"palabras a no dudarlo, palabras, no otra cosa.
plabras en lugares, las mismas en diferentes textos,
palabras vueltas del revés desde la primera letra.
a punto de poema.
halladas en ocasiones, en lindes de un olvido,
en manos aún torpes de aprendices de sol y de sombra,
¿poesía qué, cuándo, poesía cómo?
acentos tales.
palabras que quieren decirnos algo oculto
desde siempre por las parcas de los sueños,
escondido entre los pliegues."
De Apuntes Para Una Reencarnación, 2000
Arnaldo Calveyra
.
natureza
morta
não
vi a flor
sobre
a mesa
eu vi
a
arte
eu sou a casca
dessa banana
poesia
que eu reciclo
todo
dia
queria um poema
que incediasse
consciências
"in vino veritas"
Alceu, de Lesbos
onda é um pedaço
solto
de
mar
onda é um mar
emprestado
que acaba
em
espuma
onda é o esquecimento
do mar
na praia
onda é um fim
líquido
a gente só perde tempo
quando esquece
memória
é o espaço vago
entre dois tempos
dores retiradas
com o suor
do amor
noturno
o passado
é um pássaro sem voo
e o futuro
é um pássaro engaiolado
com a porta
aberta
e a chave
do lado de fora
esperando
a leveza da vida
deveria ser medida
em liberdades
o peso da vida
deveria ser medido
em desilusões
estupidez
é não perceber
que o tempo
queima os olhos
da memória
o mais longo intervalo
é entre
nascer
e morrer
é como o dia e a noite
é como um desencontro
até o próximo olhar
desavisado
o despistar das horas
num relógio
parado
a doença dos dias
é envelhecer
todo choro
é uma emoção esquecida
lavada
com água
salgada
o humor
é o amor de roupa
íntima
eu quero a cura
da doença do medo
e a vacina
eterna
contra a culpa
impulso
absurdo
de escrever
até libertar
o poema
da palavra
quem tem
saudade da juventude
escaneia
o passado
tecnologia
é poesia
sem fio
poesia
à flor da língua
portuguesa
antes que apareça
à flor da pele
descalça
quando eu quero dizer nada
acabo fazendo poesia
todo mundo
deveria ter um limite
essa linha amarela
mais visível
se eu crio
não entro
em crise
o espaço
que eu desejo
agora
é o que está entre
o começo e o final
de um bom
poema
vida dura
em corpo mole
tanto bate
até que flui
a vida
nunca vem explicada
num livro
mas pode ser resumida
num poema
quase
todo sonho
é uma forma de ilusão
da memória
meia vida
é sempre o que se consegue
sem sentimento
meia
idade
é a meia
metade
insatisfeita
adultos
são a janela da casa
e o sol do melhor lado
infância
é uma falta de vergonha
na marra
amadurecer
é crescer ao contrário
a vida é uma mistura
de ritmo e caos
contaminados
milagres
são essas retas paralelas
que se encontram por acaso
no infinito
o acaso são
eventos traçados
a plenos punhais
atravessados
por estradas de ferro
dentro de montanhas
de situações
desencontradas
didática poética
versos métricos
versos rítmicos
versos silábicos
versos brancos ou soltos
versos livres
verso alexandrino
verso sáfico
verso decassílabo
verso agudo
verso de arte maior
verso de arte menor
verso heróico
verso intercalado
verso leonino
versos interpolados
verso de pé quebrado
frente
e
versos
com o tempo
as grandes verdades
se transformam
em grandes
vantagens
um fóssil
é frágil
quanto mais fácil
o osso
a arte
é quando a água ferve
e vira vapor
de inspiração
a intimidade
é uma roupa íntima
com um dedo
em riste
a poesia é despudorada
refaz a palavra
sem pedir perdão
combina o nu
com um palavão
como se ela fosse
dona da razão
informal
é a luz da manhã
entrar pela janela
sem pedir licença
a pessoa atravessa o poema
enquanto ela presta
o poema atravessa a pessoa
enquanto ele presta
faço de mim
o que eu não sei
para desentender
o outro
que não se sabe
intuição:
perceber
com os olhos de dentro
apalpando os ouvidos
às cegas
rotina:
só um tolo
copia receita
de bolo
elimino faltas
pra aumentarem
sobras
o outro sempre tem razão
até arma ao contrário
é muita palhaçada
pra pouco circo
quem me deixa
não sabe a besteira
que é
escapar
de mim
planetário
mar azul marte
morte vênus
amor
vermelho
mercúrio
júpiter
netuno
arde no fundo
urrando
urano
saturno
soturno
plutão
da terra
quanto mais coragem
menos medo
quanto menos medo
mais cara de pau
a vida atravessada
entre a cara e a coragem
oração pela pedra
pedra nossa
que estás ao léu
sacrificada seja vossa
rocha
assim como nós nos marcamos
pelos vossos pedaços
ferimentos
e tombos
constantes
além
nem sempre tem internet
que pára nos fins de semana
como aqueles bêbados ocasionais
que só se conectam
a quem se engana
o que os olhos não veem
a memória
esquece
não faço questão de questionar
se a questão
não me acrescenta
nada
a casa com tantos quartos
e um barulho na frente
de serras e furadeiras
crescentes
a essa hora da manhã
um estrangeiro
furando a cabeça
da gente
o ralo do chuveiro
engoliu restos de nós
e o nosso humor
foi por água abaixo
enquanto restos de pele
decantada
eram arrastados
por uma aranha
na teia
logo acima
de nossas
cabeças
de vento
pessoas
que se entendem
como um rio:
vão perto do mar
mas nada de misturar
as ondas
.
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