domingo, 17 de agosto de 2014

das embarcações...

.
"meu coração tropical está coberto de neve
mas ferve em seu cofre gelado
e à voz vibra e a mão escreve mar
bendita lâmina grave que fere a parede e traz
as febres loucas e breves
que mancham o silêncio e o cais"


Corsário - João Bosco
.


























homem ao mar

conformar
conformar
conformar
conformar
mar
mar
mar
mar

porque só eu desespero
e não vejo ninguém se afogar?
transformar
transformar
transformar
transformar
mar
mar
mar
mar

mudança de rumo
é opção ou lugar?
navegar
navegar
navegar
navegar
será que sou dono do mar
mar
mar
mar
mar

ou é esse mar
que sempre vai me levar?
ser o sujeito das águas
ou o agente das coisas?
ser o princípio
ou estar atento ao principal?
remar
remar
remar
remar
mar
mar
mar
mar

às vezes eu me canso
da estreiteza das águas
da aspereza das coisas
da terra sempre longe
lugar
lugar
lugar
lugar
nenhum
para chegar
eu sou meus pés no chão
em terra firme
e um barco
líquido
às cegas
dentro de mim
um
mar
mar
mar
mar

sem fim
.............................................................................................

corpo marítimo

na fala intacta
a água
e o medo de nomear o que é solidão
um anônimo acesso
a qualquer embarcação
sem a inconveniente
exatidão
das fissuras abruptas
amarras
e desequilíbrios
e os riscos
de andar pela prancha
e ser devorado
por lobos
em pele de cordeiro
resgatar as raivas
que escavam a superfície
abolir os raptos
de silêncios
em terra firme
assumir
lábios
risos
óleos
músculos e ritos
e que me descubra
antes que me deforme
antes que a corrosão
e acidez das palavras
façam amargar minha boca
que seja tudo pela fascinação
e pelo encantamento
rítmicos
despertos da solidão
em unânime acesso
e depois poder aportar
juntos
em outras terras
sem qualquer
alerta
e sem o auxílio
de nenhum farol
.

Nenhum comentário: