. "os poetas fuzilam pétalas, metem balas, riscam solidão. os poetas atacados de revolução." Romério Rômulo . . relicário
você prefere viver como poeira ou como vento? quero selecionar as mentiras inventadas que eu sei que aqui a todos interessa uma segunda vida necessária mas que infelizmente não existe santificado seja o meu seu nosso outro modo de viver aqui onde não se encontram vestígios de todos os outros meus seus nossos dias perdidos .
. "se acaso em minhas mãos fica um pedaço de oiro volve-se logo falso... ao longe o arremesso... eu morro de desdém em frente dum tesoiro morro à mingua, de excesso." a queda - Mário de Sá Carneiro. . . poetography
escrevia pra abafar a angústia de ser humano pela metade. o poeta antes de tudo ecoa.acordava com pouca alma e dormia com o coração apagado. jogava dardos pro alto, sem alvo. nutria-se do os que desertos ainda retinham de água. procurava oásis pra vencer tudo aquilo.arquitetou alguém, ainda que seja chuva provisória onde brincava de não se molhar.notava nada de novo no silêncio líquido do barco, mas era melhor passar ali que boiar em um campo distraído qualquer. passou um tempo só pensando nisso. desistiu. tinha mais água nos olhos que no mar além. preferiu as águas. mergulhou. .
. "Et tuam ipsius animam pertransit gladius..." São Lucas, II, 35 . . desvios para Natália
esperança e fé são palavras rarefeitas pra mim são como nuvem, vapor, poeira e pó quase irrespiráveis como a poluição dessa cidade grande como a imposição dessa cidade grande e das gentes que desanimam mas tem um outro lado que dizem esperança bem no fundo esperança se ajuda eu não sei mas é necessária .
. "Quero lhe implorar Para que seja paciente Com tudo o que não está resolvido em seu coração e tente amar. As perguntas como quartos trancados e como livros escritos em língua estrangeira. Não procure respostas que não podem ser dadas porque não seria capaz de vivê-las. E a questão é viver tudo. Viva as perguntas agora. Talvez assim, gradualmente, você sem perceber, viverá a resposta num dia distante." Rainer Maria Rilke .
. O cheiro de todas as criaturas
Eu nunca sei quando as histórias acabam. Por isso sempre fico preso entre uma e outra, ou entre nenhuma e nenhuma outra; entre um recomeço sem fim e um fim sem término. Por isso prefiro nem acabar os anos. No ano passado esperei muito. Obtive um nada e um outro modo de viver que não era nem de perto o eu esperava. Esperava dias melhores e só tive desvios. Agora espero portas e almas entreabertas. Olho pelo buraco da fechadura com medo. E vivo a vida com algemas leves. Muitas vezes tenho vontade de me livrar delas. Talvez tudo aconteça assim por eu ser mais espectador ou coadjuvante, do que protagonista da minha vida. Tenho essa enfermidade de não dar conta de quando alguma coisa acaba. A noite chega, as pessoas se aproximam, tomam seus banhos e eu continuo lá: com a vida na cabeça. Tudo muito pensando aguardando alguma deixa. A deixa que nunca vem. Sempre tive medo das coisas e das pessoas. Um pavor e uma falta de fé muito grande. Talvez por isso eu tenha criado minha própria companhia, onde anoto, escrevo; edito; e finalizo meus textos solitariamente. Escrevo só para mim uma tragicomédia poética. A realidade me faz tão mal e me deixa tão fraco que fico, no fundo da vida, muitas vezes, a sussurrar poesia a mim mesmo. Às vezes não ouço. Quase sempre não ouço, porque sussurro baixo e minha voz é trêmula… Quem lê não entende, e logo, não responde. Eu, furioso, me escondo de todos: do leitor; dos conhecidos; dos estranhos… Expulso todo mundo e ateio fogo a tudo. Eu sempre adorei o fogo como resposta. E ali dentro fico eu, junto aos pensamentos, remoendo tudo incendiado. Incandescente por dentro: queimando, queimando, queimando…
Livre adaptação de “O fim da estória” de Alejandro da Costa Carriles .
