sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

das petrificações...



apa trece, pietrele ramân*





























o asco
enche

saco
............................................................
envelheço dois versos a cada dia
............................................................

sem nem esperar
como erva daninha
nasceu assim
um amor
desses difíceis 
de arrancar
nesta terra
floresce
e morre
nosso caso
............................................................

estou oco:
melhor louco
que assim pouco
............................................................

quase isso
quase osso
amor ósseo
coração
duro de 
saber
roer
dói
............................................................

passei a língua no céu da boca
e percebi que tinha um vão de poesia
dentro de mim
vago
de 
rimas
no céu da boca
dormem palavras velhas
velhos instintos
petrificados
por isso 
entre os dentes
tantas pedras
que
não 
falam
............................................................

um livro pequeno
a vida humana
assim como uma página 
pensei que me doessem as costas
mas me dói o nome
ao carregá-lo
............................................................

o olho
que mal vê
veste
o corpo
nu
............................................................

loucura
se vens depois de mim
não caberias a ti que eu existisse
mas esse eu que hoje existe
não existiria antes de você
............................................................

a noite é uma lembrança
desde que você se foi 
a noite tem demorado
nos meus braços
............................................................

era seu
sou só.
seu
............................................................

eis aí 
as coisas
elas de um lado
do outro o teu nome
há um vasto espaço entre elas
lugar de corridas
de vida
olha, tu és cortado ao meio
de um lado tu
do outro lado o meu nome
não sentes 
às vezes talvez em sonho
talvez ao pé do sonho
que cobre a sua fonte
se sobrepõem outros pensamentos
sobre as tuas mãos
as minhas mãos?
alguém te compreendeu por um instante
fazendo o meu nome
passar através do teu corpo
sonoro e amoroso
como o badalo do bronze
pelo interior do sino

(adaptado de Marin Sorescu)

............................................................

* águas passam, as pedras não (ditado romeno)



Nenhum comentário: