sexta-feira, 29 de agosto de 2014

dos princípios...

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"porque o mar na maré não tem como retornar?"
(more than this)
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"tape" by Julio Carvalho
























































no principio
eu guardava
o verbo amar
debaixo de muita
gramática
por cuidado ou algum medo
de desbotá-lo
ao deixá-lo
vir a luz
sempre vi
a palavra sombra
como luz suficiente
para proteger o amor
mas mesmo assim
ele se anunciava
(amor)
pelos crepúsculos
pelas noites sem sono
pelos pensamentos desocupados
pelas manhãs
passando por cima dos muros
pelas dores que doíam
por dentro do corpo
assim esses amores trincados
iam sendo colados
debaixo das sombras
e o tempo
cuidava de retirar-lhe
as fronteiras
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em azul

poesia
pois é
ar:
respiro

poesia 
pois é
lugar:
inspiro

poesia
pois é 
estar:
delírio
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na tela 
a palavra é escrita com silêncio
há essa coisa que sai de dentro da pele
vai aos ouvidos
e fala
na tela se canta para os olhos
a virtude da tela é estar sempre pronta 
para não se ser vista
mas
eis que vira traço
vira e-mail vira coisa vira poema
vira cabimento para ideia
uma tela vazia só pode ter nascido de um acidente
o sujeito deve ter pensado em não esquecer 
e sem pretensão
inventou um guardador de pensamentos modernizador
as linhas retas das telas 
servem para que os pensamentos soltos ali 
não fiquem tortos
escrevo feito rabisco fora da linha só pra sentir
um pouco de liberdade na ponta dos dedos
tela em branco tem medo de vazio
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cortar a hermeticidade do outro 
com um abridor de datas 
descobrir um ser incomum
uma vontade pura
sem contaminação
um modo difícil
de explorar
o ser:
uma forma aguda
de penetrar
a lata 
do invisível
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o travesseiro é a base para o sonho
uns são de penas
alguns de papelão
tantos de algodão
outros respiram
muitas vezes
sempre o mesmo travesseiro
nem o sono:
só os sonhos mudam
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mesmo não funcionando
o amor é um bonito
objeto
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a diferença da paz entre o pensar e o estar
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