domingo, 24 de maio de 2015

dos desalinhados...

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"palabras a no dudarlo, palabras, no otra cosa. 
plabras en lugares, las mismas en diferentes textos, 
palabras vueltas del revés desde la primera letra. 
a punto de poema. 
halladas en ocasiones, en lindes de un olvido, 
en manos aún torpes de aprendices de sol y de sombra, 
¿poesía qué, cuándo, poesía cómo?
acentos tales. 
palabras que quieren decirnos algo oculto 
desde siempre por las parcas de los sueños, 
escondido entre los pliegues."

De Apuntes Para Una Reencarnación, 2000
Arnaldo Calveyra
.









































natureza
morta
não 
vi a flor
sobre
a mesa
eu vi

arte

eu sou a casca
dessa banana
poesia
que eu reciclo
todo
dia

queria um poema
que incediasse
consciências

"in vino veritas"
Alceu, de Lesbos

onda é um pedaço
solto
de 
mar
onda é um mar
emprestado
que acaba 
em
espuma
onda é o esquecimento
do mar
na praia
onda é um fim
líquido

a gente só perde tempo
quando esquece

memória
é o espaço vago
entre dois tempos

dores retiradas
com o suor 
do amor
noturno

o passado 
é um pássaro sem voo
e o futuro
é um pássaro engaiolado
com a porta
aberta
e a chave 
do lado de fora
esperando

a leveza da vida
deveria ser medida
em liberdades
o peso da vida
deveria ser medido
em desilusões

estupidez
é não perceber
que o tempo
queima os olhos
da memória

o mais longo intervalo
é entre
nascer
e morrer
é como o dia e a noite
é como um desencontro
até o próximo olhar
desavisado
o despistar das horas
num relógio
parado

a doença dos dias
é envelhecer

todo choro
é uma emoção esquecida
lavada 
com água 
salgada

o humor
é o amor de roupa
íntima

eu quero a cura
da doença do medo
e a vacina
eterna
contra a culpa

impulso
absurdo
de escrever 
até libertar
o poema 
da palavra

quem tem 
saudade da juventude
escaneia
o passado

tecnologia 
é poesia
sem fio

poesia 
à flor da língua
portuguesa
antes que apareça
à flor da pele
descalça

quando eu quero dizer nada
acabo fazendo poesia

todo mundo
deveria ter um limite
essa linha amarela
mais visível

se eu crio
não entro 
em crise

o espaço 
que eu desejo
agora
é o que está entre
o começo e o final
de um bom
poema

vida dura
em corpo mole
tanto bate 
até que flui

a vida 
nunca vem explicada
num livro
mas pode ser resumida
num poema

quase
todo sonho
é uma forma de ilusão
da memória

meia vida
é sempre o que se consegue
sem sentimento

meia 
idade
é a meia 
metade
insatisfeita

adultos 
são a janela da casa 
e o sol do melhor lado

infância
é uma falta de vergonha
na marra

amadurecer
é crescer ao contrário

a vida é uma mistura
de ritmo e caos
contaminados

milagres 
são essas retas paralelas
que se encontram por acaso
no infinito

o acaso são
eventos traçados 
a plenos punhais
atravessados 
por estradas de ferro
dentro de montanhas
de situações
desencontradas

didática poética

versos métricos
versos rítmicos
versos silábicos
versos brancos ou soltos
versos livres
verso alexandrino
verso sáfico
verso decassílabo
verso agudo
verso de arte maior
verso de arte menor
verso heróico
verso intercalado
verso leonino
versos interpolados
verso de pé quebrado
frente
e
versos

com o tempo
as grandes verdades
se transformam
em grandes
vantagens

um fóssil
é frágil
quanto mais fácil
o osso

a arte 
é quando a água ferve
e vira vapor
de inspiração

a intimidade
é uma roupa íntima
com um dedo
em riste

a poesia é despudorada
refaz a palavra 
sem pedir perdão
combina o nu
com um palavão
como se ela fosse
dona da razão

informal
é a luz da manhã 
entrar pela janela
sem pedir licença

a pessoa atravessa o poema
enquanto ela presta
o poema atravessa a pessoa
enquanto ele presta

faço de mim 
o que eu não sei
para desentender 
o outro
que não se sabe

intuição:
perceber 
com os olhos de dentro
apalpando os ouvidos 
às cegas

rotina:
só um tolo
copia receita 
de bolo

elimino faltas
pra aumentarem
sobras

o outro sempre tem razão
até arma ao contrário

é muita palhaçada
pra pouco circo

quem me deixa
não sabe a besteira
que é
escapar 
de mim

planetário

mar azul marte
morte vênus 
amor
vermelho
mercúrio
júpiter
netuno
arde no fundo
urrando
urano
saturno
soturno
plutão
da terra

quanto mais coragem
menos medo 
quanto menos medo
mais cara de pau
a vida atravessada
entre a cara e a coragem

oração pela pedra

pedra nossa
que estás ao léu
sacrificada seja vossa
rocha
assim como nós nos marcamos
pelos vossos pedaços
ferimentos 
e tombos
constantes
além

nem sempre tem internet
que pára nos fins de semana
como aqueles bêbados ocasionais
que só se conectam
a quem se engana

o que os olhos não veem
a memória
esquece

não faço questão de questionar
se a questão
não me acrescenta
nada

a casa com tantos quartos
e um barulho na frente
de serras e furadeiras
crescentes
a essa hora da manhã
um estrangeiro
furando a cabeça
da gente

o ralo do chuveiro
engoliu restos de nós
e o nosso humor 
foi por água abaixo
enquanto restos de pele
decantada
eram arrastados
por uma aranha
na teia
logo acima
de nossas
cabeças
de vento

pessoas
que se entendem
como um rio:
vão perto do mar 
mas nada de misturar 
as ondas
.

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