terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

das resistências...

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"isso de ser uma ausência
de dizer a que não veio
de ser o único da turma
fumaça esparsa que a brasa sua
leveza sem esteio
mina d'água sob a rua

isso de ser jogado fora
ao pé da terra
pólen na areia
moita em meio à guerra
imenso mar sem beira
osso que se esfola
resto de feira

isso de ser uma quimera humana
mero pulsar de banzo
margem de afetos
fugas
desenganos

isso ainda vai dar samba
poema
ou pano pra manga."

Fred Girauta. "Isso dá nisso". 
In: Nós. Porto Alegre: Vidráguas, 2013
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Ilustração de Damí Carlos



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um jogo do acaso
contra o horizonte
as linhas se perdem
os homens
tecem os dias
nas noites
ao deitar
cada corpo
um carretel
amarrar os fios
arrancar de peles
a ordenha das palavras
a linha presa no horizonte
tecendo difícil
as próprias grades
da cegueira
mesmo assim
persigo as palavras
no fundo dos olhos
na memória das pedras
no ruído das coisas vivas
a pele desafiada
desfiada
traduzindo-se em deserto:
onde resiste um poema
o oásis sou eu
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