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"entre o céu e o mar,
onde começa o fim do mundo
habita um fio de voz,
murmúrio de uma vida inteira,
que em mim germina palavra."
António Patrício
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de todas as viscosidades
a que mais me incomoda
é a inconsistência
do pensamento
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então o rio
a solidão escapando do mês de março
bebo água viva para fluir de tudo
talvez entre um poema e um desconforto
pudesse sentir algum calor
narrando um silêncio no meu corpo
as digitais de alguém
desenhando nuvens nas minhas costas
o amor é uma tênue penumbra presente na pele
aumentou o rio e noite que molham meus olhos
por onde andei
antes das margens e o medo
indicarem o caminho?
agora passam casas e frases pelo pensamento
dilatam olhos, pontos, objetos
eu construo uma janela própria
para entender o olhar e as imagens
dentro dessa cabeça
uma mancha
remoendo
poesia
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no meu reino
eu remo
rimo
regresso
rego as raízes das coisas
renasce um relâmpago
e meus receios
ressurgem
se arrastam pelos
raios da minha retina
a terra arrasta o meio
minha referência
é o som
ou qualquer
resquício
de
um trovão
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musicando
colocar a palavra cansada
em cartas registradas
nos abismos da papel
trago na boca
o que não foi dito
selados em saliva
num poema de haver reticências
rascunho de coisa
enroscada no peito
vinil antigo
bala na agulha
feito música
antiga
sem a nota musical
nasce um pedaço
de ansiedade
é preciso saltar a palavra
angústia
e nem me venha
com finais
de rimas
felizes
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penso na primeira vez que alguém me disse uma palavra
não lembro
o silêncio seco do seu sopro sussurrando a solidão
o cheiro vermelho do nascimento
havia um abismo pintado sobre um mapa
eu carvalho num espaço infinito aberto pela curva
aos poucos
outros sons e as volumes ocuparam
as praças
as pedras
as esquinas
e uma mulher chamada mãe
estilhaçou meu ouvido com um nome
julio
inventou-me este lugar
esta distância
criou-me um mundo
a partir deste som
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quinquagésimo quinto mínimo
Há 13 anos
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