terça-feira, 18 de agosto de 2015

dos lirismos...

.
"Tem um tipo de amor que é afeito ao parque de diversões. 
Gosta de rompimentos que gerem confrontações e é um tanto egoísta: 
não tolera esse negócio de “dê asas e alcance a liberdade”! 
Quem declama o amor livre não conhece a sua carnificina. 
Não sabe que esse tipo de amor é barroco e gosta de brincar de claro-escuro, 
gosta de repetições e de engrenagens: Ele é autômato.
Amor também é quase uma sentença, se escrito em língua latina. 
Amor inglês é bonitinho, feito de coraçãozinho recortado com tesoura de picotar. 
O amor latino é assassino: mata ego e superego dos desavisados. 
Planta saudade antes do tempo. 
E olha que não se dá ao desfrute da rega e da adubação: 
a plantação é a seco e a colheita a unha.
Amor de criancinha é egocêntrico. 
É uma escrivaninha com inscrições feitas com objetos cortantes. 
A garatuja e o garrancho, o primeiro palavrão e o primeiro beijo, 
o chifre e a auréola ficam registrados. 
Gravado com um sabre o amor da criancinha 
é uma gracinha aos olhos das corujas.
Amor bom é o amor que não precisa de trocados. 
Está no beijo da mãe, no recado do pai: Não chegue tarde! 
Também está no trapézio onde se finge voar, está no ar, talvez, 
quando olhamos pra cima. Está no respirar fumaça e no tragar carvão. 
O amor está no pão repartido e na rima mal feita das cartas mal escritas. 
O amor bom está, geralmente, na desnecessidade do eu te amo 
para fazer-se entender.
O amor é um tigre. É silencioso, faminto, belo e selvagem. 
Nos possibilita criar imagens fantásticas e sucumbir ao lúdico pensando-se lúcido.
Dizem que nos dá asas, inclusive aos que sofrem de acrofobia. 
O problema é que a maioria sofre. Talvez por isso sejamos bípedes.
O amor é misericórdia. É um sol radiante de setembro no hemisfério norte. 
Por este aspecto é um corte na precisão da filosofia que dele nada explica, 
apenas o impõe outros conceitos e termos extraordinários que lhe subjugam a conjecturas.
Amor é o primeiro olhar, a primeira poesia. 
Gosta de brincar de dar susto. É o despertar. 
É encontrar a palavra-chave, e ter a porta. 
O amor é uma porta feita de quadro-negro, e sem apagador. 
Por trás das marcas lantejoulas, fica sempre a complexão de entender 
que ele faz fronteira com a dor num campo minado: 
aos desavisados Cuidado; aos impetuosos Respeito. 
O amor é o que ultrapassa. 
Por isso é necessário correr."

A vida secreta das palavras: o amor - Marinaldo de Silva e Silva
.
conhece-te a ti mesmo










































#‎ira‬
saldo lírico 
e força bruta
..............................................................

o acaso vive programado 
para acontecer 
depois do meio dia
o acaso carrega teoremas 
ausentes nos encontros dos
amantes 
e nos taxímetros 
roda quando quer 
e cobra o tempo
passado
..............................................................

a paixão 
é um estado
de sítio
o acaso vive
pregando peças
na paixão
em estado
de sítio
..............................................................

prefiro o mistério 
do barco ao mar
do que qualquer âncora
presa 
no 
cais
..............................................................

tem fornalha
aqui dentro
e pra quem não entende
deixo só faísca
nem gume de faca
nem nada que corta
o que fica
sempre detrás da porta
é a poesia 
 essa pobre angústia escondida
em cada coisa da vida
que se carrega do nada
aprender
com os outros 
a desistência
enquanto aqui dentro
a resistência
atravessa
que nem bala
..............................................................


até que ponto 
você admite
metáforas 
do resto de um corpo 
aceno longínquo 
da memória?
..............................................................


sem legenda

gente que vive 
a vida 
gravada 
e dublada
..............................................................

e mais uma vez entre as coisas me sinto obrigado a pegar todos os coices sem dar rebote
o coração virado em bichos
os aplausos virados pelo avesso
quanto tempo falta
para eu não esperar 
mais nada?
quantas palavras
a gente tem que dizer
até que entendam 
que a gente não quer falar
mais nada?
quem é que
sabe?
quem é que 
salve?
..............................................................

e que não se faça 
mais
nenhuma ideia errada
da textura grosseira
dessas linhas
do rasgo de qualquer poema
que a palavra 
insinua
..............................................................

o desejo faz
um caminho de teias 
sobre a pele 
ainda quente
..............................................................

os poemas se dão 
sem que eu os busque 
é dado lê-los
..............................................................

Raul Arruda Filho





































..............................................................

queria ser paisagem
momento
essa avenida
cheia de carros 
em movimento
sabe-se lá para onde cada um vai
queria a inocência 
sem descanso
dos faróis 
brincar na faixa
de segurança 
e construir 
moinhos
de silêncios
esfregados
na cara dos outros
..............................................................

pra gente 
que quase
não vê 
o corpo não conta muito
a gente o possui
e transporta
..............................................................

pelas ruas
vejo gente que
anda
como se tivesse
cauda
..............................................................

exorcizo meu desgosto 
nessa calmaria
tumultuo
agarro a força 
e corto
com faca
como se
tirando migalha
de pão
depois escrevo
sobre a cicatriz 
o relatório 
parcial
do treinamento 
dos 
assassinos
..............................................................

pensavento
é quando eu penso
e some
..............................................................

cansado de esperar 
o verão 
virei inverno
..............................................................

quem está junto
e não se encontra 
está só
..............................................................

corpo vazio
desencano
e
passo o ponto
..............................................................

palavra
tem gosto 
de nada

(depende de onde vem)
..............................................................

olho azul
nasce jade
serei breve
com as coisas
que não são minhas 
debaixo da pele
encontro 
poesia
desvio os olhos
feito mentira
passei essas coisas
em silêncio 
olho adiante
antes que 
tropece
na luz
do sinal
vermelho
..............................................................

o problema
não é o que é 
notícia 
mas o que deixa 
de ser
..............................................................

no ponto final
o poema acaba
e sua porta
fecha
fim
..............................................................

PLAY

























.

Nenhum comentário: