"isso de ser uma ausência
de dizer a que não veio
de ser o único da turma
fumaça esparsa que a brasa sua
leveza sem esteio
mina d'água sob a rua
isso de ser jogado fora
ao pé da terra
pólen na areia
moita em meio à guerra
imenso mar sem beira
osso que se esfola
resto de feira
isso de ser uma quimera humana
mero pulsar de banzo
margem de afetos
fugas
desenganos
isso ainda vai dar samba
poema
ou pano pra manga."
Fred Girauta.
"Isso dá nisso". In: Nós.
Porto Alegre: Vidráguas, 2013.
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details |
o cadáver do poeta exumado
porque logo eu poeta?
acho que foram aquelas
escadas
da escola de farmácia
onde Drummond
também esteve
aquela poesia
contaminou
cada parede
subindo os degraus
deixando tudo
colunas
do prédio impregnadas
de poesia
muros
e poemas e reações
doentias
(as minhas)
por coisa de tanta
causa química
inexplicada
era uma farmácia
24 horas
na veia
aberta
uma injeção
de palavras
a trovejar
nas
pupilas
pálpebras
em noites sem sono
estudando
eu poeta
sem saber
que a química
me abandonaria
de vez
para a poesia
tomar conta
das vísceras
eu pobre mortal
convivendo
agora com ela
essa coisa intensamente
desajuizada
retirando de mim
eu
em pedaços
eu
em chumaços
de poesia
eu
aqui poeta
filósofo
cotidianista
assustado
desajustado
em pleno
poema
nu
(preciso excomungar
até o último insulto)
um palavrão
essa senhora
sua puta
ordinária
poesia
mãe
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20:08
oito e oito
sozinho
entre um temaki
e um blues...
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"alegria
por onde anda
seu fulgor divino?
filha do vento
humanos ébrios de desejo
entram em seu sagrado santuário
seus encantos unem novamente
o que o rigor do tempo separou
todas os homens se igualam
onde paira seu voo suave"
Ode à Alegria
(primeira estrofe)
Schiller - adaptado
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mesmo que nunca venha ser ouvida
é para sempre qualquer despedida
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"que grandes corações eles possuíam.
vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia.
agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e segunda classe).
os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor."
Trecho do "Necrológio dos desiludidos do amor" -
Carlos Drummond de Andrade
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