. "quero uma porta entreaberta, mas só o necessário. quero ver sem ser visto, entrever as coisas, saber cada vez menos. quero cada vez mais portas entreabertas. não por proteção, mas por delicadeza." Julio Carvalho .
. poema com todos os vícios
viciado em muito viciado em sorte viciado em jogo viciado em corpo viciado em homem viciado em mulher viciado em esporte viciado em telefone viciado em internet viciado em chiclete viciado em cocaína viciado em esquina viciado em heroína viciado em codeína viciado em morfina viciado em tráfico viciado em droga viciado em estricnina viciado em carne viciado em arte viciado em livro viciado em capítulo viciado em papiro viciado em tiro viciado em arma viciado em moda viciado em foda viciado em música viciado em vídeo viciado em virgem viciado em peixes viciado em aquário viciado em tempo viciado em horário viciado em viagem viciado em coragem viciado em corte viciado em morte viciado em pó . viciado é pouco .
. "O fim está no próximo." Julio Carvalho . . por um fim reedit
o fim está próspero com o esquecimento global por isso eu prefiro um virus de grife que mata todo mundo bem vestido e coloca num caixão chanel com botão de cinema bunuel e caixa de presente em tom pastel a torre de babel fica no seu pé e qualquer língua já vale o que é algum problema aqui na renderização e não tem quem aguente mais poluição cd dvd pirata em promoção mais um problema de comunicação não transparelho o que pareço e não tenho preço no varejo eu vejo um outro dia assim atrás de mim não tem mais jeito não o mundo vai acabar e eu pagando o mesmo preço feito um cão
. “Ninguém pode pois escrever sem tomar apaixonadamente partido (qualquer que seja o distanciamento aparente de sua mensagem) sobre tudo o que vai bem ou vai mal no mundo.” Roland Barthes .
. videovisãoavisoávido
estranhamentos no que se vê estranhamentos no que se ouve estranhamentos no que se sente estranhamentos na ansiedade estranhamentos da sociedade estranhamentos na saciedade estranhamentos tais que causam estrangulamentos em pescoços remotos e os terremotos internos encontram-se em cada vez mais infernos a mais .
. "Cada qual tem um gosto que o arrasta." Virgílio . . o gosto o gosto do outro o gosto do outro que se discute que se anima quando se gosta que se precisa quando se falta do cheiro do outro que resiste na boca na língua na hora deixa o gosto da coisa toda
mas o mal é o líquido e certo pouco que todo mundo toca e nunca tem .
. "Existem barreiras tanto fisicamente quando afetivamente entre nós e as pessoas que nos cercam e me fez pensar em como construímos mundos particulares, inacessíveis muitas vezes, cujo acesso só pode ser descoberto por um momento de decisão... Por um salto no desconhecido." inAmor Wabi Sabi .
. as coincidências precisam ter um fim*
Falo como qualquer um... A coisa precisa ficar séria. Estive muito sozinho, mas nunca vivi sozinho. Teóricamente. Quando eu estava com alguém, me sentia feliz... Mas, ao mesmo tempo, tudo parecia coincidência. Aquelas pessoas eram meus pais, mas poderiam ter sido outras. Por que esse rapaz de olhos castanhos é meu irmão E não aquele de olhos verdes, do outro lado da rua? O filho do balconista era meu amigo Mas eu poderia igualmente ter colocado o braço Em torno do pescoço de um cavalo. Estive apaixonado por várias vezes. Eu poderia igualmente ter abandonado qualquer paixão E partido com qualquer pessoa que passou por mim na rua.
