terça-feira, 5 de agosto de 2014

dos furtos...

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"o domínio da obra é o da artificialidade
a durabilidade das coisas do mundo
define a objetividade dos objetos
os objetos são as coisas que pela obra do homem
ele assegura para si sua presença no mundo
a obra introduz permanência e estabilidade no mundo
com a sua obra
o homem adquire sua identidade como criador de civilização
por isso a obra de arte ou a poesia sobressai dentre os objetos de uso
pela sua durabilidade superior
podendo mesmo atingir a permanência
"Nada (como a obra de arte) revela de forma tão espetacular
que este mundo feito de coisas é o lar não-mortal de seres mortais"
"É como se a estabilidade humana transparecesse na permanência da arte
de sorte que certo pressentimento de imortalidade ... 
adquire presença tangível para fulgurar e ser visto, 
soar e ser escutado, escrever e ser lido"
a majestade presente na obra de arte é mais que transformação
é "transfiguração, verdadeira metamorfose como se o custo da natureza
que requer que tudo queime até virar cinzas
fosse invertido de modo que até as cinzas
pudessem irromper em chamas"
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"é sempre na letra morta que o 'espírito vivo' deve sobreviver"

Hannah Arendt (compilação)























o fogo
a febre da fênix
o inconstante
o perecível
o recombinante
o recriável
o imortal recuperável
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furto

no fundo no fundo
é sangue e circulações
aquelas coisas
que passam pela gente
feito memórias e pessoas
que não duram
mas fazem saudades com a mesma facilidade
com que fazem lágrimas
essas coisas de despedidas causam cansaço
e não agradam muito
é como se cá (quem fica)
e lá (quem foi)
formassem dois buracos
ligados por um fio de tempo
porque não há mais espaço
- então é isso:
saudades são fios de tempo
ligados num espaço
cercado de faltas
.

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