfeito
suicídio
ou assassinato
porque meu coração não é oco
para qualquer ausência
e das fogueiras que abriga
enormes
nada vive desde que não tenha sido
fagulha
e o que fazer com o amor
neste manto estreito?
que fazer dos ferimentos
pelo gesto repetido de amar?
mais de quarenta dias acordado para o vazio
quarenta noites abrigando silêncios
e muito pouco corpo
para realizar tanto fogo
queimar bandeiras
desenfrear paixões
carbonizar medos noites adentro
não sou desses que esperam
paciências não é uma ciência que aprendi
sou dos que não querem nem chegar
sou de partir
de parir fagulhas
e no precipício
ainda me incendiar
inteiro
espero e agora escuto:
há um alarme no ar
nesse corpo foi estilhaçado
o cadeado vermelho
do meu
desejo
o difícil é escrever sobre tudo isso
com o coração de um bípede profanado
em sua vaidade assassina
ou suicida
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como todos
os amantes
e as pessoas tristes
eu sou um poeta
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são vários os lugares de espera
pode ser aquele emprego insatisfatório
ou um relacionamento vazio
uma vida acadêmica/monástica infinita
todos esses lugares 
apontam para um estar à margem
um lugar que é
na verdade
ou talvez
um protesto por algo que não se é
não sou um gênio
não sou nem santo
não sou feliz
não sou livre
(nem todos somos gênios/santos/felizes/livres)
lugares cercados por nãos.
quem gostaríamos de sensibilizar?
quem deveria ouvir esse protesto
e vir ao nosso encontro?
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cuidado
você não está
mais num país perfeito
tão cego
quanto
eu que nem
enxergo direito
vi a loucura estranha
crescendo
na alma de muita gente
mas muitos tem sorte na sua ignorância
assim como eu
no meu isolamento
você
que sofreu
descobre
onde o amor
se esconde
bem mais fácil
que os outros
então

compartilhe
escreva sobre
e perca
senão morreremos todos
sem desabrocharmos

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