Olhe para mim ou não. Me dê a sua mão ou não. Não, não me dê sua mão, desvie o olhar. Hoje é noite de lua nova Noite muito tranquila Sem derramamento de sangue pela cidade. Raridade Nunca brinquei com ninguém Apesar disso, nunca abri os olhos e disse: “Agora é sério”. “Finalmente é sério” Assim, fiquei mais velho. Era eu o único que não era sério? O tempo não tem nada de sério? Nunca fui solitário, nem quando estive sozinho nem acompanhado. Mas eu teria gostado de ser solitário. Solidão significa o seguinte: finalmente estou inteiro. Agora posso afirmar isso, pois hoje me sinto solitário. As coincidências precisam ter um fim. Lua nova das decisões. Não sei se existe destino, mas existe decisão! Decida! Nós agora somos o tempo. Não apenas a cidade, mas o mundo todo Tem parte na nossa decisão. Agora nós dois somos mais do que dois. Encarnamos algo. Encamamos algo. Eu estava no meio da praça E a praça esta cheia de gente que deseja o mesmo que eu. Estamos decidindo o jogo de todos. Estou pronto. Agora é a sua vez. O jogo esta em suas mãos. Agora ou nunca. Você precisa de mim. Você vai precisar de mim. Não existe história maior que a nossa A história de duas pessoas juntas. Será uma historia de gigantes. Invisível, contagiosa Uma historia de novos ancestrais Veja os meus olhos Eles são o retrato da necessidade Do futuro de todos que estão na praça.
Ontem a noite, sonhei com alguém Com alguém que eu amaria Apenas com esse alguém eu poderia ser solitário Me abrir totalmente. Receberia esse alguém como como um ser inteiro. Envolveria num labirinto de felicidade partilhada. Eu só não sei quem é.
Esse alguém diria que Algo aconteceu. Ainda está acontecendo. Me prende. Foi verdade à noite e é verdade agora, neste momento. Quem foi quem? Estive dentro de algo em volta de mim. Quem nesse mundo pode dizer que já esteve unido a outro ser? Eu estou unido. Nenhuma criança mortal foi concebida Mas sim um quadro imortal compartilhado. Aprendi sobre estupefação esta noite. Alguém que me levou para casa, e encontrei o meu lar. Aconteceu uma vez. Aconteceu uma vez, portanto vai acontecer. A imagem que criamos me acompanhará quando eu morrer. Terei vivido em seu interior. Existe somente a estupefação entre nós dois. A estupefação entre duas pessoas me tornou humano. Eu agora sei O que nenhum anjo sabe.
. "bom humor é mito o fato é que eu não vivo sem ele então vivo de um mito" Julio Carvalho . fogo dobrado . fogo dobrado
tenho preguiça de gente que fala sobre o amor que nem água tenho preguiça de gente que fala quem fala não faz quero fazeres aconteceres com ou sem amor tanto faz .
. "Podemos estrangular os clamores, mas como vingarmo-nos do silêncio?." Alfred de Vigny . . um lance de idéias
ou então um gole ou meio intragável não há garganta que o mereça se esconde entre os dentes enrosca de vergonha mas é tarde a boca engasgada justifica o sim .
. "Somos amigos em pólos confusos da paisagem, mas com as sombras intrincadas na mesma moeda. Amigos além da linguagem do agora." João Pedro Wapler .
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no princípio era o download era o crime a pirataria não se roubavam corações e as essências eram mais fáceis hoje tudo é mais complexo as coisas vivem dentro de nuvens busca-se o invisível guarda-se o transparente antes era a distância hoje a distância é só um detalhe que nos habita então agarre urgentemente o tempo que nos resta e transforme-o finalmente no que ele é: um instante breve de nuvem .
. «Fica só com o verso, segue a vida com o acréscimo do sonho que dele nasceu, leio-o sempre, a obra toda! Não o tenha para si, pois ele é a própria asa, pois ele se dissolve se preso, pois ele se escorre quando atado, pois ele desaparece, se for pego.» Betina Moraes . .
