sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

da datilografia...

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"perdeu o fio da meada
apagou sua estrela guia
seus passos viraram pedra
o tédio escavou seu rosto
juntou devagar os restos 
juntou-os para a vida, se espalhou"
                                                     Adonis - outra voz
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monumento

por ser e insistir no amor
construí a vida
sobre a pedra que vejo de luz
alçada da rua
como um grão maior
pesa sobre minhas letras
faz sombra nos meus poemas
por ser amor
permaneço
construo sobre a luz
e um bocado dessas pedras
nos meus dias
constroem
comigo
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nos braços de outro alfabeto o poema dormiu
e perdeu a inspiração
e não deu em nada
vai pernanecer recluso até sair do exílio
por onde e quando acordo o que dorme?
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revolta a(r)mada: armas e poemas atirados ao crepúsculo
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avança desarmado
pela mata sem ser detido
como nuvem
ou pássaro que seja
ontem carregou uma montanha
e mudou um rio de lugar
atravessa o avesso
do aparo do dia
dos pés produz um caminho no dia 
e da noite faz um calçado pra ser usado no dia seguinte
essa é a dinâmica das coisas
dos caminhos que espera que não sejam rudes
ali onde o prédio vira pedra e a sombra cobre a cidade
ele vive
e tenta errar o desespero
acertar a esperança
dança através do pó até que espirre
e dança para a chuva até que ela caia
enche a vida sem que seja visto
faz da vida poesia e mergulha nela
até acabar o fôlego
salva vidas com as palavras
mais a sua
que de outros
ansioso
transforma o amanhã em caça
corre atrás dele em desespero
finge calma com pílulas prescritas
às vezes sente que suas palavras seguem rumo à perdição
a confusão é sua pátria
mas tem os olhos cheios
assusta e conforta
exala terror
transborda ironia
descasca os homens como cebola
e despreparado
chora
é o verso que não volta atrás com o vento
a água que não retorna à fonte
cria sua espécie a partir dele mesmo porque não tem escolha
não tem escolta
seus ascendentes e raízes são seus próprios passos
caminha à beira de abismos
assustadores:
medo, mortes e perdas
mas tem o porte dos ventos
e enquanto poder voar
fica de palavras abertas
e vence os abismos
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o que o homem sente do pássaro é inveja
saudade é o que o peixe sente da nuvem
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passado
velho
enruga:
o passado
é um ferro a brasa
passando
bem ou mal
o presente amarrotado
para vestir o futuro
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na vida tudo chega de súbito.
o resto, o que desperta tranquilo,
é aquilo que, sem darmos conta, já tinha acontecido
uns deixam emergir os acontecimentos, sem medo
esses são os vivos. os outros vão adiando.
sorte a destes últimos que se vão
a tempo de ressuscitar antes de morrerem.
eu por exemplo, quero ser como a flor
que morre antes de envelhecer
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a escuridão é a filha da solidão
sob o céu que nos contempla
sem estrelas
não é a luz que carecemos
afinal
dentro da noite
pouco aprendemos a ver
o mundo necessita ser visto
sob algum tipo de luz
alguma claridade
que possa cair
com respeito
e delicadeza
sobre os
seres
só a luz revela
a claridade dos
seres
a escuridão é a
ausência de luz
sobre os
seres
só a luz revela a intimidade
e a nudez dos
seres
afinal quantas cores
tem a luz
ao parecer dos
seres
com olhos de camaleão?
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fui visitado
por meia morte
e agora vivo
a meia luz
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redundância:
cada inferno
pessoal
é individual
e intransferível
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descartável:
tem dias 
que quero 
me jogar fora

reciclável:
tem dias 
que quero
sair de dentro
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— o que farão os amores que não tive quando eu me for?
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