"ecoa isso, ecoa
e repete de novo
ecoa isso, ecoa
cuco, ave
abre as fontes-ouvidos
fones de ouvido
em volume máximo
coração-nascentes
relógios ausentes
suavemente
voa
num revôo, um rebôo, uma canção
um tempo
de troncos trincados e buracos do chão
oco oco oco chão:
toda a paisagem
nasce de súbito
um som."
Julio Carvalho adaptado de Gerard Manley Hopkins
.
um destino ao além
sem olhar a quem
possa interessar
aos versos
revezes e controvérsias
lembranças sem açúcar
eu adoço
à gosto
inventando/envenenando
memórias
..................................................................
identidade borrada
de silêncios
impossíveis
como olho para todas as coisas
sempre duas vezes
uma para ficar alegre
outra para ficar triste
o mundo se fecha perfeitamente
sobre minhas pálpebras
eu me escondo
onde amontoei todas as coisas
e cada vez
que amo
desapareço
sob as cobertas
buscando calor
onde o frio
me esqueceu
..................................................................
e segundo o sol
hoje que me nasce
hoje no olho direito
amanhã
não nasce mais
a lua é uma noite
inteira
no outro olhar
e segundo eu
ora eu sou
ora não sou mais
..................................................................
há uma solidão
desacompanhada
dessas de cansar os olhos
de sair a noite no vento
sem nada no pensamento
coisa ausente
em casas vazias
feito raio em pedra d'água
sem chuva e um pouco frio
em pleno verão
esse canto vazio
explica um coração
sem vento
sem teto
sem cabimento
ouvindo deitado
um som de lamento
cachorro latindo
barulho de carro
dentro das portas
a noite lamenta
essa solidão fria
onde não existe
tempo
vento
existência
nem
teto
..................................................................
a vida é uma taxinha de surpresas
..................................................................
meu redemoinho
é um sonho
não preciso me expandir
porque a consciência já é
demasiada
não uso nada
só minha inundação
onde me dou conta
que imerso
sou eu
em meu próprio
sangue
..................................................................
a vida real me custa
e às vezes
me assusta
muito
meus fantasmas
navegam pelos dias
o medo sobre a superfície paira
palavras imóveis
rosto
óculos
cigarro
isqueiro
faca
as mãos inúteis
observando
em uma ânsia
fechada
em punho
sob um rápido
doloroso
(ou amoroso)
golpe
..........................
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