quinta-feira, 21 de agosto de 2014

das margens...

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"É impossível dimensionar o novo sem traumas. 
Sempre que passamos por uma crise, 
a dor e a confusão decorrem da falta de estrutura lógica 
e tradicionalmente configurada para lidarmos 
com uma situação inusitada que, na verdade, 
desafia a acomodação das nossas percepções. 
Assim, o trauma é uma ruptura que, inclusive, pode nos levar além.
Ele não apenas redimensiona nossas vivências 
como a leva a novas perspectivas. 
O novo, então, é a troca de pele da cobra, 
a borboleta que alça voo sobre a carcaça da lagarta. 
Viver significa claudicar, porque toda cura pressupõe cicatrizes."
Antropólogo André
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branco branco branco




























à margem do erro

eu poeta dificilmente me reconcilio com o real.
dentre tantos tipos sou um dos que
mais usam a poesia 
como uma porta 
um encouraçado
uma barricada
a sensação de saciedade me é estranha
desconheço
sei de ansiedades
essas que me conduzem ao poema
quase um desespero de ser 
entre os escombros dispersos 
do tudo que se partiu
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hora de pecado e ironia
não se desprezam as horas
de cinismo absoluto
tais momentos de se
alimentarem serpentes
e cuidar do lobo
em direção à maçã
envenenada
concentrar o pensamento
nas pequenas criaturas vivas
inúteis
criando um gosto de sangue
em tempo do veneno
escorrer entre os dentes
dividido entre o inferno e os outros
quando tantas vezes 
a vontade
acontece dessa forma 
por causa de estigmas
segregações
segredos
transgressões clandestinas
alívios íntimos inúteis
sexualidades implícitas
e fracassos meus e dos outros 
que permeiam tramas perversas
irreversíveis
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mal abro os olhos
os vultos vem voando
recentes
imediatamente
ressentidos
e ansiosos
conduzindo
meu não sentido
se encostam
e leves
quase oprimem
a paisagem
onipresentes
não me deixam
até quando
mal fecho os olhos
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meus óculos ficaram cegos
meus sapatos desanimados
e já sem nenhuma companhia
quase hoje minhas roupas sairam
eu pele inquieta
aprendendo a ler
nas sombras
metade dos olhos fechados
outra metade em pânico
a parceria entre dois mundos
distintos
e a luz
fosse dia
(explode)
fosse noite
(esconde)
no entanto
por dentro
o silêncio
é a última coisa que habita
nem luz partida
nem meia luz
mas a luz de uma vida
inteira
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