sexta-feira, 24 de junho de 2016

dos circuitos...

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"a culpa minha, maior, 
era meu costume de curiosidades de coração. 
Isso de estimar os outros, muito ligeiro, 
defeito esse que me entorpecia."

- João Guimarães Rosa, 
no livro 'Grande Sertão: Veredas'. 
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.
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intervenção sobre foto de Rick Barneschi





























tempo demais que estive assim
que deve ter sido longo
olhando
agora passo toda a minha atenção 
para os ouvidos

algumas vezes
me fala tão estreito
e raro
o mundo
que preciso sair dali
orientando-me pela escuta
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pra que envelhecer vento
se eu vim do frio das serras?
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a gente principia as coisas
sem nem saber porque
e desde aí perde o poder de continuação 
— porque a vida é mutirão de todos
por todos remexida e temperada
às vezes perde-se o gosto
às vezes tem gosto demais
às vezes tempera-se errado
o bom mesmo é que sempre tivesse gosto
qualquer um
mesmo que ruim
a gente acostuma com os gostos
só não pode deixar que seja sempre o mesmo
senão estraga
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my heart circuit

vou lhe falar
te falo sobre amor
do que não sei
um grande amor! 
não sei
penso que ninguém ainda 
nem sabe
só umas raríssimas pessoas
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não
tenho
mais
SER
teso
de
nada
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simples
você 
envelhecerá 
fora da linha
do equador
fora do esquadro
fora de uma vala comum
qualquer 
sempre um tutano
um pensamento 
atento
que sabe
que preso à uma única linha 
nada
sobrevive
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#‎dialogos‬

- eu não gosto de virgula e ponto final
- são os espaços da vida
- espaços de puro tédio 
a vida não tem espaços 
nem no sono
existem sonhos
para ocuparem 
espaços
o único espaço 
real
é entre
nascer-morrer
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é madrugada 
e seus olhos
esparsos 
desfaço 
com meus olhos
úmidos 
sem nenhuma
relação 
com náufragos 
ou estetas
ou poetas
sinto o vidro
espesso das janelas
feito o vento frio
cortante lá fora
não me importo
as lágrimas e os
náufragos serão 
sempre os mesmos
eu
não
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naturalia non sunt turpia*

hoje 
o poema foi se matar 
antes de mim
ele ressuscita
eu só volto
amanhã 
em
sonho

*"as coisas naturais não são vergonhosas."
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“escrever com a imagem e ver com a palavra.”
- Maureen Bisilliat
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