o tempo de mudança está adormecido não quero um ajuste de contas nem um sair de cena repentino só preciso andar senão definho uso aqui as letras todas para dizer o que pouca gente entende e um outro resto de gente ignora porque não sente ou não sabe ou tem preguiça de entender
(a preguiça de entender qualquer poesia pressupõe falta do mínimo sentimento)
cansado de ouvir que sou louco deixo agora de lado o cansaço e assumo a loucura definitivamente
. "o poeta inscreve no cristal vivo dos teus olhos a breve palavra amor
o vento vem e apaga" Inscrição - Roberto de Oliveira Brandão . . Nada de Poema de Amor
há muito tempo já que não escrevo um poema de amor e é o que eu sabia fazer com facilidade a minha natureza mineira tinha essa humana graça feiticeira de tornar de cristal a mais sentimental e sem graça bebedeira
mas que vou envelhecendo e ninguém me deseje apaixonado ou que qualquer antiga paixão me mantenha calado o coração num íntimo despudor, — há muito tempo já que não escrevo um poema de amor.
Transcrito e adaptado de Miguel Torga, in 'Diário V' .
. "Ser forte é parar quieto; permanecer." Guimarães Rosa . . sobrevivente é aquele que faz poesia além do poema e insiste nisso sabe também que faz isso por acréscimo e não por vontade (desconfio que escrevi um poema) .
quando falo de começo falo de um lugar onde quero estar falo de procura falo de um jogo o jogo da procura de qualquer movimento o movimento que acontece que transforma as coisas por exemplo a palavra sozinha não diz muito a palavra desejo não diz muito desejo sozinho não diz muito é preciso do outro para acontecer o desejo sozinho também não acontece é preciso de outros aconteceres é preciso encontrar o movimento com outro nada se move sozinho nada se encontra sozinho nem o desejo nem o outro nem o desejo do outro .
. "Dobrei o oceano e guardei na caixa. O grito! Só Deus entende que as coisas miúdas existem enquanto o mundo segue vasto. Por isso me emprestou a caixa dos segredos e pediu que eu guardasse mil pedacinhos de beleza - todos os que eu visse" Carla Jaia . . SOBRE O POBRE J.C. Adaptação do original SOBRE O POBRE B.B. de Bertold Bretch (reeditado)
Eu, Julio Carvalho, sou das montanhas verdes. Minha mãe me trouxe para o mundo Dentro do ventre. E o frio das montanhas Estará comigo ao me cobrir a laje.
Na cidade de asfalto estou em casa e a caráter, Com todos os últimos sacramentos Ministrados: jornais, livros, vinhos: Desconfiado, descrente e insatisfeito.
Sou amável com os outros. E visto minha roupa como todo o mundo. Digo: as pessoas são bichos de cheiro esquisito Entendo: e daí? Também sou, no fundo.
Às vezes, nos lugares que experimento, Coloco algumas pessoas num lugar, E digo: em mim vocês têm, eu garanto, Alguém a quem não podem alegrar.
Algumas tardes me reúno com amigos. Tratamo-nos com respeito, então. Eles dizem, com os pés à minha mesa: As coisas vão melhorar. E não pergunto: quando.
Na madrugada cinza, postes mijam E piam os pássaros, que são seus vermes. Na cidade, meu copo se esvazia, Largo um livro e durmo um sono leve.
Assentamo-nos, uma geração leviana, Em prédios que quiséramos indestrutíveis (assim construímos os arranha-céus em todos os lugares E os grandes satélites sobre o Atlântico a nos divertirem).
Destas cidades ficará quem as atravessou, o vento! A casa faz feliz quem nela come: quem a esvazia. Sabemos sermos efêmeros E que depois de nós o que virá será sem valia.
Nos terremotos futuros, que não seja meu destino Deixar por amargura o meu lugar se apagar, Eu, Julio Carvalho, largado nas cidades de asfalto, Vindo das montanhas verdes, do ventre da mãe, quarenta e seis anos atrás. .
tenho medo de algumas respostas de qual será ela de ela não vir
a vida, solidão, toda impotência caminha numa pele delicada onde ela rasga a carne arrancada a demonstrar ao mundo sua carência
aceito o sono insano dos loucos como sendo sempre uma primeira vez de tudo experimento muito porque do pouco não se aproveita nada
eu quero andar rico de novidades
o diabo, quando não vem, manda a insônia
Mateus não dorme. Porque não dorme Mateus? Mateus está vivo. Tão vivo quanto a sua insônia. Mateus está dentro do sonho. O sonho de Mateus não acorda. .
