sábado, 7 de março de 2015

das formas...

.
"a poesia
é o lugar comum
onde o poeta 
ri de si mesmo
a poesia
é um pilar incomum
onde o poeta
cisma consigo mesmo
a poesia
é uma prisão sem grades
de onde o poeta 
sai para si mesmo
a poesia
é um buraco negro
onde o poeta 
trai a si mesmo
a poesia
é um salto sem rede
onde o poeta
cai sobre si mesmo"

Seis Quartetos Em Si
(fragmento adaptado)
José Nêumane Pinto
.




































as formas nascem 
das mãos abertas
as palavras nascem 
quando o homem
constrói um corpo
em torno delas
mas para deter a palavra
é preciso
sacrificar o nome das coisas 
para ganhar sua presença 
é preciso um apelo 
nu
é preciso um ato de amor
criar a palavra com esse corpo 
em direção a tudo
criar a palavra despreparado
com olhos bem abertos
o corpo sofre a mecânica 
da palavra 
fazemos crescer silêncios 
na sede de palavras
.................................................................

queria 
que minha realidade 
alcançasse 
a velocidade 
dos meus sonhos
.................................................................

traço comum
em preto e branco
uma linha 
no meio da mão 
a maior 
quer dizer vida
outros traços 
aparentes
as rugas no rosto 
as linhas de expressão 
as impressões digitais
a idade
é um jogo
previsível 
o tempo sempre
ganha
e a linha de chegada
é uma sombra da vertigem 
que cobre o muro da nossa
pequena existência 
não reproduzem
as marcas
visíveis 
ao olho
ao corpo
nu
.................................................................

o incômodo da memória 
e o encanto do adeus:
meus deuses!
o mar é assustador 
e nadar é o modo
reservado de escapar
desse espaço fluído
qualquer memória
é lágrima 
pede que se saiba nadar
até a praia
chegar com montes de 
areia agarradas
aos poros
retirar com água doce
os excessos
pelo ralo
vão-se as lembranças 
onde qualquer adeus 
torna-se tão líquido
quanto o mar
.

Nenhum comentário: