segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

dos apanhamentos...

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"o que quer dizer tudo isso? nada. 
as coisas não querem dizer nada. 
as coisas não querem. e, quase sempre, mal dizem. 
mas, no caminho, tem uns sorvetes."
Noemi Jaffe
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amanhecendo os olhos
o traçado do rosto sumiu
algumas alianças 
caíram dos dedos
os pés de remanso lírio
escureceram
havia virado árvore
era tronco e galhos
folhas nos cabelos
uma copa súbita 
subia tamanha grandeza aos céus
e suas raízes imensas
pendiam cerzidas
na terra
era firme como um lastro
nunca mais dormiu.
e era verão...

(como humana
não servia,
mas como árvore
sobreviveria)
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habito o monge

com o passar do tempo, o tédio da vida adulta mostra que acabou a infância. 
o encantamento, antes acessível, torna-se cada vez mais raro.
os jovens talvez usem drogas tentando reproduzir de forma falha esse paraíso perdido, 
simulando o deslumbramento infantil.
faço poesia por isso. para ter de volta alguns encantamentos. sem uso de drogas. só palavras. 
procuro reproduzir paraísos e infernos. mesmo o que não me encanta me deslumbra. 
sofro alguns dias em que faltam sensações. 
mesmo agora ouço violinos. daqueles desafinados. e sou impelido a realizar. motivado pelo encanto.
não sei se seria a negação do duro cotidiano. cansei das mortes vistas em vídeos e promoções desencantadas. na poesia fica esquartejada a falta. a palavra nunca falha. 
talvez sejam esses os meus sonhos acordados. esses sonhos que invadem nosso cotidiano 
para nos dizer que algo importante ficou pelo caminho. 
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adão e eva
nunca criaram
raízes
deve ser por isso 
o pecado
ser tão original
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"quanto mais você demora
mais me assalta
depois
não sei se quero a pessoa que chega
ou que me
falta"

adaptado de Maria Rita Kehl: Amor e Dor
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nesse calor 
não dá pra rimar amor e dor:
todo esse suor
não deixa
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por culpa da memória
e de um violino
fiz um poema
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