quinta-feira, 21 de agosto de 2014

das lições...

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"a boca da noite
avançou na lua cheia
um quarto minguante"
Sugestão - Oldegar Franco Vieira
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Time is the best teacher; unfortunately, it kills all itsstudents".Hector Berlioz 




























as coisas acontecem simplesmente
sem muito cuidado
nós é que quando queremos
lhe damos nome e significado

como duas palavras que se encontram
uma dita
outra calada
se fundem em algum instante
se orientam
e procuram
desesperadamente
um motivo
um nome

e nem sempre nomes e coisas
significam
muitas vezes
apenas
são
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a vida
um par de asas
o voo
pela frente
inexplicável
pelas costas sorriem
inesgotável
piada
o passado
um fio
um fato
um nome
quando a alegria
acontece
sob as asas
vem sempre atrasada
ou talvez sejam as asas
e a felicidade
esteja
parada
.........................................................................

sou pai
filho
e espírito de poesia

suspeito
e profano
não sou o santo
que qualquer rima pede
sou a serpente
do paraíso
irremediavelmente
perdido
na loucura

sou o deus
perpétuo
do poema
em chamas
.........................................................................

nenhum afago
apaga o fogo
incêndio eterno
dentro
até que algum dia
as águas 
de outro
lágrimas ou não
até suor serve
se alinhando
disfarçado
tenha expulsado
levemente
todo o fogo
e que fique
o carbono
preto escuro
dessa alma
apagada
transformada
em diamante
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movimento
precário
esse nosso atual
momento
literário
antes os versos
revolucionavam o tempo
caligradesafiavam
penas na euforia do silêncio
hoje os poemas são paridos
atirando páginas
aos porcos
até as latrinas e os becos 
os recusam
são partituras
de imagens
mortas
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são sempre esses
seis pequenos medos
em certos instantes de solidão
nesses momentos
não me espera -
senta lá fora
e fica olhando o céu
estrelas atravessando a retina
iluminando as feridas abertas
aqui dentro
eu fantoche do absurdo
cabeça vazia e peito cheio
sempre em desacordo com tudo
nessa ansiedade domada
mediada por medicamentos
olhando as palavras
no mesmo verbo
não versando nada
não há flores neste asfalto
e a poesia em mim
faz falta
qualquer dia desses
num desses instantes
desapareço
em puro riso
e a solidão
que se dane
enquanto
me calo
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os poetas inventam coisas
onde não existem palavras
guarda-chuvas viram flores
um primeiro encontro
vira paixão
um segundo já é casamento
tamanhas são as intensidades
e o gozo e o tezão
um poeta vê o mundo
não como deve ser
mas como o mundo deve
ao poeta 
o mundo nunca paga
o que deve ao poeta
então ele inventa
outra palavra
para apagar
o que o mundo estraga
para consertar
desilusão
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somos feitos de água
lágrimas
e muito ar entre
esses sorrisos
que nos escapam
entre
essas
felicidades raras
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