"são túmulos de tempos antigos, velhos.
neles há gente que dorme um sono eterno.
nem ódio, nem inveja há no seu interior,
nem amor, nem zangas de vizinhos.
os meus pensamentos não podem, quando os veem,
distinguir entre servos e senhores."
EZRA, Moshé Ibn. “São túmulos de tempos antigos, velhos”.
Versão de Francisco José Viegas,
tradução do hebraico de Maria José Cano.
In: VIEGAS, Francisco José (org.).
Cem poemas para savar a nossa vida,
vol.1. Lisboa: Quetzal, 2014.
.
um olhar
atento
como se algo
germinasse
................................................................
o longo inventário das ruas
que são
essas sombras intermináveis
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o impacto dos
suicidas
me diz mais
que essa gente
vivente
vazia
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cansado
do amor
mínimo
que as coisas
doam
difíceis
aquários
quando lido
com mares
por dentro
................................................................
existem ideias
que parecem
sombras
vistas de canto de olho
nunca são
descobertas
completamente
................................................................
porque
arranha-céus
não deixam
cicatrizes?
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testamento
o que se deixa
pra luz
é sombra
................................................................
saliva
doce
é o rastro
do
beijo
bom
................................................................
cansado
de histórias
longas
alheias
cheias
de poeira
antiga
................................................................
os erros me ouvem
e faço de conta
que
acertei
................................................................
esquecer meu corpo
esquecer meu braço
adormecido
esquecer esse
emaranhado de sonho
nos olhos
esquecer o corpo
e não perceber
o coração
feito de sangue
sem dono
................................................................
a noite
a lua
suas considerações
e seu bestiário
de estrelas
................................................................
fabrico
um eclipse
pra escavar
tatuagens
solares
................................................................
o braço
adormecido
enquanto escrevo
não justifica
passado algum
são os passantes
essas sensações
mínimas
não há como celebrar
o toque
sem o encontro
por trás do insensível
contorno
tento ser como o mar
sem alinentar
profundidades
e estabelecendo
ondas
como
limite
................................................................
SDS
saudades
Só Deus Sabe
................................................................
minha vida
não é apenas o resultado
de minhas decisões geniais
ela é o resultado de vários acordos antigos
o outono da alma
as
folhas
quando o mundo ao meu redor
passou a desmoronar
e secar
acontece
ter de mudar
o grande problema de mudar
é que você precisa se haver com os seus medos
os mais profundos
os mesmos medos que te sustentam agora
esta antiga vida
que não faz mais sentido nenhum
parar de fugir
retornar ao início da jornada
encontrar o destino
vamos nos transformando
na volta
naquilo que estava ainda em germe
habitando o fundo da alma
e quando enfrentamos medos
podemos
esquecer as folhas
secas
e florescer
...
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