. "O mal da ficção é que ela faz sentido demais. A realidade nunca faz sentido." Aldous Huxley . . lovers written
assim começo de trás pra frente descrevendo alguma parte do amor escrevo porque não conheço outra forma de amar ainda que posso não estar diante de nenhum amor espero um dia que todas as minhas palavras internas ou não estejam prontas para tamanhas mãos e abraços que todas as minhas letras merecem.
meu corpo sabe até onde ele pode escrever os rostos são essas páginas procurando letras quero um livro gente que bem tem que merecer meu universo inteiro de poesia
. "velar o que não se revela a ninguém." Paulo Neves . .
naveg_antes de ontem
enquanto o corpo fosse tela em branco vivíamos água de aquarela a tinta líquida que escorria pela pele ainda visível depois do orgasmo inventávamos desenhos com nossos desejos até que de tão intensos ficavam marcados nos braços largados em ondas do mar após amar
(sobre a mesma pele pintávamos tatuagens de gozo)
encontrávamos em cada dobra do corpo um sentido novo vindo junto com o cheiro de um perfume breve
(um perfume do mar de amar a maresia)
existíamos dentro das explicações entre as leves mordidas as mãos deslizavam com incoerência até que perdidos o corpo a tela o braço e as dobras nas águas nas aquarelas daquelas restava o vento nas velas aqui fora nas têmporas
(até então era só o que se ouvia)
enquanto soprávamos os sonhos o barco do dia corria ninguém sabia que quadro pintava nem se interessava em saber
(o único cuidado que queríamos ter é o de não acordar)
. "Quando escrevo seguindo o coração, quase tudo me sai bem; quando escrevo atendendo à cabeça, não me sai praticamente nada." Julio Carvalho . . tramadrama
poesia não é defloração poesia é o verso à pele poesia é a ebulição da palavra quente
um tempo invertido mais divertido quero o incomum e o inexistente quero mudar o que todo mundo sente da paixão à alegria da causa à consequência perder a consciência e trazer confusão como troca fazer tristeza + derrota = amor em todas as somas fechar todas as portas e abrir janelas com maçanetas andar descalço sobre espinhos lisos pular com com uma asa quebrada do alto de um edifício desmarcar compromissos dar um sumiço imaginariamente matar os chatos, culpados e cínicos pensar de trás pra diante e seguir em frente de um outro jeito diferente .
sou doável em imperdoável analgesia sofro a dor crônica dos amantes não correspondidos dos telefonemas sem resposta da aposta do último centavo quando o jogo deu errado do último segundo quando a porta do trem fecha da última olhada da última chance da última palavra do último espaço de tempo significativo entre duas pessoas
me doo a todos eles a esses momentos de quase ganho quase orgasmo quase engasgo quase fruto maduro que caiu antes da hora
me doo todo a esse último fio breve de resposta que muitas vezes sustenta uma vida inteira .
. "Sinto a secura de quem não afaga." Julio Carvalho . . a_ver_são_navios
as chaves que a vida tem que são pessoas que abrem portas que são destinos que não escolhas que são encontros que são bem poucos que são reflexos que são tão raros que são complexos que são fugazes que são lugares que nunca serão .
. "Poesia: pretencioso rebuscado de palavras sobre uma idéia simples que caberia numa frase curta." @LitaRee_real .
