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"quando nada
mais nos resta
vale tudo
pois se tudo
mais vai sempre
dar em nada
nada mais nos
vale salvo
tentar tudo
mas tentando
tudo nesse
tudo ou nada
não por nada
nada é tudo
que nos resta
pois no vale
tudo nada
vale a pena"
Vale Tudo - Nelson Ascher
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Douração
estou sozinho no quarto,
estou sozinho e não sei.
que luz adormece a face
se em gritos já me afoguei?
estou dançando sozinho?
estou dançando? não sei.
eu colho com as mãos a ausência
do rosto que não beijei.
que luz chega do outro lado,
de outro espelho, de outo lugar?
estou sozinho na quarto...
ó mundo, vamos dançar!
adaptado de Alphonsus de Guimaraens Filho
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toda demora é um silêncio
e ainda
demora como
em seu tempo
nada
e ambos
como ausência
ou falta
o silêncio é muito superior
a toda
e qualquer
ansiedade do mundo
e sabe estar independente
de quem não
fica
adaptado de Yassu Noguchi
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DMT
os relógios de Dalí
diluiram na minha frente
os ponteiros giram soltos
veloz e precisamente
vivo a sensação do tempo
completamente afetado
no presente e no passado
há um movimento parado
preso na engrenagem solta
sem estrutura na mente
no compasso, o passo rápido
cada vez mais lentamente
então vejo cães amarelos
levando os prédios da Paulista
macho e femea, magrelos
pessoas pagando para ver
notebooks viram panquecas
nas bordas da escrivaninha
dois mouses na biblioteca
concentrados, lendo Caminha
a fantasia surreal
termina meio sem fim
e imagino ao natural
o medo de olhos fechados
livre dentro de mim
Adaptado de Deivison Souza Cruz
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Oxímoro
pegue uma frase qualquer, extraída de um ensaio filosófico. digamos, essa: "a capacidade de receber representações dos objetos segundo a maneira como eles nos afetam, denomina-se sensibilidade", de kant. em seguida, inicie um processo lento de carícia semântica. acaricie as palavras "capacidade", "receber"e "representações" , fazendo movimentos circulares com os dedos polegar e indicador sobre cada uma delas, de modo a amaciá-las até que elas fiquem tenras. reserve. depois de cerca de cinco minutos, você verá que elas terão se transformado em "girassóis amarelos" ou ainda "gravata florida". passe agora para as palavras restantes: "objetos", "maneira", "afetam" e "sensibilidade". dessa vez, aperte suavemente as consoantes, girando os dedos na horizontal e na vertical, até que você sinta cederem a resistência e a rigidez, dando lugar a um relaxamento total, quando então as palavras passam a topar qualquer parada, até virarem, praticamente, literatura. vá dormir. quando você acordar, surpresa: encontrará palavras calmas, descansadas, dizendo coisas desse tipo: "a pintura de girassóis amarelos me faz um bem danado" ou "aquela música que acabei de ouvir'. Caramba!
Adaptado de Noemi Jaffe
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the anatomy of melancholy
olhar
com um olho
alegre
e ver com os
outros
tristes
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quinquagésimo quinto mínimo
Há 13 anos
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