quinta-feira, 13 de agosto de 2015

das sementes...

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"são túmulos de tempos antigos, velhos.
neles há gente que dorme um sono eterno.
nem ódio, nem inveja há no seu interior,
nem amor, nem zangas de vizinhos.
os meus pensamentos não podem, quando os veem,
distinguir entre servos e senhores."

EZRA, Moshé Ibn. “São túmulos de tempos antigos, velhos”. 
Versão de Francisco José Viegas,
 tradução do hebraico de Maria José Cano. 
In: VIEGAS, Francisco José (org.). 
Cem poemas para savar a nossa vida, 
vol.1. Lisboa: Quetzal, 2014.
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um olhar 
atento
como se algo 
germinasse
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o longo inventário das ruas
que são 
essas sombras intermináveis
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o impacto dos
suicidas
me diz mais
que essa gente
vivente
vazia
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cansado
do amor
mínimo 
que as coisas
doam
difíceis 
aquários 
quando lido
com mares 
por dentro
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existem ideias
que parecem 
sombras
vistas de canto de olho
nunca são 
descobertas 
completamente
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porque
arranha-céus 
não deixam 
cicatrizes?
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testamento

o que se deixa
pra luz
é sombra
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saliva
doce
é o rastro
do
beijo
bom
................................................................

cansado 
de histórias 
longas 
alheias
cheias
de poeira
antiga
................................................................

os erros me ouvem
e faço de conta
que
acertei
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esquecer meu corpo 
esquecer meu braço 
adormecido 
esquecer esse
emaranhado de sonho 
nos olhos
esquecer o corpo
e não perceber 
o coração 
feito de sangue 
sem dono
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a noite
a lua 
suas considerações 
e seu bestiário 
de estrelas
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fabrico
um eclipse
pra escavar
tatuagens
solares
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o braço 
adormecido
enquanto escrevo
não justifica
passado algum
são os passantes
essas sensações 
mínimas 
não há como celebrar 
o toque
sem o encontro 
por trás do insensível 
contorno
tento ser como o mar
sem alinentar
profundidades 
e estabelecendo 
ondas
como
limite
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SDS
saudades
Só Deus Sabe
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minha vida 
não é apenas o resultado 
de minhas decisões geniais
ela é o resultado de vários acordos antigos
o outono da alma
as
folhas
quando o mundo ao meu redor 
passou a desmoronar 
e secar
acontece
ter de mudar
o grande problema de mudar 
é que você precisa se haver com os seus medos 
os mais profundos
os mesmos medos que te sustentam agora 
esta antiga vida 
que não faz mais sentido nenhum
parar de fugir 
retornar ao início da jornada
encontrar o destino 
vamos nos transformando
na volta
naquilo que estava ainda em germe 
habitando o fundo da alma 
e quando enfrentamos medos 
podemos
esquecer as folhas
secas
e florescer
...

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