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"velar o que não se revela a ninguém."
Paulo Neves
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naveg_antes de ontem
enquanto o corpo fosse tela em branco vivíamos água de aquarela
a tinta líquida que escorria pela pele ainda visível depois do orgasmo
inventávamos desenhos com nossos desejos
até que de tão intensos
ficavam marcados
nos braços largados em ondas do mar após amar
(sobre a mesma pele pintávamos tatuagens de gozo)
encontrávamos em cada dobra do corpo um sentido novo
vindo junto com o cheiro de um perfume breve
(um perfume do mar de amar a maresia)
existíamos dentro das explicações entre as leves mordidas
as mãos deslizavam com incoerência
até que perdidos o corpo a tela o braço e as dobras
nas águas nas aquarelas daquelas
restava
o vento nas velas aqui fora nas têmporas
(até então era só o que se ouvia)
enquanto soprávamos os sonhos
o barco do dia
corria
ninguém sabia que quadro pintava
nem se interessava
em saber
(o único cuidado que queríamos ter é o de não acordar)
e cuidávamos um do outro como se soubéssemos
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quinquagésimo quinto mínimo
Há 13 anos
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