terça-feira, 17 de dezembro de 2013

dos insubstituíveis...

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"O poema é feito de palavras necessárias e
insubstituíveis "
Octavio Paz
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na beira da calçada
no fim do mundo 
olho amarelo de solidão
sigo
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desejoso é aquele que foge da vontade
despedir-se é lavrar um orvalho 
para uni-lo à secularidade da saliva
a profundidade do desejo não está no sequestro do fruto
é a ausência do acontecido de um dia que se prolonga
e é na noite que essa ausência vai afundando como um punhal
nessa ausência se abre uma torre
nessa torre dança um fogo
não é pelas portas onde assoma nosso abandono
não é desconhecer-se
o conhecer-se segue furioso como em seus dias
mas segui-lo seria o incêndio de dois numa só árvore
nosso desejo não é pegar ou incorporar um fruto ácido
o desejo é o fugidio

Adaptado de José Lezama Lima
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eu não posso colecionar coisas
eu não posso colecionar memórias
eu não posso colecionar namoros
nem sabedoria
eu já não posso colecionar muita coisa
eu já não posso por preguiça
porque as quantidades me cansaram
começo um não às coisas demasiadas
não a todo peso morto mais que torto
eu quero provar
estar nu
pelado quem sabe assim 
muito mais leve
não é assim o próprio princípio recém nascido?
eu não quero saber nada
eu não quero perguntar porque
eu me tornei um colecionador cansado
eu começarei por dar minhas falhas
eu começarei por dar minhas falências
eu me darei um pobre despedaço de terra
uma terra pisoteada
uma terra de urtigas
uma cidade ocupada
eu quero estar nu
e começar

Adaptado de Paul Van Ostaijen
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