quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

das criaturas...

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"Quero lhe implorar
Para que seja paciente
Com tudo o que não está resolvido em seu coração e tente amar.
As perguntas como quartos trancados e como livros escritos em língua estrangeira.
Não procure respostas que não podem ser dadas porque não seria capaz de vivê-las.
E a questão é viver tudo. Viva as perguntas agora.
Talvez assim, gradualmente, você sem perceber, viverá a resposta num dia distante."

Rainer Maria Rilke
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O cheiro de todas as criaturas

Eu nunca sei quando as histórias acabam. Por isso sempre fico preso entre uma e outra, ou entre nenhuma e nenhuma outra; entre um recomeço sem fim e um fim sem término.
Por isso prefiro nem acabar os anos. No ano passado esperei muito. Obtive um nada e um outro modo de viver que não era nem de perto o eu esperava. Esperava dias melhores e só tive desvios. Agora espero portas e almas entreabertas. Olho pelo buraco da fechadura com medo. E vivo a vida com algemas leves. Muitas vezes tenho vontade de me livrar delas.
Talvez tudo aconteça assim por eu ser mais espectador ou coadjuvante, do que protagonista da minha vida. Tenho essa enfermidade de não dar conta de quando alguma coisa acaba.
A noite chega, as pessoas se aproximam, tomam seus banhos e eu continuo lá: com a vida na cabeça. Tudo muito pensando aguardando alguma deixa. A deixa que nunca vem.
Sempre tive medo das coisas e das pessoas. Um pavor e uma falta de fé muito grande. Talvez por isso eu tenha criado minha própria companhia, onde anoto, escrevo; edito; e finalizo meus textos solitariamente. Escrevo só para mim uma tragicomédia poética.
A realidade me faz tão mal e me deixa tão fraco que fico, no fundo da vida, muitas vezes, a sussurrar poesia a mim mesmo. Às vezes não ouço. Quase sempre não ouço, porque sussurro baixo e minha voz é trêmula… Quem lê não entende, e logo, não responde.
Eu, furioso, me escondo de todos: do leitor; dos conhecidos; dos estranhos… Expulso todo mundo e ateio fogo a tudo. Eu sempre adorei o fogo como resposta. E ali dentro fico eu, junto aos pensamentos, remoendo tudo incendiado. Incandescente por dentro: queimando, queimando, queimando…

Livre adaptação de “O fim da estória” de Alejandro da Costa Carriles
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