"É impossível dimensionar o novo sem traumas.
Sempre que passamos por uma crise,
a dor e a confusão decorrem da falta de estrutura lógica
e tradicionalmente configurada para lidarmos
com uma situação inusitada que, na verdade,
desafia a acomodação das nossas percepções.
Assim, o trauma é uma ruptura que, inclusive, pode nos levar além.
Ele não apenas redimensiona nossas vivências
como a leva a novas perspectivas.
O novo, então, é a troca de pele da cobra,
a borboleta que alça voo sobre a carcaça da lagarta.
Viver significa claudicar, porque toda cura pressupõe cicatrizes."
Antropólogo André
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branco branco branco |
à margem do erro
eu poeta dificilmente me reconcilio com o real.
dentre tantos tipos sou um dos que
mais usam a poesia
como uma porta
um encouraçado
uma barricada
a sensação de saciedade me é estranha
desconheço
sei de ansiedades
essas que me conduzem ao poema
quase um desespero de ser
entre os escombros dispersos
do tudo que se partiu
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hora de pecado e ironia
não se desprezam as horas
de cinismo absoluto
tais momentos de se
alimentarem serpentes
e cuidar do lobo
em direção à maçã
envenenada
concentrar o pensamento
nas pequenas criaturas vivas
inúteis
criando um gosto de sangue
em tempo do veneno
escorrer entre os dentes
dividido entre o inferno e os outros
quando tantas vezes
a vontade
acontece dessa forma
por causa de estigmas
segregações
segredos
transgressões clandestinas
alívios íntimos inúteis
sexualidades implícitas
e fracassos meus e dos outros
que permeiam tramas perversas
irreversíveis
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mal abro os olhos
os vultos vem voando
recentes
imediatamente
ressentidos
e ansiosos
conduzindo
meu não sentido
se encostam
e leves
quase oprimem
a paisagem
onipresentes
não me deixam
até quando
mal fecho os olhos
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meus óculos ficaram cegos
meus sapatos desanimados
e já sem nenhuma companhia
quase hoje minhas roupas sairam
eu pele inquieta
aprendendo a ler
nas sombras
metade dos olhos fechados
outra metade em pânico
a parceria entre dois mundos
distintos
e a luz
fosse dia
(explode)
fosse noite
(esconde)
no entanto
por dentro
o silêncio
é a última coisa que habita
nem luz partida
nem meia luz
mas a luz de uma vida
inteira
.
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