sábado, 18 de outubro de 2014

dos inflamáveis...

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"Não há silêncio bastante
Para o meu silêncio.
Nas prisões e nos conventos
Nas igrejas e na noite
Não há silêncio bastante
Para o meu silêncio.
....
O não dizer é o que inflama
E a boca sem movimento
É o que torna o pensamento
Lume
Cardume
Chama"

Hilda Hilst
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basta parar de falar de amor que ele desaparece
é como arranhar bolhas de sabão
ou como
tentar esconder a tristeza dos olhos
com a luz mais antiga que podemos ver
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tinha perdido o hábito de escrever,  
mas pensar em organizar as palavras em ordem 
sempre surtia um efeito tranquilizador sobre o seu espírito,  
especialmente quando estava naquele estado, 
sentindo um mal- estar generalizado,  
um incômodo em algum lugar impreciso do corpo, 
vítima de algum misterioso vírus urbano. 
talvez o universo precisasse apenas de uma sugestão,  
um pequeno impulso, para colocar em marcha 
suas engrenagens e continuar, por pura inércia,  
organizando todas as coisas, uma a uma, 
até que tudo voltasse a fazer sentido outra vez 
ou então as palavras se organizassem em algum poema.
e o sentido da vida teria sua continuidade mantida.
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tem dias que eu não quero a festa dos outros
tem dias que eu quero a minha festa só
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perdi o trem
perdi o trilho
e o caminho
desembestou
não tem fumaça
não tem pedaço
de nada
é um caminho
lugar
algum
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deixar
você
esquecer
a lágrima
devolver
os encontros
cortar as músicas
guardar
os meus sustos
em blues
nos castelos
que não
existem
mais
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e sem
você
longe de você
tão distante de você
é a palavra mais
comprida
que existe
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minha alma tanto tempo na gaveta
que está criando mofo
desamor
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minha viagem é um passaporte só comigo
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você não entende
nada
de poesia
e acha
que tudo
é
tristeza
aqui é o não falando
do sim
ou pode ser
o sim
falando do não
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não quero morrer
para não cometer
um final feliz
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tiro
e
queda
foi mais
na queda
que te
encontrei
o tiro?
saiu
pela
culatra
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sou um indivíduo tão comum
um dia sou eu
no dia seguinte sou outro
sem destino
sou qualquer um
fora de mim
do lado de dentro do mundo
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enquanto você cria raízes eu crio asas
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