. poemasteróide
o poeta confunde autonomia com astronomia o poeta é um só com todos o poeta constelaciona-se com as palavras fazendo estrelas tão perdidas quanto seus versos
entende-se poesia como um quase amor de galáxias (colisões são poemas)
o poeta se prende às estrelas e constrói segredos poéticos traduzindo nebulosas em significados
o poeta reduz os buracos negros a luz própria (tem a sabedoria do objeto que abraça tudo)
o poeta é de lua de marte da guerra de vênus do amor intergaláctico sistema poermético planetário sideralmente recluso o poeta vai além dos sistemas solares comuns (o poeta é incomunicável no espaço)
o poeta vai além do corpo celeste alcança o fundo e o fim de qualquer universo
além do asteróide pária de qualquer cometa o poeta vai muito além da colisão .
dentro de um café, foi ouvida a seguinte frase “poética” : uma angústia tal qual quando se observa um fungo no interior de uma tampinha de garrafa. fato: poesia sem limite e sentido. num caso grave desses, tal indivíduo merecia uma resposta assim:
poema da casa da mãe joana
na casa da mãe joana os poemas estão pelo chão nas gavetas compotas portas e pouco importa onde estão as palavras nas paredes redes estendidas e ditas gritadas janelas costelas de adão que criam uma eva morta - a veia poética da casa da mãe joana com barro com tudo misturado na maior confusão encontrada em cada buraco de rato com um laço de soneto solto sofrido apertado em cada ratoeira onde não existe nenhum gato de botas absurdas que cacem seus erros e a poesia de pouco soa já que o barulho é muito mais do que só um relógio de rimas badaladas soadas no meio da noite em que voam os morcegos perdidos sem som sem visão e basta um surto na casa da mãe joana e o poema sem graça se entranha na gente e consome quem come na mesa da sala porque poema ruim não em casa – só naquela outra casa – na casa da mãe joana que fica e entala, essa desgraça. .
. "Talvez eu deva mudar, talvez não. Mas o que importa é o agora e de resto, incerteza." Caíque Rufato . . habitante
querer sem querer na ausência da vontade displicentemente à toa feito um susto acordar molhado de chuva sem entender nada não ter seu gênio e existir igualmente sem fazer pedido algum uma fumaça à toa um elemento
. "Cansei do inabitado Da brutalidade obscura Do não reconhecer." Natália Barros . . Autossuficiência é o medo do sofrimento.
As pessoas se sentem autossuficientes porque não querem envolvimentos reais. Não querem comprometimento e correr o risco de se deparar com o desconhecido do outro e o desconforto com as decepções, as ausências e seus descontroles. Por isso preferem se manter longe de tudo criando um abrigo autossuficiente de proteção. Esquecem que algum risco é necessário e da necessidade de se deixar levar pelo outro. Usar a humildade como aliado sem se vitimizar, pode ter resultados surpreendentes. Aceitar que se é humano e saber quando pedir ajuda é uma das coisas mais intensas e corajosas de um poder ser mais humano. Não é uma atitude fácil. Mas é só assim que poderemos encontrar o verdadeiro carinho que muitas vezes não sabemos que está por perto e o ignoramos pelo fato de nos sentirmos deuses de nós mesmos. E os homens enquanto deuses são falhos.
Julio Carvalho
. "quando não for mais tão tarde, tão rápido, tão tanto, então haverá uma curva no ar e a respiração demorará mais tempo para perfazer seu ciclo. Noemi . "O universo conhecido tem um amante completo e que é o maior dos poetas. Ele absorve uma paixão eterna e é indiferente a que acaso vem a ocorrer e que possível contingência de ventura ou desventura e persuade dia a dia hora a hora seu delicioso pagamento. O que perturba e choca os outros é o combustível para seu progresso ardente rumo ao contato e à felicidade amorosa. Outras proporções da recepção de prazer ficam menores diante das suas. Tudo que vem dos céus ou das alturas está conectado nele através da visão do amanhecer ou de uma cena dos bosques de inverno ou da presença de crianças brincando ou de seu braço em volta do pescoço de um homem ou de uma mulher. Acima de tudo seu amor tem lazer e expansão.... ele deixa espaço diante de si. Ele não é um amante indeciso ou desconfiado... ele tem certeza... ele rejeita intervalos. Sua experiência e as chuvas e os arrepios não são à toa. Nada o choca.... nem sofrimentos nem as trevas – nem a morte nem o medo. Para ele as lamúrias e o ciúmes e a inveja são cadáveres enterrados e apodrecidos na terra.... ele os viu enterrados. O mar não tem mais certeza da praia ou a praia do mar do que ele tem mais certeza da fruição de seu amor e de toda perfeição e beleza." Folhas de Relva – Walt Whitman .
