"perdido o costume de amar
te direi em que nos converteremos
a ternura como quem dorme
sem roupa e entre farrapos
os braços apoiados na testa
pulmões diminuídos
olhos apagados e sem fala
rumores com falta de ar
e de repente
um silêncio
que nos levará a infância
e nos obrigará a fugir de nós mesmos
como até das palavras"
Kepa Murua
.
queime
quando
queira
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"o preço de qualquer coisa
é a quantidade de vida
que se troca por isso"
in Tinta Fresca
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amar
(tem vezes)
é um zero a perder de vista
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esses meus desejos
afluentes
dos meus olhos...
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o amor bate
bate bate bate
até não sobrar nada
quando sobra,
sentimento
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desejo
de escrever pra trás
como um bicho
soltar um grito pelo corpo
e depois procurar desesperadamente
pele adentro
a palavra
crucificada
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geralmente encontro palavras
e ninguém à altura de merecê-las
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céu acima da boca
e alguns dentes mortos
onde a língua presa
não responde mais
assim fica um corpo
desapaixonado
derrete ao vento
vira perfume
ou alguma flor sem nome
chega às camas
cobre os sonhos
e ao sono se volta
como incenso
lembram seus primeiros desejos
de criança
perdidos num redemoinho
de cavalos e pontes
entre as cachoeiras.
como sair dessas águas?
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clareia tudo
bem de perto
e esquece
o que há
de vir
acontecer
é toda memória
de ontem
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na voz há resgate
silêncio é desconhecido
não tem face
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como enxergo mal
dou murro em ponta de faca
cega
e bato a cabeça
em muros de plástico
bolha
por isso essas dores
estranhas
de cortes e danos
insanos
sem identificação
somatizo
o que não é visto
meus consertos
são emocionais
queria um eixo
de luz
aceso
um abraço
com sinal verde
um farol
fácil
um som de beijo
incandescente
queria
um sim
sem morrer
muito
porque cansei de acordar
com esses mistérios todos
agarrados ao corpo
queria retirar
camadas de pele
entre o olhar
e seus objetos
mas o que me sobram
são os sons
na ponta da língua
sempre aberta
a quem machuca
queria essa cura
dos meus silêncios
internos
dos meus desertos
eternos
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cansei de morrer todo dia
muito
queria viver todo dia
pouco
mas
intenso
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toda minha certeza
vem do receio da morte
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a labareda que de alto segue
de alto digno
o fogo
sigo
até as cinzas brancas
entre
as nuvens
elevado ao paraíso
em vermelho eu te digo
no céu o fogo e o sol
se confundem
o inferno
não é de fogo
lá não existe
sol
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gosto de sangue
no canto da boca
no céu recomeçam
ou não
estrelas
até o tempo de morder
ou se
amar
chegar ao fim
felinos
fazem um brinde
em copos de mesmo gozo
nada se fala sobre isso
um procura a gota
outro procura o gosto
ambos sabem
onde fica
o amor
entre os músculos
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minha cabeça
vive na lua
e o sol
dorme
no meu
coração
por isso tudo
que é terrestre
em mim
vira
poesia
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um homem
aparece
com a emoção
do pulso de uma ocasião
qualquer
move-se
com o passo atrevido
dos tempos
e me envolve
em seu terrível-maravilhoso
interno
abraço
tronco liso
branco exato
sorri com olhos
de lua
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ciúme
água
pedra e areia
corre sangue
na veia
do homem concreto
amado
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paixão
porta aberta
fora de si
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o que mais bate em mim
durante
a vida
toda
é meu coração
de poeta
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a amizade é dita
um círculo
eu prefiro
outras formas
triângulos
quadrados
trapézios
(amizades acrobáticas)
amigos de risco
um fósforo
por exemplo
acende
e só se apaga
se o amigo
sopra
isso quando aniversários...
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