terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

das fisionomias...


"gosto dos amigos
que modelam a vida
sem interferir muito;
os que apenas circulam
no hábito da fala
e apõem, de leve,
um desenho às coisas."
Sebastião Alba
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eu maestro no corpo que flutua
Fernando Schubach
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eu quero o mínimo exuberante!!!
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compra-se olhos vazios
enche-se de esperanças
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sou das tempestades:
metade granizo 
metade furacão
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o corpo cansou
o que a mente
pedia
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árvores
em pelo
com folhas
ainda verdes
agarradas ao tronco
dos tempos
presas a
raízes de aço
inoxidável
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a paciência é a lama do negócio
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ressignificando
en plen air
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a minha principal certeza é o chão
onde pisam meus pés doloridos
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eu tenho o sol por toda parte
em forma de luz
eu tenho o sal por toda parte
em forma de lágrima
se eu salgo a luz
então pequenos lagos se acrescentam
e na superfície
formam-se taças de estrelas
toda tristeza é um sono
que se estende obliquamente nessas águas
e em suas margens
aparece o traçado
que dá o contorno
do continente 
do meu corpo
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chispa faísca do isqueiro
acende pavio de vela de cera
espanta o breu
o sinal da luz é a sombra trêmula na parede
essa sombra que cresce a olho nu
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casem-se os poetas com a inspiração do mundo
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esqueça o céu 
e a cidade morre
esqueça o teto
e a casa morre
o esquecimento
é um porre
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a sombra da figura é a figura da sombra
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quero ficar acordado
pela tua voz
a noite inteira
pelo teu dorso
vem como pássaro
desce dos ares
baixa na terra
vem trazer flor 
à minha pele nua
vem no meu sonho
no meu grito
no meu braço
vem sustentar
o meu desejo
vem espantar
consciências
desesperadas
sou um mistério
enquanto não vem
vem me tirar do sério
vem arcar com minhas
inconsequências
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não sei se a tristeza
era o vento
só sei que atravessou estes restos
e levou para longe 
o fundo negro
da minha escuridão
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vou arriscar uma noção de silêncios
e produzir palavras
impondo à luz da tela
sem meus óculos
o testemunho de uma memória poética
onde a minha percepção se faz
madura
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trago sempre uma sílaba 
na palma da mão
para conjugar um ver
borrar uns olhos
compor
lágrimas
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um cego de verdade
nunca perguntaria como é o céu
perguntaria como é o azul
nunca perguntaria como é o sangue
perguntaria como é o vermelho
nunca perguntaria como é a neve
perguntaria como é o branco
um cego de verdade
saberia a sensação
das cores e coisas
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o esquecimento são coisas
que acontecem com certas ideias
que já vêm com epitáfio
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confuso como
um rastro de formigas
embaralhadas
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se sou um poeta
decerto que sou do tempo futuro
os poetas prevêem antiguidades
(os poemas são esperanças)
poesia é um modo de adiantar
alguma vontade futura
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em cada tristeza
uma trágica lucidez
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mar do outro:
brotam espinhos
porque velo eu
uma rosa murcha
entre longos navios
de silêncio
dentro
a nostalgia resignada
de países distantes
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entre as coisas sagradas
e as coisas perdidas
a morte recolhe nenhuma
o joio é joio
o trigo é trigo
a morte nivela os corpos
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preciso manter a carne dura
os olhos turvos
que o meu fim dure
enquanto se curve
um arco
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alter vega:
quero alguém nu
começando pelos olhos
seguindo-se pelo
abandono das necessidades diárias
atirando ouvidos e bocas
no asfalto
os pés espremidos
tropeçando no desejo
que se arranque toda a pele
que fique exposta à luz do dia
que nenhum espelho veja esse corpo
tão novo para a vontade
da minha alma
então que eu descubra uma nova lingua
um outro planeta
daquele que eu vim
(just visiting this planet)
alcançar um alien
de mim
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a noite abrindo o zíper do desejo
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cumprimento:
sou esse silêncio 
no meu prazer 
em te conhecer
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assexuado:
não sou o plástico que te carregue
ao diabo
em artifício
em um fogo qualquer desavisado
sou concreto 
e entre o silêncio dessa cama e esse teto
passo longe
sem seu sexo
.


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