. "Há uma diferença muito grande entre saber e acreditar que se sabe. Saber é ciência. Acreditar que se sabe é ignorância. Mas, cuidado! Saber mal não é ciência. Saber mal pode ser muito pior que ignorar. Na verdade, sabe-se somente quando se sabe pouco, pois com o saber, cresce a dúvida, que é preciso idolatrar sempre!" Fabrício Altran . . "Tenho medo de quem não pensa Os que não pensam realmente são os mais traiçoeiros pois os instintos podem pregar peças." Pe Ramon Ferreira
Latrocínicos
a raiva tira as máscaras toda vítima se isenta de culpa a raiva é um tipo de afeto amor é o pódio do desamor .
. "Eu falo o que eu posso, não o que eu quero." Julio Carvalho . . criatório
medo: estado bruto de nada coragem: estado bruto do espírito querer: estado bruto do desejo vontade: estado bruto da força amar: estado bruto do coração perfeição: estado bruto da beleza .
. “O que estamos desejando? De onde vem toda essa saudade?” Pina - Doc. de Wim Wenders . .
le danse
...e a dança começa onde termina a palavra
(reprise)
a dança do corpo começa onde a dança da palavra termina têm coisas que não tem como falar a palavra acaba onde o corpo começa diferente de dizer “lua” e retratar com o corpo e sentir “lua”
usar a tinta do movimento acontece quando um talento de corpos e palcos se unem
é tudo uma linguagem que você pode aprender a ler
os corpos riscados ditando regras se bem que as regras do corpo são bem diferentes são outras e nem sempre estão ligadas
(as regras do corpo também têm suas exceções)
há um desconcerto na vida um desdobramento falho uma desdança toda errada muitos corpos não se entendem não se estendem a outros corpos corpos copos vazios pelas palavras todas amarradas
(será o corpo um copo o tempo todo vazio de palavra que não diz nada?) .
. "aprender é com os tolos eu desaprendo sempre para querer saber mais." super-ficial - Julio Carvalho . .
contrapoema
para o poeta os elementos são muito importantes areia ou terra pedras ou água de alguma forma até icebergs e rochas aparecem no poema quando escreve tornam-se obstáculos o poeta tem que ir contra ou através deles ou passar por cima deles senão o poema não existe .
. "Não estou nem sã nem salva." Natália Barros . . poemofilia
parece poeta, o pássaro que por sobre a velha escuridão manda um monte de palavras: achado o pouso descansa acabado em qualquer lugar seja felicidade, água ou rua deserta
termina abandonado o coitado no selo de alguma carta encostada
não sabe nada, o pássaro do voo mais que correto só quer espalhar poesia em cada ninho de página .
. "mas nossa reclamação tanto bate até que fura: a Seca d´Alma é tão dura quanto a Seca do Sertão" Paulo Barja .
. reza brevis
nada tive com isso era só uma oração a reza feita para querer toda liberdade de estar no mundo quieto quieto quieto feito um ninho apassarinhado
em cada coisa era um pedido um sossego e um desmanzêlo de ser nada mais que só vontade vontade de melhorar um dia de outro de um dia pro outro e ter um dia de todo mundo sem as mágoas das lagoas secas do verão passado quando os invernos se vão e os quereres são amarelos de outonos pedindo água e poucas flores de onde só queria voltar a ser um pouco mais igual a um jardim de infância antigo
sem muita coisa sem parada de meia estação mas com infinitas primaveras dentro das mãos .
