"este é um poema de amor
por isso nele
não poderá faltar
a menção
de alguma
flor
e por isso digo
rosa
ou lírio
ou simplesmente
rubro,
rubro
e espero as páginas
imantarem-se
de vermelho
por isso digo
febre
e noite
e fumo
para dizer
ansiedade e
desperdício de sêmen e de horas
e cigarros à janela
acesos como estrelas
com a noite numa ponta
e nós
consumindo-nos
na outra
este é
definitivamente
um poema de amor
por isso nele
devo dizer
casa
e olhos
e neblina
e não devo dizer
que o amor é uma doença
uma doença do pensamento
uma desordem que põe tudo o mais
em desordem
uma perda que põe tudo
a perder
e porque é
um poema de amor
sob pena de ser devolvido
como uma carta sem destinatário
(e todos sabem que não se deve
brincar com os correios)
este poema deve dirigir-se
a alguém
porque a alguém o amor deve ferir
com sua pata negra
e então
à falta de outro
este poema
eu o dedico
(mas não tema,
o tempo
também nisso
porá termo)
a você"
Poema de Amor - Ana Martins Marques
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estou muito tenso
mas em timbre
controlado
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gosto de gente assim:
que veste
as palavras
de poesia
enquanto
morre
de amor
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lançamentos
cuspi o desejo
feito
parede
para conseguir
algo
concreto
cuspi o desejo
feito
roupa
para conseguir
me ver
nu
cuspi o desejo
feito
louco
para conseguir
me ver
são
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espero que meu próximo
amor
não me queime
os lábios
como faz
um
cigarro
até o fim
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porquê
eu não tenho
o direito
de me apaixonar
direito?
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a vingança do amor urbano
entre os automóveis
e o asfalto
armarei pra ti
um atropelamento
tão pior
quanto a paixão
que você
despertou
em
mim
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braços separados do corpo
mãos separadas dos braços
dedos separados das mãos
será por isso
a necessidade
dos
abraços?
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o amor é uma arapuca
onde a gente cai
feito passarinho
cantando
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quem voa
de verdade
doa
plumas e penas
e não
teme
perder
as
asas
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doce ilusão
o poeta
que faz poesia
como quem
usa mapa e lanterna
para entender
a
palavra
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porquê azar
se um espelho
quebra
se em cada pedaço
você se vê?
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quando eu amo
faço do seu banho
minha trilha
sonora
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poema rimado por dentro
todo poeta
repete
diariamente
os gestos
do primeiro homem
que se sentou
numa tarde quente
decifrando palavras
olhando por fora
a palavra
por dentro
todo poeta olha
sem discutir evidências
de que a palavra
entre o fora e o dentro
ainda é um ser
com seu próprio
movimento
a palavra atenta
comove o poeta
que inventa
moda de abrir
a torneira
deixando
o
mar
entrar
e a palavra no mar
vira onda
e deixa a poesia
aumentar
a palavra sustenta
feito areia
e o sal faz passar
dando gosto ao vento
onde a poesia pode
atravessar
assim em qualquer lugar
o poeta vira mar
depende da poesia
do tempo
e do modo
de
olhar
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margarida
ali
floriu
sem
perceber
o vento
o coração
ali
sentiu
sem
nenhum
movimento
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inventar
um trem de pouso
para pensamento
de poeta
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se o amor fosse hoje
seria tudo pra ontem
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a pressa é inimiga da correção
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na arte das armadilhas
foi onde eu cai
com o coração
na mão
eu me perdi
senti a boca
seca sem nenhum beijo
e o pulmão reclamou
pois sem você
eu nem respirava
e o ar me faltou
eu tive poucos sonhos
e você quase arrancou
eu não me olhava no espelho
de medo
de ver o que sobrou
eu pensava durante todo
o tempo
em coisas que você dizia
e quanto eu mais pensava
mais o amor confundia
eu me perdi
nem percebi
a peça que me faltou
eu me perdi
nem percebi
a peça que você levou
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"porque existe a meta física
e é tua carne que procuro
foda-se a tradição lírica
saio de cima do muro
e se a reta é meio oblíqua
e viver não tão seguro
lhe proponho uma promíscua
relação a dois e juro
sermos tão multiplicados
nosso encontro tão fictício
que bastamos prum animado
sexo grupal vitalício.
quantos vivem em você?
com quem posso me entender?"
Alex Simões
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sim queimamos neurônios fazendo poesia
em manifestação, em protesto, em-progresso,
deitado em rede em casa no sofá congresso
no altar no chão da praça, bar, tabacaria
sim queimamos neurônios fazendo poesia
ganhaperdemos tempo bloqueando o acesso
ao projeto do decréscimo do ingresso
do contingente em excesso à perolaria
porque escrever é contra porque escrever é incerto
porque o poema só existe em um livro aberto
e não há nada que cale a boca do poeta
não há juiz que dê um outro veredito
se o poeta-réu deixou em seus escritos
um pouco de sangue ou uma caixa de surpresas
Adaptado de Alex Simões
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vestia uma alma
espécie
cobalto-amargura
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eu viajo sem usar nada
porque já sou nuvem pronta
e tem gente muito rara
que me faz chover
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vermelho
gente que pensa
que sou fogo
quando já sou
fogueira
pronta
qualquer
fogo
ligeiro
me acende
por dentro
o que me prende
é o calor
sustentado
por lágrimas
quentes
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