"a culpa minha, maior,
era meu costume de curiosidades de coração.
Isso de estimar os outros, muito ligeiro,
defeito esse que me entorpecia."
- João Guimarães Rosa,
no livro 'Grande Sertão: Veredas'.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.
.
intervenção sobre foto de Rick Barneschi |
tempo demais que estive assim
que deve ter sido longo
olhando
agora passo toda a minha atenção
para os ouvidos
algumas vezes
me fala tão estreito
e raro
o mundo
que preciso sair dali
orientando-me pela escuta
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pra que envelhecer vento
se eu vim do frio das serras?
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a gente principia as coisas
sem nem saber porque
e desde aí perde o poder de continuação
— porque a vida é mutirão de todos
por todos remexida e temperada
às vezes perde-se o gosto
às vezes tem gosto demais
às vezes tempera-se errado
o bom mesmo é que sempre tivesse gosto
qualquer um
mesmo que ruim
a gente acostuma com os gostos
só não pode deixar que seja sempre o mesmo
senão estraga
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my heart circuit
vou lhe falar
te falo sobre amor
do que não sei
um grande amor!
não sei
penso que ninguém ainda
nem sabe
só umas raríssimas pessoas
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não
tenho
mais
SER
teso
de
nada
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simples
você
envelhecerá
fora da linha
do equador
fora do esquadro
fora de uma vala comum
qualquer
sempre um tutano
um pensamento
atento
que sabe
que preso à uma única linha
nada
sobrevive
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#dialogos
- eu não gosto de virgula e ponto final
- são os espaços da vida
- espaços de puro tédio
a vida não tem espaços
nem no sono
existem sonhos
para ocuparem
espaços
o único espaço
real
é entre
nascer-morrer
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é madrugada
e seus olhos
esparsos
desfaço
com meus olhos
úmidos
sem nenhuma
relação
com náufragos
ou estetas
ou poetas
sinto o vidro
espesso das janelas
feito o vento frio
cortante lá fora
não me importo
as lágrimas e os
náufragos serão
sempre os mesmos
eu
não
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naturalia non sunt turpia*
hoje
o poema foi se matar
antes de mim
ele ressuscita
eu só volto
amanhã
em
sonho
*"as coisas naturais não são vergonhosas."
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“escrever com a imagem e ver com a palavra.”
- Maureen Bisilliat
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