segunda-feira, 6 de outubro de 2014

das confissões...

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"Confissão: meu mal é o mal do poeta.
É o mal do idiota. 
Eu lhe vejo tijolos e principio desde já a fantasiar castelos."
Sammis Reachers
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não presto
nunca prestei para ser sequência
sou um a cada hora do dia
tentaram me colocar numa forma
o máximo que conseguiram
foi me ver escapando pelas frestas
assustaram
e me reacordaram de um sono de gilete
tão afiado foi o susto
que me aumentaram o tamanho dos dias
do mesmo tamanho de certas saudades
não presto
não sei se algum dia vou prestar
tentei óculos escuros nas minhas perdas
e mesmo assim ainda enxergo mal
queria ter coração algumas veses rude
só consegui lacrimejar até meus pés
estacionarem sobre poças
tenho fomes
e só presto para o uso geral e irrestrito
do anormal dos anos que ainda me faltam
enquanto isso
como pessoas
as esfinges devoram seus enigmas
enquanto isso
sobreviventes
dos meus circos e das minhas próprias guerras
enquanto isso
é quando descubro
que o essencial é me reconhecer em todos os afetos
e seguir carregando as minhas marcas
sem cicatrizes
então por isso nunca me contenho
e deixo que rolem as necessárias pedras
nos rios da minha fala
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da poeira das coisas
e do amor líquido
nasce uma poesia petrificada
enquanto as cores da tarde
agonizam sob meus olhos
fixadas no horizonte chumbo
(um poeta é mais que horizontes)
e quando chega a noite
a certeza do esquecimento
provoca
um resto de azul
silêncio marítimo que me devora
um silêncio tecido de dor e violinos
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dias
passando pela vida
inutilmente
lúcido
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