. "Coragem de levantar e falar. Coragem para sentar e escutar." Rita Lee . . alter(ego)idade
qualquer medo do outro vir à tona e enroscar seus medos como se fossem galhos sem apartar sorrisos ou abraços que são bem poucos
(invasivo)
observar os espelhos invertidos reconhecer um cada outro um todos eus amontoados num lugar onde ninguém se entende
(abrasivo)
a cautela começa por dentro: as pessoas são víboras mas são vísceras cada órgão interno de cada bem ou mal de qualquer um são as reservas de cada um eu
. "Não tenho tempo: devoro feito fogo." Julio Carvalho . .
sapatos rôtos e outros calçados desnecessários
I
não quero apagar-me só sinto um susto quando olho do lado de dentro: sempre acontece o medo do dentro desconhecido desconhecendo o outro alguém (que é o medo maior)
II
não jogue uma palavra aos ossos: ela volta ressuscitada.
(um zumbi de verbos /faminto de órgãos da razão) .
. “Porquê sempre o dizer do amor tem que ser venerado? O ódio assim como o amor tem seu lado criativo também... Afinal não são as tensões do grande ódio que fazem melhor o grande amor?” Julio Carvalho . . torres
decaindo diversas vezes desde o tempo que cedeu durante sua ausência ninguém se perdeu até então poderia ser o ódio ou a revolta e todo o mal que te pertenceu na queda (as grandes quedas e seus resultados) a vida tem disso: gostodesgosto não é obrigação de ninguém nenhuma reconstrução traz alguém de volta isso que causa intensa dor e revolta é desamor e serve pra qualquer um
(hoje estou apenas exercendo livremente o meu direito de odiar) .
. sou ininteligível inimaginável enigma ímã Julio Carvalho . . yin yang
a linguistica é dura é o masculino da linguagem é matemática tabuleiro linguistico a literatura é parte feminina da linguagem assim a linguistica é árida a linguagem é água .
. “as pedras se encontram” reloaded by Marcelo Teodoro . .
overdosis poiesis II
alguns corpos respondem em separado como folhas de um livro aberto: só páginas fechadas conhecem a verdadeira intimidade
espero que um dia inventem uma caneta esferográvida de palavras
não é fácil não tudo isso jogado no chão não é fácil não tudo isso cuspido na mão não é fácil não fazer tudo isso sem nenhuma razão
quando do esboço de pequenas alegrias use os meio-sorrisos use as meias palavras com nenhuma reação
estética emocional: na falta do que sentir encheu o coração de ausências
muitas vezes prefiro esse outro lugar chamado poesia
declaração de duas pessoas quando longe: estamos lutando nossas saudades
o chão de uns é feito para o futuro enquanto o de outros é só um rabisco para a sobrevivência
as últimas coisas que eu quero antes de eu secar peço que peque um pouco mais mas com certa classe com a vontade de um cão no cio e com a leveza de um ladrão todo pecado é pouco todo cuidado é louco enquanto isso quero ser salvo por uma razão de milagres
o amor é cheio de vãos e vens são muitas as pinturas e várias demãos sempre mais de uma camada no amor o difícil é o outro lado do quadro não pintado do ser amado
degustação - não tem lógica a minha escolha - então encolha essa barriga e engula
não adianta ter um fio condutor se ele não pode ser enfeitado o fio limítrofe é o fio enfeitado do fim
quero um poema que funcione quero um fluxo de consciência concreto quero a paciência da palavra dispersa quero isso que a poesia faz: recomeçar eternamente um trabalho de palavras lentas .
"Quem tem um princípio perdeu seu início. Princípios são para iniciantes. Melhores são os Princípios Perdidos. Princípios Perdidos são aprendizados." Julio Carvalho
. câmbio, desdigo
eu ando bem bom de mim olhando as pequenas coisas as pequenas falas dos diasúteis
me expulso das complicações e das mutilações cada vez maiores invento um tempo de reconsiderar olho o pouco com os olhos cheios da vida dos outros entendo das cores das dores simétricas
- sem exceções
empresto um ritmo mais acalmado aclarado no pensamento em noites de maior solidão
acabo sabendo que de tantas corridas idas e vindas e suas vidas que algumas coisas de outros completam
estado que faz com que o medo do mundo dos outros desdigo talvez a outra palavra seja não julgo